Nenhum país do mundo cometeu a irresponsabilidade de entregar o controle de sua empresa de correios a grupos privados, como queriam Bolsonaro, Guedes, Mattar e, agora, quer a mídia entreguista
Na segunda-feira (29), os porta-vozes do mercado financeiro voltaram a fazer apologia da privatização dos Correios. Entre eles, está o editorial do jornal O Globo, que afirma que a “solução para os Correios é privatizar enquanto é tempo”.
Ou seja, eles querem vender uma empresa que é estratégica para o país, que atende a mais de 5 mil municípios do Brasil – diferentemente das privadas que só atuam onde é lucrativo – e rendeu muito mais ao Tesouro nos últimos 15 anos anos do que precisou de aportes de dinheiro público. Além disso, são os Correios que levam vacinas, programas sociais, urnas eleitorais e até serviços bancários para as regiões longínquas e de difícil acesso do país.
EMPRESA LUCRATIVA
Nos últimos quinze anos, conforme destaca o economista Paulo Kliass, a empresa apresentou resultado positivo em dez e déficit em suas contas em cinco ocasiões: no biênio 2015/2016 e nos anos de 2022, 2023 e 2024. “Isso significa um total de perdas acumuladas equivalente a R$ 9,8 bilhões a valores corrigidos. Caso os resultados positivos sejam somados e trazidos a valor presente, eles representam R$ 12,6 bi. Assim, para o conjunto do período analisado, o resultado líquido dos Correios é de um saldo positivo de R$ 2,8 bi”, esclarece o especialista.
Cabe lembrar que os Correios transferiram quantias bilionárias ao Tesouro, por meio da distribuição de lucros e dividendos. Esses repasses – com percentuais que muitas vezes ficaram acima do mínimo de 25% do lucro líquido definido pelo estatuto da empresa – poderiam ter sido usados para o aumento da competitividade, da modernização e na valorização dos servidores da empresa. Mesmo tendo vivido um período no vermelho, durante a recessão, a empresa retomou já em 2017 a trajetória de resultados positivos em seus balanços. Os Correios obtiveram lucro de 667 milhões de reais em 2017 e 161 milhões em 2018. Estudo da Controladoria Geral da União (CGU) de 2017 concluiu que houve decisões equivocadas de governo que prejudicaram a empresa nos anos de crise e que vieram a comprometer o seu funcionamento futuro.
Os Correios transferiram à União aproximadamente R$ 1,9 bilhão entre 2000 e 2010. Nos três anos seguintes, os valores subiram para R$ 2,9 bilhões. O resultado desses repasses foi a redução do caixa dos Correios. Em 2011, havia R$ 6 bilhões. Em 2013, caiu para R$ 4,5 bilhões. Em 2015, já estava em R$ 1,9 bilhão. Somente em 2011, foi repassado o valor de R$ 1,7 bilhão. Foi o terremoto recessivo, iniciado no segundo semestre de 2014, e que foi até 2016, e o aumento das retiradas de recursos de seu caixa que levaram as contas dos Correios para o vermelho.
RETIRADAS EXAGERADAS
Essa mesma auditoria feita pela CGU mostrou que as retiradas ficaram bem acima dos 25% definidos nos estatutos, com “a destinação de dividendos na ordem de 50% do lucro, por determinação da União, desde o exercício de 2006”. Em 2013, os Correios adiantaram ao governo R$ 300 milhões, 97% do lucro que teria naquele ano, no total de 308,2 milhões. Segundo a CGU, já havia tendência de queda no lucro operacional em 2011, mas a Secretaria do Tesouro Nacional entendeu na época que a situação econômica dos Correios era confortável.
Como já foi dito, apesar desses saques irresponsáveis em suas contas, os Correios voltaram a dar lucro logo em seguida, já em 2017 e 2018. Isso mostra que a empresa é saudável, que além de ser estratégica para o país, pode continuar abastecendo os cofres do Tesouro com parte de seus lucros, como determina o estatuto social da empresa.
Os Correios estarem precisando de aportes momentâneos é resultado de uma crise que não foi semeada pela empresa, mas pelos governos neoliberais, que atuaram para desmontar a estrutura e a capacidade de investimento da empresa, visando abrir caminho para iniciativa privada estrangeira no segmento de e-commerce (a parte mais valiosa do ramo de encomendas) e para acelerar a privatização dos Correios. Aliás, esses governos não fizeram isso só com os Correios, fizeram também com a Petrobrás, a Eletrobrás e outras. Querer privatizar os Correios é de uma irresponsabilidade total com o país e com os seus funcionários.
MONOPÓLIOS E SUPEREXPLORAÇÃO
Tecer loas à suposta “eficiência” e “lucratividade” dos monopólios privados estrangeiros que atuam neste setor é compactuar com a superexploração e a deterioração das relações de trabalho no país, afinal, a maioria dessas empresas se utiliza de “entregadores” sem nenhum vínculo empregatício. Elas superexploram os chamados “autônomos”, ou seja, trabalhadores semi-escravizados, que trabalham sem limites de horário, sem nenhum direito e sem futuro. O país não pode compactuar com esse tipo de situação.
Por outro lado, os Correios, além de ser um patrimônio nacional, emprega mais de 100 mil brasileiros em condições muito mais dignas do que os monopólios estrangeiros. E mesmo essas empresas, ao não se instalarem em lugares distantes – por não ser lucrativo – se utilizam muitas vezes dos próprios Correios para atender seus clientes. E as remessas dos Correios, em quem os brasileiros mais confiam, segundo todas as pesquisas, também exercem uma função econômica, a de balizar os preços de monopólio que essas empresas cobrariam por seus envios, caso não existisse a empresa pública atuando no setor.
Por fim, temos que lembrar também que quase nenhum país do mundo cometeu a irresponsabilidade de entregar o controle de sua empresa de correios a grupos privados, como queriam Bolsonaro, Guedes, Mattar e, agora, quer a mídia servil. Nem mesmo os Estados Unidos, o país dos cartéis e dos monopólios privados, abriu mão do caráter público de seus Correios. Lá como aqui, há monopólio apenas da área postal, sendo livremente permitida a presença de empresas privadas no setor de entrega de encomendas.
Foto: Divulgação dos Correios
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