Trump exige rendição de Gaza, travestida de ‘acordo de paz’

Genocida Netanyahu e seu cúmplice Trump pensam impor rendição aos palestinos (Evan Vucci - AP)

A apresentação de um “plano para Gaza” pelo presidente Donald Trump, tendo ao lado o chefe do genocídio em Gaza e dos pogroms na Cisjordânia, ‘Bibi’ Netanyahu, foi recebida com reações díspares e ainda iniciais no mundo inteiro que, como expressado na histórica saída em massa das delegações na 80ª Assembleia Geral da ONU, anseia pelo cessar-fogo em Gaza, restauração da ajuda humanitária e fim da fome, libertação de reféns e presos palestinos, retirada de Israel e um Estado Palestino soberano e viável vivendo em paz ao lado de Israel.

Do que já foi publicado sobre o plano, que estabelece um “governo tecnocrático” sob supervisão de um “Conselho da Paz” encabeçado pelo próprio Trump, não fica claro no que a reconstrução de Gaza proposta difere da anterior, que ficou malvista como a “Riviera sob Cadáveres”.

Um dos aspectos mais polêmicos do plano, segundo a mídia, será a presença, no “Conselho”, do criminoso de guerra [do Iraque] e ex-premiê britânico, Tony Blair. Ainda não se conhece qualquer nome representativo dos árabes ou dos palestinos.

Ou como a ONU iria carimbar o “Protetorado sob Trump” e se seria nos moldes do Protetorado britânico.

Também não se sabe quem constituiria a força de intervenção em Gaza, o que não é uma questão menor, tendo em vista os precedentes, nem a quem se reportaria na ONU. Força cujo objetivo mais explícito seria “desarmar o Hamas” e “destruir os túneis”.

Chamado a compor o “comitê de acionistas” do Plano Trump, Blair o elogiou como “ousado e inteligente”, argumentando que poderia “aliviar” a população de Gaza e, ao mesmo tempo, garantir a “segurança de Israel a longo prazo”.

A Autoridade Nacional Palestina, com sede na Cisjordânia, expressou sua prontidão para “trabalhar com os Estados Unidos, países da região e parceiros para acabar com a guerra de Gaza por meio de um acordo abrangente”, informou a Al Jazeera, citando comunicado da agência de notícias palestina WAFA.

A Autoridade Palestina também pediu mecanismos para proteger o povo palestino, garantir o respeito ao cessar-fogo e a segurança de ambas as partes, impedir a anexação de terras e o deslocamento de palestinos e interromper ações unilaterais que violam o direito internacional, de modo a levar à retirada israelense total e à unificação de terras e instituições palestinas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental”.

A Resistência Islâmica Palestina (Hamas) anunciou que está revisando de “boa fé” o plano de 20 pontos de Trump, que foi encaminhado a eles pelo Catar e pelo Egito, principais mediadores, mas não se submeteu ao ultimato de “72 horas” de Trump.

A última vez que o Hamas correu para responder a Trump, Netanyahu cometeu um ataque de decapitação em pleno país mediador, como se sabe.

DESCONFIANÇA GRASSA EM GAZA

Há profunda desconfiança em Gaza, registrou o portal Al Mayadeen: “moradores deslocados disseram que o plano estava distante da realidade e não abordava os direitos palestinos”. “Está claro que este plano não é realista”, disse à AFP Ibrahim Joudeh, um programador de computador de 39 anos deslocado de Rafah.

Outro morador deslocado, Abu Mazen Nassar, descreveu a iniciativa como manipulação. “O que significa entregar todos os prisioneiros sem garantias oficiais para acabar com a guerra? Nós, como povo, não aceitaremos essa farsa.”

“Enquanto alguns expressaram otimismo cauteloso, outros perderam completamente a esperança. ‘Se houvesse uma intenção real de parar a guerra, eles não teriam esperado tanto tempo’, disse Najwa Muslim, uma dona de casa da Cidade de Gaza. ‘É por isso que não acredito em nenhuma de suas palavras’.”

O secretário-geral da pequena Jihad Islâmica Palestina (PIJ), Ziyad al-Nakhalah, descartou o plano como “nada além de um acordo completo entre Estados Unidos e Israel” e “uma receita para a agressão contínua contra o povo palestino”.

Ele alertou ainda que a iniciativa visa impor realidades políticas por meio de Washington, após Israel não ter conseguido garanti-las militarmente, descrevendo-a como “uma receita pronta para incendiar toda a região”.

“DISPOSIÇÕES VAGAS E SEM GARANTIAS”

Preliminarmente, um porta-voz do Hamas, Mahmoud Mardawi, observou que, conforme o que está na mídia, os pontos declarados do plano de Trump “estão próximos da visão israelense”.

Ele enfatizou que as disposições do plano de Trump são “vagas e carecem de garantias ” .

Sobre a declaração de Trump sobre a desmilitarização da Faixa de Gaza, ele disse que as armas da Resistência nunca foram usadas para atacar ninguém, mas apenas pela liberdade e independência palestinas.

Criticando o plano, ele disse que o que aconteceu em Washington foi uma tentativa de sufocar o ímpeto internacional e o crescente reconhecimento do Estado palestino. Mardawi alertou que o Hamas não aceitará nenhuma proposta que não inclua o direito do povo palestino à autodeterminação e à proteção contra massacres.

OUVIR OS ÁRABES E OS PALESTINOS

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que o plano do presidente norte-americano para Gaza só poderá ser avaliada quando as opiniões de todas as partes forem conhecidas.

“Não vimos esse plano; apenas ouvimos comentários sobre o que ele implica”, afirmou durante uma coletiva de imprensa. “Uma decisão final só poderá ser tomada quando soubermos a opinião de todos os nossos vizinhos: Palestina e Israel e, em geral, dos países da região, da Liga Árabe, do Conselho de Cooperação do Golfo e, acima de tudo, dos próprios palestinos”, explicou.

O chanceler também declarou que a Rússia não foi convidada a participar do contingente militar internacional planejado para ser implantado em Gaza após o fim do conflito.

Lavrov observou que as declarações de Netanyahu, de que Tel Aviv manterá o controle de segurança no enclave “não se correlacionam com a criação de forças internacionais” prevista no plano de Trump.

Oito nações árabes e muçulmanas – Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Indonésia e Paquistão – emitiram uma declaração conjunta na terça-feira se comprometendo a “se envolver de forma positiva e construtiva com os Estados Unidos e as partes para finalizar o acordo e garantir sua implementação”.

Citando um acadêmico do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Xangai, o jornal chinês Global Times observou que o “órgão governamental” proposto no plano dos EUA “se assemelha à administração de estilo colonial estabelecida pela Grã-Bretanha durante seu Mandato da Palestina”. O GT acrescentou, ainda, que, segundo analistas, “o plano omite o termo ‘solução de Dois Estados’”.

SEM IMPUNIDADE?

Ao aceitar o “Plano Trump”, segundo a mídia, Netanyahu impôs o requisito de que a Autoridade Palestina desista de qualquer ação judicial contra Israel – ou seja, quer fugir da punição pela Corte Internacional de Justiça e pelo Tribunal Penal Internacional, onde já há um mandado de prisão o esperando.

Em Israel, políticos de oposição saudaram o plano, ao qual os fanáticos Gvir e Smotrich se opõem veementemente. Para a oposição israelense, com o acordo deveriam ser convocadas eleições em Israel.

Nesta terça-feira, Netanyahu divulgou uma mensagem de video  asseverando que o exército israelense “permanecerá na maior parted a Faixa de Gaza”. O que contradiz o “plano”, que assevera que “Israel não ocupará nem anexará Gaza” e que “não haverá anexação da Cisjordânia a caminho de um futuro estado palestino contíguo”.

RÉDEA LIVRE PARA O GENOCIDA, CHANTAGEIA TRUMP

Trump, principal fornecedor de armas, dinheiro e vetos na ONU a Israel, ameaçou os palestinos que, caso não se rendam, vai dar rédea livre ao genocida.

Apesar dos arreganhos de Trump, a vida também não está fácil para Netanyahu, cujo papel de tornar Israel em um Estado pária aos olhos do mundo, diante do genocídio e fome em massa, como mostrado na 80ª Assembleia Geral da ONU, já é sua herança. Não há como Israel ser simultaneamente o Estado dos herdeiros do Holocausto, e o Estado que comete genocídio contra os palestinos. E até Netanyahu começa a profetizar o futuro de Israel como um Estado-gueto.

Nesta terça-feira, as tropas coloniais israelenses adicionaram mais 40 palestinos à matança que já dura 602 dias e que oficialmente já matou 66.055 palestinos e feriu e mutilou outros 168.346, na maioria, mulheres e crianças. Pelo menos 15 foram mortos na fila da comida, perto de um dos quatro centros de distribuição. Na véspera, os fascistas somaram à destruição do que era o mais alto prédio residencial em Gaza, a Torre de Meca, ao que já passa de 80% de terra arrasada.

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