Trump convoca generais a fazerem das cidades americanas “campos de treinamento” contra civis

“É uma guerra interna”, diz ditador, prometendo colocar ordem em “San Francisco, Chicago, Nova Iorque e Los Angeles”, “cidades perigosas governadas pelos democratas da esquerda radical”  

Falando a 800 generais e almirantes na base de Quântico, vindos especialmente para saber das novas desde a Casa Branca, o presidente Trump recomendou aos seus chefes militares fazer das cidades americanas “campos de treinamento”, contra o que denominou de “inimigo interno” e “invasão interna”.

“Estamos sob invasão interna, não diferente de um inimigo estrangeiro, mas mais difícil em muitos aspectos, porque eles não usam uniformes”, asseverou Trump, advertindo sobre o “inimigo interno”.

Sobre a mobilização da Guarda Nacional contra as cidades que repudiam a caçada aos imigrantes que desencadeou nesse segundo mandato, Trump disse que “isso também é uma guerra: é uma guerra interna”.

As cidades “governadas pelos democratas da esquerda radical (…)são lugares perigosos. Vamos colocá-las em ordem uma por uma”, convocou.

“Eu disse a Pete que deveríamos usar algumas dessas cidades perigosas como campos de treinamento para nosso exército”, disse Trump.

“Iremos para Chicago muito em breve, que é uma grande cidade com um governador incompetente” (o democrata JB Pritzker, de Illinois).

Trump também anunciou que emitiu uma ordem para criar “forças de reação rápida” militares para “conter a agitação civil”. O que viola a Lei de Posse Comitatus, de 1878, que proíbe o uso de tropas para segurança pública nos Estados Unidos.

Desde a posse, além da caçada a imigrantes e à “esquerda radical”, Trump desencadeou operações mortais no Caribe, no litoral da Venezuela contra embarcações que disse transportarem drogas, mas sem apresentar qualquer prova, e realizando execuções extrajudiciais. Também bombardeou o Irã e o Iêmen – quanto a este, depois que um porta-aviões dos EUA quase foi posto a pique no Mar Vermelho, Trump declarou “vitória” e mandou o porta-aviões ir pescar noutro lugar.

“MILITARES GORDOS”

A exortação de Trump, que, aliás, só governa por decreto, se seguiu ao carão passado aos generais pelo ex-apresentador da Fox News, agora “Secretário da Guerra”, contra os “militares gordos” e exaltando a “letalidade” e o “espírito guerreiro”.

O Fox-boy também avisou que, daqui para frente, acabou essa história de “justiça social”, “mudança ambiental” e “politicamente correto”, e implicitamente deu por encerradas investigações sobre psicopatas e assediadores nas fileiras armadas.

“Chega de reclamações frívolas, chega de reclamações anônimas, chega de reclamações repetidas, chega de manchar reputações, chega de espera interminável, chega de limbo legal, chega de desviar carreiras, chega de pisar em ovos!”, anunciou.

Sobre a ridícula perfomance de Hegseth, o cientista político Seth Masket expressou espanto com o fato dele “convocar todos os generais dos EUA de todo o mundo, com grandes despesas, [só] para envergonhá-los”

“DELENDA PORTLAND”

Em paralelo, a Casa Branca emitiu um comunicado à imprensa no mesmo dia intitulado “Presidente Trump distribui recursos federais para esmagar o terrorismo violento da esquerda radical em Portland”, acrescentando que “o reinado de terror da esquerda radical naquela cidade agora termina”. O que está acontecendo naquela cidade não é protesto, mas “anarquia premeditada que deixou a cidade marcada por anos”.

Entre os “inimigos internos” da “esquerda radical”, uma categoria ampla que inclui todos, desde governadores, prefeitos e legisladores democratas até manifestantes e ativistas – observou o jornalista David Brooks -, a Casa Branca está acusando a assim chamada “Antifa” de ser o grupo militante que lidera as “guerras” urbanas.

A Antifa  – acrescentou Brooks – não existe como uma organização, e é um termo usado por alguns ativistas que se identificam como “anarquistas” para descrever uma colcha de retalhos de grupos que se autodenominam “antifascistas” ou “antifas”.

Em seu comunicado, a Casa Branca acusa os protestos violentos em Portland de serem liderados pela “Antifa”, incluindo a imposição de um “cerco” aos escritórios do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) na cidade. Além disso, relata uma série de incidentes violentos desde maio, que atribui à Antifa.

Tanto o prefeito de Portland, Keith Wilson, quanto a governadora do Oregon, Tina Kotek, juntamente com uma nova coalizão de mais de 12 prefeitos da região, se opõem ao envio de forças militares e às medidas anti-imigrantes da Casa Branca. “Não há insurreição, não há ameaça à segurança nacional e não há necessidade de enviar tropas para nossa principal cidade”, declarou Kotek no sábado.

No sábado passado, quando Trump anunciou a intervenção em Portland, apenas quatro manifestantes, um deles fantasiado de galinha, estavam nas ruas em frente ao escritório do ICE, assinalou Brooks.

Refutando a histeria trumpista de “Portland sob cerco de radicais violentos”, os moradores postaram inúmeras imagens nas redes sociais da cidade incluindo uma fila de pessoas do lado de fora de um café esperando por seu chá, um mercado urbano ao ar livre lotado e imagens panorâmicas de parques e do centro da cidade sem sinais de conflito.

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