Gregos protestam contra lei que estica jornada de trabalho para 13h

Trabalhadores tomaram as ruas da cidade portuária de Tessalônica (Sakis Mitrolidis/AFP)

Milhares de gregos foram às ruas de Atenas, Tessalônica e outras grandes cidades no dia da greve geral contra o projeto de lei que impõe uma jornada de trabalho de 13 horas e uma semana de 6 dias. “O projeto de lei das 13h nos traz de volta à Idade Média”, denunciava faixa no protesto.

As manifestações e a greve de 24 horas que paralisou a Grécia na quarta-feira (1º) foram organizadas pelas centrais sindicais ADEDY (servidores públicos), GSEE (trabalhadores do setor privado) e Pame, que exigem a retirada do pacotaço, jornada de trabalho de 7 horas, 5 dias por semana e a restauração do 13º e do 14º salário dos servidores públicos.

Segundo os dados do Eurostat, o órgão de estatística da União Europeia, os trabalhadores gregos já trabalham quatro horas a mais que a média da UE: 39,8 horas e 35,8 horas, respectivamente. Além de o salário ser um dos mais baixos da UE.

A Pame classificou o projeto de lei de “escravidão moderna”. “Dizemos não à jornada de trabalho de 13 horas. Exaustão não é desenvolvimento, a resistência humana tem limites, dizemos não à fragmentação dos tempos livres”, afirmou em comunicado a GSEE.

Apesar da jornada de trabalho de 13 horas não ser formalmente obrigatória, as centrais sindicais denunciam que os trabalhadores não terão como escapar das condições de trabalho exaustivas que forem exigidas pelos empregadores.

Ainda mais quando o governo neoliberal ataca os acordos coletivos, buscando deixar os trabalhadores à mercê de cada empregador. Entre as categorias que tiveram maior participação na greve geral, estão servidores públicos, ferroviários e portuários.

A Grécia ainda paga o preço de uma prolongada crise da dívida na qual a economia encolheu mais de 25% – e da austeridade imposta pela troika (BCE, Comissão Europeia e FMI) para salvar bancos alemães e franceses e fundos norte-americanos entupidos de títulos desvalorizados, os salários permanecem bem atrás de outros Estados-membros da UE mas o custo de vida têm aumentado dramaticamente.

Situação que se reflete nas pesquisas, em que 70% consideram o governo como “corrupto” e “encobrindo escândalos”.

No ano passado, o governo causou protestos semelhantes ao impor uma semana de trabalho de seis dias, um esquema supostamente “voluntário” aplicado a empresas privadas de turismo e outros setores que prestam serviços 24 horas por dia. Medida que as centrais condenaram como “bárbara”.

A versão grega da “Ponte para o Futuro” agrega agora essa “jornada voluntária de 13 horas”, defendida cinicamente pelo ministro do “Trabalho”, Niki Kerameus, que assevera que só ocorrerá em “circunstâncias excepcionais”. E que dará aos jovens, que muitas vezes trabalham em dois empregos para sobreviver, “a capacidade de dedicar mais horas a um único empregador”.

No ato, os manifestantes aplaudiram Panos Ruci, pai de uma vítima de 22 anos, Dennis, no acidente de trem de Tempi, que está em greve de fome há 17 dias fora do Parlamento, exigindo Justiça para seu filho.

Na Praça Syntagma, em Atenas, Makis Kontogiorgos, sindicalista de uma grande empresa de tecnologia, disse ao jornal inglês The Guardian : “Os gregos já são forçados a sobreviver com alguns dos salários mais baixos da Europa e agora estão nos pedindo para trabalhar efetivamente a maior parte do dia. As pessoas não podem ser empurradas assim; em algum momento haverá uma explosão.”

“Enquanto o resto da Europa fala sobre uma semana de trabalho mais curta, na Grécia, no século 21, trata-se de horas mais longas e salários que não refletem o custo de vida”, disse Katerina Andritsopoulou, funcionária de uma empresa privada de manufatura. “Estamos aqui porque há muitas pessoas vulneráveis por aí que não poderão negociar com os empregadores depois que leis como essa forem aprovadas.”

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *