Após negociações em Sharm El Sheik, sob mediação do Egito, Catar, Turquia e EUA, palestinos e israelenses chegaram à primeira fase de um cessar-fogo em Gaza com retirada da ocupação de Israel e troca de prisioneiros, nesta quarta-feira (8).
O acordo inclui “a libertação iminente de todos os prisioneiros israelenses e a retirada das forças israelenses para uma linha acordada como os primeiros passos para uma paz forte e duradoura”, afirmou Trump ao noticiar a chegada de um entendimento .
Minutos depois, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, disse que um acordo foi alcançado sobre “todas as disposições e mecanismos de implementação” da primeira fase do plano de cessar-fogo, “que levará ao fim da guerra, à libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos e à entrada de ajuda”. “Os detalhes serão anunciados posteriormente”, ele acrescentou.
O vice-embaixador na Palestina na ONU, Majed Bamya, marcou a ocasião com um post de uma palavra no X: “Finalmente…”. Em resposta a um comentário parabenizando o embaixador, ele respondeu, dizendo: “Eu mal posso acreditar”.
Em sua declaração, o Hamas disse que “após negociações responsáveis e sérias conduzidas pelo movimento e pelas facções da Resistência Palestina(…), com o objetivo de chegar a um cessar-fogo para parar a guerra genocida contra nosso povo palestino e a retirada da ocupação da Faixa de Gaza, (…) o Hamas anuncia chegar a um acordo para acabar com a guerra em Gaza, a retirada das forças de ocupação israelenses, a entrada de ajuda e a troca de prisioneiros.
O movimento expressou “profundo apreço pelos esforços dos mediadores irmãos no Catar, Egito e Turquia” e também “do presidente dos EUA, Donald Trump”, buscando “interromper permanentemente a guerra e garantir a retirada total do exército israelense de Gaza”.
Ainda alerta para o possível descumprimento, por Netanyahu, do acertado, Hamas pediu ao “aos países fiadores do acordo e a várias partes árabes, islâmicas e internacionais que forcem o governo de ocupação a implementar totalmente as cláusulas do acordo e não permitir que ele renegue suas promessas ou atrase a implementação do que foi acordado hoje”.
A declaração também prestou homenagem à firmeza do povo palestino, saudando “nosso grande povo na Faixa de Gaza, Jerusalém, Cisjordânia e no exílio, que exibiu posturas sem precedentes de dignidade, heroísmo e honra ao confrontar o projeto de ocupação fascista que o visa e a seus direitos nacionais”.
O Hamas afirmou que “os sacrifícios de nosso povo não serão em vão, e continuaremos comprometidos a não abandonar os direitos nacionais de nosso povo até que a liberdade, a independência e a autodeterminação sejam alcançadas”.
O correspondente da Al Jazeera em Gaza, Hani Mahmoud, disse que houve um suspiro coletivo de alívio com as notícias da população em apuros da Faixa de Gaza. “Este é um momento histórico – e em uma nota pessoal, um alívio”, disse ele.
As famílias dos assim chamados reféns saudaram o anúncio, após terem, por meses, estado nas ruas de Israel pela volta de seus filhos e para exigir de Netanyahu o acordo de cessar-fogo.
Em um post no X, o primeiro-ministro israelense, agora disse que era “um grande dia para Israel” e agradeceu a Trump. Ele acrescentou que convocaria seu governo para aprovar o acordo na quinta-feira e trazer os reféns “para casa”. Na véspera, seu ministro da Segurança, Itamar Ben-Gvir, havia ensaiado um pogrom na Mesquita de Al Aqsa.
Escrevendo na plataforma de mídia social Truth social, Trump, que antes dizia se juntar a Netanyahu para fazer de Gaza uma Riviera sobre cadáveres, disse que o acordo : “significa que TODOS os reféns serão libertados muito em breve, e Israel retirará suas tropas para uma linha acordada como os primeiros passos em direção a uma paz forte, durável e duradoura”.
A repórteres Trump disse que poderia “ir para o Oriente Médio antes que os reféns sejam libertados”, possivelmente visitando o Egito. Quando perguntado se ele consideraria visitar Gaza, ele respondeu: “Eu poderia, mas ainda não tomei uma decisão específica”.
O controverso plano de 20 pontos para acabar com a “guerra em Gaza” foi apresentado na semana passada por Trump e tinha, como primeiro ponto, tornar Gaza “uma zona livre de terrorismo desradicalizada que não representa uma ameaça para seus vizinhos”.
Previa ainda uma “força internacional de estabilização” para operar como forças de paz no enclave, um governo interino de transição composto por tecnocratas palestinos, além de estabelecer, explicitamente, que não haverá deslocamento forçado de palestinos de Gaza.
O plano inclui, ainda, um “Conselho de Paz”, com poderes sobre o governo interino, a ser presidido por Trump e apoiado em Tony Blair, o que vem sendo criticado como análogo ao mandato colonial britânico na Terra Santa.
De acordo com a Al Jazeera, desde o início da guerra, mais de 238.000 palestinos foram mortos, feridos ou estão desaparecidos – com grande parte da infraestrutura de Gaza, incluindo casas, escolas, universidades, mesquitas, igrejas, espaços públicos e centros de saúde, reduzida a escombros.”
ACORDO PARA DETER GENOCÍDIO
“Há um quase consenso entre estudiosos e especialistas em genocídio de que a guerra de Israel em Gaza constitui um genocídio, com inúmeras organizações de direitos humanos e um comitê de inquérito da ONU chegando à mesma conclusão.”
Desde o início da guerra, o Hamas deixou claro que sua principal demanda é o fim permanente da guerra e a retirada total de Israel de Gaza. Essas demandas não foram atendidas quando Israel quebrou o acordo de cessar-fogo anterior e retomou a guerra em março, sabotando todas as tentativas de entendimento até aqui. Até a declaração de agora de que assinava o acordo, Netanyahu ainda bravateou de que Israel não se retiraria de Gaza.
O que já está sob investigação da Corte Internacional de Justiça da ONU, por solicitação da África do Sul. Além de haver, no Tribunal Penal Internacional, um mandado de prisão esperando Netanyahu. Também os organismos adequados da ONU revelaram que Gaza está sob fome catastrófica, no estágio 4 de 5, devido ao bloqueio a alimentos, remédios e combustível.
Em setembro, na Assembleia Geral da ONU, Netanyahu ficou discursando sozinho, com o plenário praticamente esvaziado em repúdio à sua presença, ao genocídio e ao apartheid, tenha permanecido apenas oito de 193 delegações. 80% dos Estados membros da ONU já reconhecem a Palestina. Nos últimos dias, no mundo inteiro manifestações de milhões tomaram as ruas em protesto contra o Estado pária e em solidariedade à Flotilha que buscava chegar a Gaza para levar ajuda aos palestinos.
O Hamas apresentou a lista de 250 prisioneiros palestinos que estão detidos nas masmorras de Israel sentenciados à prisão perpétua, para serem imediatamente liberados, incluindo o Nelson Mandela palestino, Msrwan Barghoutti, com quem o Hamas se declara comprometido.