Israel bombardeia Gaza no dia em que cessar-fogo é anunciado

Fumaça das bombas israelenses seguiram subindo em diversos pontos da Faixa de Gaza (Abdel Kareem Hana/AP)

Morticínio prosseguiu mesmo após anúncio do acordo

Israel seguiu perpetrando ataques contra civis palestinos na manhã desta quinta-feira (9), com a agência de notícias Reuters descrevendo “grandes colunas de fumaça foram vistas subindo no ar enquanto aeronaves podiam ser ouvidas acima”, apesar da confirmação, por todas as partes na véspera, inclusive Trump, de ter sido alcançada a primeira fase do cessar-fogo em Gaza nas negociações em Sharm El Sheik.

Os ataques foram desfechados nas regiões norte e central do enclave. Segundo a agência de notícias palestina Wafa, são 17 mortos desde as primeira horas do dia. Dez deles, recuperados sob os escombros, ou sucumbiram a ferimentos sofridos em ataques anteriores.

Um palestino foi morto e vários outros ficaram feridos por tiros israelenses nas proximidades da cidade de Hamad, a noroeste de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. Todas as vítimas foram transportadas para o Complexo Médico Nasser. Outro foi morto em um ataque aéreo separado contra o centro de Khan Younis.

Uma terceira pessoa foi morta e outras ficaram feridas quando um drone israelense atacou o bairro de Al-Bayouk, no centro de Khan Younis. Uma fonte do Hospital Batista Al-Ahli confirmou que vários civis ficaram feridos quando um drone israelense disparou contra a Escola Al-Yarmouk, no oeste da Cidade de Gaza. Outros ataques aéreos também atingiram o bairro de Al-Zaytoun, no leste da cidade.

Sem qualquer sentido militar, tais ataques só podem ser vistos como expressão da doentia pretensão do regime de Israel de estar acima da lei internacional e sua crença na impunidade, enquanto, aos olhos do mundo, se tornou sinônimo de genocídio, esfomeamento e apartheid.

Ou, sob o ponto de vista da Corte Internacional de Justiça, que investiga Israel por acusação de genocídio, tratam-se de novas autoincriminações.

Os ataques também levantaram preocupações sobre violações nas primeiras horas críticas de implementação do cessar-fogo, além de lançarem dúvidas sobre a durabilidade do acordo, na análise do portal libanês Al Mayadeen.

Israel alega que o cessar-fogo só entrará em vigor 24 horas depois da reunião do gabinete de Netanyahu, que já formalizou a aprovação do acordo, desde as 18 horas, horário local.

Não está claro o momento exato da troca entre presos políticos palestinos em cárceres israelenses e os assim chamados reféns do Hamas. Uma fonte israelense citada pela Reuters disse que todos os 20 cativos vivos devem ser libertados até domingo ou segunda-feira, embora a incerteza permaneça sobre o momento exato da libertação.

“SÓ QUEREMOS VOLTAR PARA NOSSAS CASAS”

Assim que a notícia do acordo de cessar-fogo correu em Gaza, e ainda com o som de drones israelenses zumbindo, a população palestina começou a comemorar, registrou o Middle East Eye. “Juro por Deus, estamos felizes desde esta manhã e estamos apenas esperando o momento. Se Deus quiser, o negócio começa. Só queremos voltar para nossas casas”, disse Bashar Hamed, 24 anos, deslocado de Beit Hanoun, no norte de Gaza.

Hamed disse que há medo de que a guerra recomece novamente, como em março no último cessar-fogo. Eyad al-Jeish, também deslocado do norte, compartilhou preocupações semelhantes: “Estou feliz. Eu estaria mentindo se dissesse que não estava. Mas, ao mesmo tempo, estou com medo… Temo que a guerra recomece.” “Não posso simplesmente pegar minha família e ir para o norte”, disse ele ao MEE.

“Israel, especialmente Netanyahu, não vê nada em seu caminho. Não há nada que os restrinja e, com base nisso, o medo continuará sendo uma realidade… É uma vingança por Israel, nada mais além disso”.

Apesar disso, Jeish está convencido de que ele e seus companheiros palestinos não serão forçados a sair de Gaza e reconstruirão o enclave – dando vida a ele mais uma vez. “Vou voltar e reconstruir. Até mesmo nossa presença como povo palestino e povo da Faixa de Gaza dá vida habitada em nossas casas e bairros, mesmo que nenhum dos edifícios ainda esteja de pé”, disse ele.

“Eu, Eyad, pessoalmente, toda a minha vida é a Faixa de Gaza, mesmo na morte”, acrescentou, dizendo que eles pertencem um ao outro como as azeitonas pertencem ao zaatar.

Embora ele saiba que retornar a Beit Hanoun será quase impossível imediatamente, Hamed espera vê-lo em breve. Ele está atualmente em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, e está lutando para encontrar acomodação adequada.

“Assim que as travessias estiverem abertas, vou andar de bicicleta em busca de um lugar melhor para minha família”, disse ele.

DEFESA CIVIL ORIENTA

O Comitê Nacional de Emergência e Ambulâncias de Gaza alertou o povo palestino contra a corrida de volta às áreas afetadas pelo desastre. A Direção Geral de Defesa Civil de Gaza pediu aos moradores do sul da Faixa de Gaza que não tentem retornar à Cidade de Gaza até que um anúncio oficial seja emitido confirmando que é seguro fazê-lo.

Em um comunicado, a Diretoria enfatizou que todos devem permanecer em seus lugares até receber a confirmação das autoridades competentes de que a Rua Rashid e as áreas vizinhas foram limpas das forças de ocupação israelenses.

A Defesa Civil também alertou os moradores atualmente na Cidade de Gaza contra viajar para áreas onde as forças israelenses permanecem ativas ou estão realizando operações de campo, citando sérios riscos à sua segurança.

Ele alertou que as forças de ocupação ainda estão presentes em várias zonas perigosas e que o movimento aleatório pode colocar em risco a vida dos civis. A Diretoria reiterou seu apelo para que todos os cidadãos cumpram integralmente as instruções oficiais até que as estradas e áreas sejam formalmente declaradas seguras.

QUATRO PONTOS PRINCIPAIS

O chefe do escritório do Al Mayadeen na Turquia, Omar Kayid, informou que, de acordo com fontes da liderança sênior, a primeira etapa do acordo de cessar-fogo recém-alcançado em Gaza se baseia em quatro pontos principais:

Acabar com a guerra; facilitar a entrada de ajuda humanitária; implementação de uma retirada israelense em fases; troca de prisioneiros por cativos, vivos e restos mortais, dentro de um cronograma definido.

Kayid disse que instituições e agências internacionais, incluindo as Nações Unidas, supervisionarão a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. De acordo com detalhes obtidos por Al Mayadeen, pelo menos 400 caminhões de ajuda devem entrar em Gaza diariamente durante os primeiros cinco dias da trégua, com o número aumentando gradualmente depois.

A passagem de fronteira de Rafah deve ser reabilitada imediatamente após a assinatura do acordo, abrindo caminho para a entrada de centenas de caminhões de ajuda.

Kayid confirmou que 20 prisioneiros israelenses serão libertados em troca de mais de 2.000 detidos palestinos, incluindo 250 cumprindo penas de prisão perpétua e 1.700 detidos desde 7 de outubro de 2023.

Ele disse que a entrega dos detidos ocorrerá dentro de 72 horas, conforme estipulado pelo presidente dos EUA, Trump. A retirada israelense, prevista para começar na sexta-feira, precederá a entrega programada para segunda-feira.

Kayid acrescentou que “Israel” devolverá todos os corpos dos palestinos, incluindo o de Yahya al-Sinwar, enquanto 28 corpos serão transferidos em uma fase posterior.

Deacordo com Kayid, a ocupação israelense exigiu que nenhuma cerimônia pública acompanhasse a libertação de cativos.

Ainda segundo o correspondente em Ancara, o Hamas rejeitou qualquer forma de tutela internacional sobre a Faixa de Gaza, insistindo que o assunto continua sendo um assunto interno palestino. O Hamas pediu a Trump que garanta que “Israel cumpra todos os seus compromissos sob o acordo e seja impedido de evadir ou atrasar sua implementação”.

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