Líder do PSDB na Câmara enviou R$ 7 milhões em emendas a obra superfaturada na Bahia

Adolfo Viana é deputado federal pela Bahia - Foto: Agência Câmara

Deputado Adolfo Viana destinou R$ 7 milhões a contratos com a Allpha, cujos donos visitaram seu gabinete 22 vezes

O líder do PSDB na Câmara, deputado Adolfo Viana (BA), destinou R$ 7 milhões em emendas parlamentares a obras de pavimentação sob investigação da Polícia Federal por superfaturamento nos municípios de Juazeiro e Novo Horizonte, na Bahia. As obras fazem parte de contratos executados pela Allpha Pavimentações, empresa dos irmãos Alex e Fábio Parente, alvos da Operação Overclean.

Registros da Câmara dos Deputados mostram que Alex Parente visitou o gabinete de Viana ao menos 22 vezes, além de quatro encontros na liderança do PSDB e visitas também a outras lideranças— totalizando 35 idas à Câmara entre 2021 e 2024.

A Allpha conquistou os contratos em pregão eletrônico realizado pelo Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), em 2021. À época, o coordenador do órgão na Bahia era Lucas Maciel Lobão, indicado por Adolfo Viana. Foi ele quem, em 7 de junho de 2021, enviou ao Dnocs um ofício pedindo orçamento para o certame de pavimentação. Dois dias depois, em 9 de junho, Alex Parente fez sua primeira visita ao gabinete do deputado.

Lobão acabou afastado do cargo antes da conclusão do processo, após uma investigação detectar sobrepreço de R$ 192 milhões na compra de caixas d’água com recursos também indicados por Viana. Mesmo fora do Dnocs, ele passou a atuar como lobista para os irmãos Parente, segundo a PF, negociando fraudes e propinas a políticos.

RELAÇÕES

O pregão vencido pela Allpha foi concluído em novembro de 2021, com três contratos totalizando R$ 40,7 milhões. No mesmo período, Viana enviou R$ 7 milhões em emendas de relator, sem identificação pública do autor — modalidade conhecida por mascarar a origem do recurso. Ainda assim, a prefeita de Juazeiro, uma das cidades beneficiadas, agradeceu ao deputado nas redes sociais.

Entre 2023 e 2024, Alex Parente voltou a frequentar o gabinete de Viana. Uma semana após uma das reuniões, em 5 de julho de 2023, o deputado liberou R$ 3 milhões em emendas Pix — transferências diretas sem vinculação a um projeto específico — para a Prefeitura de Camaçari (BA). O município, segundo a PF, é investigado por fraudes e superfaturamento em contratos com outra empresa dos Parente, a Larclean, de limpeza urbana.

Em 2023, Camaçari pagou R$ 3,1 milhões à Larclean por serviços de dedetização cobrados 660% acima do preço de mercado, conforme revelou o UOL. A atual gestão da cidade, comandada por Luiz Caetano (PT), afirmou que cabe à administração anterior, do ex-prefeito Antônio Elinaldo Araújo da Silva (União), esclarecer o uso dos recursos — ele não se manifestou.

SUPERFATURAMENTO

Em outubro de 2023, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou R$ 4,2 milhões em superfaturamento nas obras da Allpha com o Dnocs, cerca de 10% do valor total dos contratos. No mês seguinte, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou suspender pagamentos e novos contratos.

A Polícia Federal deflagrou a primeira fase da Operação Overclean em dezembro de 2024, prendendo Alex e Fábio Parente e outros envolvidos. A investigação apura fraudes em licitações, superfaturamento, corrupção e desvio de emendas parlamentares, com ramificações no Dnocs.

Entre os investigados está também Marcos Moura, integrante da executiva do União Brasil e conhecido como “rei do lixo”, apontado pela PF como líder da organização criminosa. Moura teria realizado 27 visitas à Câmara, reforçando o elo entre o grupo empresarial e diferentes partidos.

Embora Adolfo Viana não tenha sido alvo direto da operação, seu nome aparece em documentos apreendidos no Dnocs que tratam de emendas enviadas para as obras investigadas. O deputado e os irmãos Parente não se manifestaram até o momento.

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