Queda de ministros e protestos fazem Macron retirar projeto que aumenta idade da aposentadoria

Franceses ocuparam por diversas vezes as ruas do país pressionando pela retirada dos cortes à Previdência (J. C. Milhet/ Hans Lucas/AFP)

O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu – que na primeira oportunidade de formar governo só durou 14 horas no posto – , informa agora quee propôs a suspensão do questionado plano que aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, nesta terça-feira (14), a fim de evitar o colapso de seu governo.

Após uma semana de grande turbulência política, com o governo francês enfrentando um impasse no Parlamento e a ameaça de mais uma moção de censura, o recém re-nomeado Lecornu declarou em um discurso à Assembleia Nacional que a lei, resultado de uma política emblemática do presidente Emmanuel Macron, seria suspensa até depois das próximas eleições presidenciais em 2027.

Macron já havia sinalizado que teria que convocar eleições antecipadas caso Lecornu fosse deposto. O receio era que a saída do primeiro-ministro agora aprofunde ainda mais a incerteza política no país, que já lida com um cenário de governo minoritário e falta de apoio no Congresso.

Tudo isso acompanhado de manifestações por todo o país contra o arrocho, além de greves nacionais.

Entre outros setores, o Partido Socialista, que não faz parte da coalizão governista, exigiu a revogação da lei, e a oferta de Lecornu foi vista como uma tentativa para um possível apoio mais geral à sua política.

Tentando sensibilizar a população, Lecornu disse que a suspensão custaria ao governo € 400 milhões (US$ 463 milhões) em 2026 e € 1,8 bilhão em 2027, mas que se justificava porque a medida beneficiaria 3,5 milhões de cidadãos franceses.

DÉFICIT

O déficit da França atingiu 5,8% do Produto Interno Bruto no ano passado, bem acima da meta oficial da UE de 3%. O país também enfrenta uma enorme crise de dívida, aumentada pela desindustrialização provocada pela política de Macron, de arrocho misturada à submissão antirussa às demandas norte-americanas. No final do primeiro trimestre de 2025, a dívida pública francesa era de € 3,346 trilhões, ou 114% do PIB.

A nova nomeação de Lecornu, ex-ministro da Defesa francês e quarto primeiro-ministro em apenas um ano, é amplamente vista como a última chance de Macron revitalizar seu segundo mandato. Seu campo centrista não tem maioria na Assembleia Nacional e enfrenta críticas crescentes até mesmo dentro de suas fileiras.

Mais cedo na terça-feira, Lecornu se reuniu com seu gabinete para discutir o orçamento de 2026, que deve ser aprovado antes do final do ano. Ele afirmou que o principal objetivo seria reduzir o déficit para menos de 5% do PIB, enfatizando a necessidade de disciplina fiscal e economia estrutural para justificar essa mínima taxa de diminuição do déficit.

Entre as medidas em análise estão a diminuição do funcionalismo público, a redução de impostos direcionados às pequenas e médias empresas e as contribuições excepcionais das grandes corporações.

No ano passado, sucessivos governos minoritários sem propostas que enfrentassem os problemas do país entraram em colapso rapidamente, deixando a França atolada na estagnação enquanto enfrenta uma crescente taxa de pobreza e essa crescente crise da dívida que alarmou os mercados e os parceiros da UE.

Na quinta-feira (16), Lecornu enfrentará duas moções de censura no Parlamento, uma do partido França Insubmissa e a outra do partido de direita União Nacional. Os dois partidos não têm assentos suficientes para derrubar o governo de Lecornu sozinhos, mas o primeiro-ministro pode ser rapidamente derrubado se os socialistas e outros partidos de oposição se juntarem a eles.

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