O Exército israelense bombardeou pesadamente neste domingo (19) a Faixa de Gaza, violando descaradamente o cessar-fogo e matando 45 palestinos, inclusive oito crianças e um jornalista. Mais de 100 ataques aéreos e de artilharia foram relatados em Rafah e Khan Younis, no sul, Jabalia, no norte, e partes do centro de Gaza.
Entre os alvos, uma escola da ONU, um café, uma estação de carregamento de telefones celulares, um grupo de jornalistas e uma casa que abrigava pessoas deslocadas.
A alegação usada por Israel para os bombardeios e novos assassinatos foi de que suas forças teriam sido atacadas pelo grupo palestino Hamas na área de Rafah, o que já foi rechaçado.
Através do membro de seu Bureau Político, Izzat al-Risheq, o Hamas reiterou “seu compromisso com o acordo de cessar-fogo” e denunciou que “a ocupação sionista é a parte que continua violando o acordo sob pretextos frágeis para justificar seus crimes.”
“As tentativas de Netanyahu de se esquivar de seus compromissos são resultado da pressão de sua coalizão terrorista extremista, em uma tentativa de se eximir de sua responsabilidade perante os mediadores e fiadores.”
Horas antes, Netanyahu havia anunciado em Israel sua intenção de concorrer a um novo mandato.
O novo morticínio foi saudado pelo chefe dos pogroms na Cisjordânia, seu ministro, Ben Gvir, que convocou Netanyahu a renovar os combates “em grande escala na Faixa com força total”. Seu cúmplice, Smotrich, postou a única palavra “Guerra!” na plataforma X.
Desde que o cessar-fogo mediado internacionalmente entrou em vigor no dia 11, as tropas da ocupação israelenses já cometeram pelo menos 47 violações, mas os ataques de hoje são os mais graves e mais letais. O regime Netanyahu também viola os acordos ao se recusar a reabrir a fundamental passagem de Rafah e ao ter reduzido pela metade a quantidade de caminhões de ajuda autorizados.
Tel Aviv também tinha procurado sabotar o cessar-fogo ao acusar o Hamas de não devolver em “72 horas” todos os corpos dos reféns, cuja busca é extremamente dificultada pelo fato de Israel ter reduzido a escombros praticamente a Faixa inteiro, com os mortos dos bombardeios, inclusive os reféns, sob toneladas de entulho, cuja remoção exige equipamento especial, já oferecido pela Turquia, mas proibido por Netanyahu de entrar.
Após o enviado especial do presidente Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, emitir neste domingo uma declaração chamando Israel à “moderação”, Tel Aviv se disse disposta a voltar ao cessar-fogo.
REITERAÇÃO DO GENOCÍDIO
Pelo menos seis crianças foram mortas quando aviões de guerra israelenses atingiram a Escola Al-Sardi, localizada ao sul do campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, informou o Al Mayadeen, citando seu correspondente na Faixa.
Em um ataque separado a um prédio que abrigava jornalistas em Al-Zawaida, também no centro de Gaza, o Hospital dos Mártires de Al-Aqsa confirmou a morte de duas pessoas, uma das quais era jornalista.
Outro palestino foi morto e vários outros ficaram feridos quando as forças israelenses bombardearam uma casa na área de Al-Suwwarha, a oeste de Nuseirat.
No oeste da Cidade de Gaza, vários civis foram mortos e outros feridos quando aviões israelenses atacaram um grupo de pessoas perto da rua Abu Hasira.
O Hospital Al-Awda, em Nuseirat, disse que recebeu um corpo e sete feridos após um ataque israelense a uma estação de carregamento elétrico a oeste do campo. Mais tarde, o hospital relatou mais duas mortes e dez feridos após outro ataque a uma casa no Bloco 4 do campo de refugiados de Al-Bureij, também no centro de Gaza.
Em Khan Yunis, no sul de Gaza, quatro palestinos, incluindo duas crianças, foram mortos quando aviões de guerra israelenses atacaram uma tenda de deslocados na área de Al-Mawasi, a oeste da cidade.
O correspondente do Al Mayadeen também relatou novos bombardeios nas áreas orientais do campo de refugiados de Al-Maghazi, no centro de Gaza.
Outras partes da Faixa sitiada também foram atingidas. Um ataque aéreo teve como alvo a periferia leste de Jabalia, no norte de Gaza, enquanto um ataque de drone feriu civis deslocados ao norte de Khan Yunis.
SEM CONHECIMENTO OU CONEXÃO
O braço armado do Hamas, as Brigadas Izz al-Din al-Qassam, negou qualquer conhecimento ou conexão com o suposto ataque de que é acusado pelo governo israelense.
“Não temos envolvimento em nenhum evento que ocorra nessas áreas e não podemos nos comunicar com nenhum de nossos combatentes lá, se algum deles permanecer vivo”, disse o grupo em um comunicado, acrescentando que continua comprometido com o cessar-fogo.
São áreas que estão sob controle israelense desde que Israel rompeu em março o acordo de cessar-fogo anterior e que estão localizadas além da chamada “linha amarela”.
Relatos surgidos na mídia israelense dão a entender que o confronto se deu quando os israelenses vieram em socorro da gangue colaboracionista de Yasser Abu Shabab, registrou o Middle East Eye. A gangue foi “acusada de roubar ajuda humanitária e atacar civis palestinos durante a guerra genocida de dois anos de Israel em Gaza”.
Outros relatos falam em um veículo israelense explodido e um militar morto. A causa da explosão não ficou clara de imediato.
PASSAGEM DE RAFAH SEGUE FECHADA
A resistência islâmica Hamas reagiu ao anúncio da manutenção do bloqueio da passagem de Rafah, único contato de Gaza com o Egito, advertindo que isso “atrasará significativamente” a recuperação dos restos mortais dos chamados reféns israelenses.
Agências humanitárias internacionais pediram a reabertura imediata do ponto de passagem, essencial para o envio de alimentos, combustível e medicamentos à população de Gaza.
Mestre da manipulação, Netanyahu vem tentando se aproveitar da compreensível ansiedade das famílias pelo retorno de todos os corpos para sabotar o acordo de cessar-fogo, visando escapar da prisão por corrupção e do julgamento, no Tribunal Penal Internacional, que decretou contra ele mandado de prisão, por genocídio em Gaza.
O genocídio perpetrado por Israel em Gaza também está sob investigação da Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia, o mais alto tribunal do mundo. A acusação contra Israel foi apresentada pela África do Sul, país que venceu o apartheid e o racismo, à qual aderiram outros países, inclusive o Brasil.
De acordo com os números das autoridades médicas de Gaza, já chegam a 68 mil os mortos por Israel, a maioria dos quais mulheres e crianças e passam de 170 mil os feridos e mutilados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde e o Programa Mundial de Alimentação da ONU, Gaza está no quarto de cinco estágios de fome catastrófica, causado pelo brutal bloqueio cometido por Israel. A fúria genocida incluiu tornar Gaza inabitável, com 87% de suas instalações e casas reduzidas a pilhas de destroços. O número de crianças órfãs triplicou, para 57 mil.
No mundo inteiro, apesar da repressão de governos cúmplices, multidões foram às ruas contra o genocídio e pela Palestina livre, e 80% dos países membros da ONU já reconhecem o Estado Palestino, tornando inadiável sua constituição, plena e soberana, de fato e de direito.
Mesmo nos EUA, o país que tem sido o sustentáculo do supremacismo ultrassionista com armas, dinheiro e vetos na ONU, o genocídio provocou tamanha indignação que a generosa juventude norte-americana, em grande maioria, passou a apoiar os palestinos, e assumindo o lema do “nunca mais é para todos”. Mudança para a qual a participação de comunidades judaicas não-supremacistas foi decisiva. Assim, torna-se cada vez mais precária a posição dos extremistas que pretendem que Israel seja, simultaneamente, o país dos herdeiros dos sobreviventes do Holocausto sob o nazismo e o país que perpetra genocídio contra os palestinos, que consideram os “subumanos” do século 21.