No último domingo (19), um caso de racismo foi registrado na vitória do Corinthians 5 a 1 sobre o Manthiqueira, disputada no estádio Dário Rodrigues Leite, em Guaratinguetá, válido pela terceira fase do Campeonato Paulista sub-12.
O protocolo antirracismo foi acionado aos 54 minutos do segundo tempo pelo árbitro Guilherme Drbochlaw. Segundo informações relatadas na súmula, o jogo foi paralisado depois de o jogador do Manthiqueira sentar no gramado chorando após sofrer ofensas racistas de torcedores do Corinthians.
“Preto, filho da puta, sem família, vai tomar no cu!”, foram as ofensas realizadas por uma torcedora do Corinthians, ouvidas pelo jogador do Manthiqueira, que não retornou para a partida por estar abalado emocionalmente, e relatadas pelo árbitro na súmula. Consta também no Boletim de Ocorrência.
A polícia militar foi acionada e conduziu a torcedora, que foi presa em flagrante e conduzida para a cadeia pública de Lorena, no interior de São Paulo.
Antes do caso de racismo, o árbitro pediu para que um funcionário do Corinthians orientasse os torcedores presentes no estádio sobre as ofensas aos jogadores do Manthiqueira, que relataram ao árbitro problemas durante a pausa para hidratação no segundo tempo.
“A gente tomou o quinto gol e percebemos nosso jogador no chão chorando. Não entendemos. Vimos a torcida do Corinthians tirando um sarro saudável. Só que aí não entendemos por que ele estava no chão chorando. Quando chegamos lá, ele falou: ‘os pais me chamaram de preto’. Eu não ouvi, estava no outro lado do campo. A gente se revolta. É uma criança de 12 anos, acho que ela não vai mentir sobre algo tão sério desse jeito. Imediatamente fui em cima do juiz para ver as medidas cabíveis. Fomos tentar falar com os pais, que, unidos, disseram que ninguém falou nada. A mãe do nosso atleta está revoltada”, disse o técnico Leonardo Cunacia.

A Federação Paulista de Futebol (FPF) divulgou nota oficial sobre o caso. O Corinthians ainda não se manifestou publicamente.
“A Federação Paulista de Futebol vem a público manifestar profunda indignação e revolta com mais um ato de racismo. Desta vez, ocorrido em uma partida do Paulista Sub-12, neste final de semana. No jogo entre Manthiqueira e Corinthians, um atleta da equipe mandante relatou ter sido ofendido com palavras racistas. Informada, a equipe de arbitragem acionou o Protocolo Antirracista do Futebol Paulista e o caso foi encaminhado à Polícia Militar e ao TJD-SP. A FPF reforça seu repúdio a todo e qualquer ato racista e reafirma que o Futebol Paulista não tolera a participação de racistas em suas competições. Choca ainda mais o fato de, neste caso, ser um ato contra uma criança que apenas está jogando futebol. A FPF seguirá vigilante e atuante para que nenhuma pessoa, muito menos crianças, sejam alvos de crimes como este”, disse a FPF.
Recentemente, a Federação Paulista de Futebol fechou os portões para o público em 144 jogos de competições de base disputadas no estado em virtude do meu comportamento de torcedores nas arquibancadas.
Todas as partidas das rodadas 16 e 17 das categorias sub-11 e sub-12 do Campeonato Paulista, disputadas entre a última semana de agosto e primeira de setembro deste ano, foram sem a presença torcida, em sua maioria formada por familiares dos jogadores. Na ação, a entidade “deixa os pais de castigo”.
A medida, em caráter educativo, foi uma decisão da entidade por recomendação do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-SP), em decorrência do crescente número de casos de mau comportamento dos torcedores.
Até o momento da denúncia, as duas competições haviam registrado aumento de ocorrências, como ofensas às crianças, injúria racial, homofobia, além de brigas, ameaças e outros tipos de hostilidade, boa parte praticados pelos pais dos atletas.
Corinthians e Manthiqueira voltam a se enfrentar para decidir as quartas do Paulista Sub-12 neste domingo, às 15h30, no Estádio Municipal Antonio Soares de Oliveira, em Guarulhos.