Em depoimento, Tonia Galleti afirmou ter denunciado irregularidades em descontos associativos de aposentados e pensionistas
A ex-integrante do CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social), Tonia Galleti, afirmou nesta segunda-feira (20), em depoimento à CPMI do INSS, que alertas sobre fraudes em descontos de mensalidades associativas vêm sendo feitos desde 2019 às autoridades do Ministério da Previdência e do INSS, na gestão de Bolsonaro. As informações são da Agência Senado.
“Em todas as oportunidades, eu dizia: ‘tem jabuti na árvore’”, declarou Tonia, e citou frase de Tancredo Neves. Segundo ela, os indícios de irregularidades surgiram após reclamações de aposentados e pensionistas que foram filiados a entidades sem autorização.
DENÚNCIAS IGNORADAS
Tonia, coordenadora jurídica do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), relatou que tentou incluir o tema dos descontos indevidos na pauta do Conselho em 2023, mas a discussão nunca ocorreu.
Segundo investigação da PF (Polícia Federal), os descontos associativos diretos em benefícios aumentaram 77 vezes entre 2020 e 2024, passando de 18,6 mil para 1,4 milhão.
Ela afirmou ainda que alertou, pessoalmente, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, e o ex-diretor de Benefícios do INSS, José Carlos Oliveira, sobre o problema.
Lupi, segundo a depoente, teria aberto investigações e solicitado auditoria, que resultou na Instrução Normativa 162, com novas regras para os descontos em folha.
PARCERIAS SOB SUSPEITA
O relator da CPMI, senador Alfredo Gaspar (União-AL), questionou o crescimento no número de associados do Sindnapi a partir de 2019, quando a entidade firmou parceria com a corretora CMG, ligada ao Banco BMG.
Segundo Gaspar, os descontos automáticos e filiações sem autorização teriam gerado arrecadação de R$ 600 milhões.
Tonia negou irregularidades e disse que o crescimento foi orgânico, de cerca de 4% ao mês.
“O sindicato nunca fraudou fichas ou documentos. Vive de mensalidades e cresceu mostrando serviço aos aposentados”, declarou.
Ela também criticou a generalização das suspeitas:
“As entidades honestas estão sendo colocadas no mesmo balaio dos picaretas. Estão matando o mensageiro.”
SUSPEITAS DE REPASSES E HC
Gaspar também questionou repasses de mais de R$ 20 milhões a familiares de Tonia, por meio de consultorias ao sindicato. A ex-integrante defendeu-se dizendo que os serviços foram prestados e não havia impedimento legal para os pagamentos.
Tonia falou sob proteção de habeas corpus concedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que a autorizou a não responder perguntas que pudessem incriminá-la.
OUTRO DEPOIMENTO
Também estava previsto o depoimento de Felipe Macedo Gomes, ex-presidente da ABCB (Amar Brasil Clube de Benefícios), apontado como operador de esquema de fraudes no INSS, que teria movimentado R$ 1,1 bilhão entre 2022 e 2024.
De acordo com o requerimento da CPI, a Amar Brasil foi autorizada a descontar até 2,5% dos benefícios previdenciários, atingindo milhares de aposentados sem consentimento.
Há indícios de que a associação atuava como fachada para captação ilícita de recursos, com uso irregular de convênios com o INSS.