Na política, quando a ignorância e o preconceito estão no comando, inexoravelmente, mais cedo ou mais tarde, o tiro acaba saindo pela culatra e o feitiço virando-se contra o feiticeiro.
É o que provavelmente acontecerá como consequência da decisão do governador Ibaneis Rocha de sancionar uma lei, aprovada na Câmara Legislativa do Distrito Federal por iniciativa de um deputado bolsonarista do PL, que institui, pasmem, “o dia da memória das vítimas do comunismo”.
Se os nazifascistas que foram derrotados pela gloriosa União Soviética comandada por Stalin e os comunistas na Segunda Grande Guerra estivessem vivos, certamente, aplaudiriam entusiasticamente a iniciativa. Hitler e Mussolini estariam eufóricos com a notícia.
Ibaneis ficou conhecido nacionalmente quando entregou o comando da segurança pública de Brasília para um bolsonarista de carteirinha na virada do ano de 2022 para 2023, às vésperas, portanto, do fatídico 8 de janeiro, mesmo depois da eleição e posse do presidente Lula.
Aquartelados, os golpistas assaltaram e vandalizaram as sedes dos 3 poderes da República na vã tentativa de empurrar o alto mando militar para a trama golpista urdida pelo ex-mandatário refugiado na Flórida (EUA), o mesmo destino do então secretário do governador e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, recentemente condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos mesmos crimes contra a democracia que também apenaram seu ex-chefe no executivo federal.
O fato levou a Suprema Corte a afastar o recém-empossado governador, que, por muito pouco, não perdeu o mandato, e o governo federal a promover uma intervenção na segurança pública da capital, até o retorno da normalidade.
Pela nova façanha, o atual inquilino do Palácio do Buriti continua seduzido pelo bolsonarismo ao sancionar uma lei que busca falsificar grosseiramente os fatos, como tantos outros vitupérios produzidos para promover o negacionismo, nesse caso, da própria história.
Afinal, o que poderia se esperar de figuras que continuam idolatrando a ditadura que infelicitou o Brasil por 21 anos e seus torturadores? Por óbvio, identificar nos comunistas os seus principais inimigos, pois foram eles que estiveram na linha de frente na luta contra essa mesma ditadura que o bolsonarismo venera e que entregaram sua vida e o seu sacrifício para a vitória da democracia, após anos de resistência.
No mesmo diapasão, os fascistas e neonazistas nunca aceitaram o fato dos comunistas terem sido a força decisiva que os derrotaram naquela contenda mundial, ao custo, sempre é bom refrescar a memória, de 25 milhões de soviéticos, entre militares e civis.
São os mesmos que resistem à ascensão da China, comandada pelos comunistas, e ao surgimento do BRICS para contrapor-se ao império norte-americano, cada vez mais decadente, decrépito e agressivo (vide as recentes ameaças à soberania do Brasil e de outras nações), embora venerado e apoiado pelo bolsonarismo.
“Vítimas do comunismo”? Só se forem os nazistas e fascistas derrotados no maior conflito da história da humanidade, todavia, nem mesmo isso, pois não há como qualificar o agressor como vítima que, naquele episódio, foi derrotado – e não apenas pelos comunistas que estavam na linha de frente do combate, mas por todas as forças democráticas e libertadoras que se levantaram mundo afora.
Como diz a nota do Partido Comunista do Brasil, sessão DF, as referidas “vítimas do comunismo foram Hitler e os nazifascitas”, portanto, pergunta-se, serão eles o objeto da comemoração? Em se tratando de uma proposta da lavra original de um bolsonarista, a lei, endossada por Ibaneis, tem uma lógica tragicômica.
Resta esperar o dia 4 de junho, data instituída pelo projeto, para saber quem esses energúmenos vão exaltar.
Como diz a mesma manifestação do PCdoB do DF, não é a primeira, nem será a última vez que os fascistas de plantão tentarão falsificar a história, portanto, uma “leizinha chula” como essa não produzirá os efeitos desejados pelos seus ridículos criadores.
Trata-se, conclui o documento, de “uma ignomínia que não prosperará e terá como destino o lixo da história, assim como seus medíocres promotores”.