Alejandro Pizano Ponce de León, filho de Jorge Enrique Pizano, testemunha-chave na elucidação do escândalo causado pelo pagamento de propinas pela Odebrecht na Colômbia, morreu envenenado com cianureto após ingerir o líquido de uma garrafa, três dias após a morte de seu pai, aparentemente por um infarto, segundo informou na terça-feira, 13, a Promotoria de Bogotá.
A vítima tinha viajado desde a Espanha, para participar do enterro de seu pai que trabalhava na Concessionária Ruta del Sol, consorciada com a Odebrecht para construir a Ruta del Sol II, estrada que comunica o centro com o norte do país. Alejandro faleceu a caminho ao hospital.
Informa o laudo do IML que os investigadores que tratam do caso “receberam por parte do pessoal médico uma garrafa de água aromatizada, na qual estão realizando as análises correspondentes”. A Procuradoria Geral da Nação informou que também abriu uma investigação penal para determinar as causas pelas quais essa substância se encontrava na casa do pai da vítima.
O pai, Jorge Pizano, interventor da Concessionária, era uma das peças mais importantes para recompor o caso de subornos pagos pela construtora para ficar com a obra. Ele investigou e detectou várias irregularidades, nas quais trabalhou desde 2010, e em 2015 informou sobre isso ao atual procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, que desconversou e disse não ter certeza de que se tratasse de subornos. Antes de ocupar seu cargo, Martínez foi advogado do Grupo Aval, conglomerado bancário que controlava a maioria das ações da Corficolombiana, uma empresa de armações financeiras.
Os subornos pagos pela Odebrecht na Colômbia garantiram que fosse a única empreiteira habilitada para a licitação de um trecho da Ruta del Sol. O valor das propinas chega a 84 bilhões de pesos (100 milhões de reais). O escândalo, que estourou no início de 2017, mexeu nas campanhas de candidatos em duas eleições presidenciais, e também na Administração de Álvaro Uribe. Quando as denúncias tomaram uma proporção grande, o ex-presidente Juan Manuel Santos solicitou ao Ministério Público uma investigação dos contratos correspondentes a esses ciclos eleitorais. Meses depois, houve a primeira detenção. As autoridades capturaram Gabriel García Morales, ex-vice-ministro de Transporte de Uribe nos anos 2009 e 2010. O político recebeu, segundo a investigação, 6,5 milhões de dólares da Odebrecht pela concessão dessa obra.
Depois veio a captura do ex-deputado Otto Bula devido à sua participação no milionário caso de corrupção. Foi acusado de receber uma propina de 4,6 milhões de dólares para favorecer a Odebrecht na concessão das obras da rodovia. A Procuradoria-Geral determinou também que a construtora contribuiu para o financiamento das campanhas do próprio Santos e de seu principal rival nas urnas, o uribista Óscar Iván Zuluaga.
A morte muito mal explicada dos Pizano não é o único problema que a investigação de propina enfrenta. Em outubro, a promotora do caso, Amparo Cerón, sofreu um acidente automobilístico durante suas férias no Chile e passou vários dias em cuidados intensivos. Sua delicada situação médica tem lhe impedido reintegrar-se a seu trabalho.
Além das acusações de suborno para conseguir a licitação da estrada, as obras também são questionadas por descumprimentos de licenças emitidas pela Autoridade Nacional de Licenças Ambientais. Os crimes delatados, são tipificados como caixa 2, lavagem de dinheiro, suborno, tráfico de influência além de manipulação de pesquisas eleitorais.
SUSANA LISCHINSKY