O processo respeita o devido processo legal e se apoia em “provas diversificadas e complementares”, sustenta o MP. Relatório descarta motivação ideológica e confirma base jurídica para extradição da deputada, presa em Roma desde julho
O Ministério Público da Itália considerou infundada a alegação de perseguição política apresentada pela defesa da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ao analisar o pedido de extradição feito pelo governo brasileiro.
Em parecer de 16 páginas, obtido pelo portal UOL, os procuradores italianos afirmam que as investigações e sentenças contra a parlamentar seguem os parâmetros legais e não possuem motivações ideológicas.
Assim, ao fim e ao cabo, segundo o MP italiano, não há perseguição política.
EXTRADIÇÃO SEGUE CRITÉRIOS JURÍDICOS
De acordo com o relatório, os procedimentos movidos pela Justiça brasileira respeitam o devido processo legal e se apoiam em “provas diversificadas e complementares”.
O documento destaca que não há elementos que indiquem perseguição por “opiniões políticas ou convicções pessoais” de Zambelli.
A deputada está presa preventivamente desde 29 de julho, na penitenciária feminina de Rebibbia, em Roma, por decisão da Corte de Apelação italiana, que avaliou existir risco significativo de fuga.
‘ALEGAÇÃO INSUSTENTÁVEL’
O procurador Erminio Carmelo Amelio, autor do parecer, classificou a tese da defesa como “sem sustentação”, e enfatizou que “não há evidências que justifiquem a rejeição do pedido de extradição”.
Segundo ele, as informações apresentadas pelas autoridades brasileiras não configuram atos de perseguição política, mas sim medidas decorrentes de crimes tipificados e devidamente investigados.
CRIMES E INVASÕES DE SISTEMAS
O relatório detalha o conjunto de provas reunidas pela Justiça brasileira. Entre essas, estão:
• admissão de culpa de Walter Delgatti Neto, considerado coautor nos crimes de invasão de sistemas públicos e falsidade ideológica, relacionados ao ataque hacker ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça);
• relatos de testemunhas sobre a intimidação com arma de fogo praticada por Zambelli em via pública; e
• documentos e perícias técnicas que comprovam acessos não autorizados a sistemas públicos e inserção de informações falsificadas.
IMAGENS E PROVAS
O Ministério Público também menciona gravações que mostram Zambelli “segurando uma arma de fogo com ambas as mãos, na altura do peito, enquanto persegue uma pessoa até alcançá-la em espaço público”.
As autoridades italianas consideraram as evidências suficientes e coerentes com o pedido brasileiro, o que reforça, segundo o MP da Itália, a legitimidade da ação judicial e afasta qualquer caráter de perseguição política.
CONTEXTO
Zambelli é investigada no Brasil por participação em ataques a instituições públicas e pelo episódio de perseguição armada em São Paulo, às vésperas das eleições de 2022.
A prisão dela em Roma ocorreu após descumprimento de medidas judiciais e tentativa de deixar o País, o que levou a PF (Polícia Federal) a solicitar a extradição imediata.
ABUSO DE PODER ECONÔMICO
Além do processo de extradição, Zambelli também enfrenta outra condenação no Brasil. Em setembro de 2025, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) decidiu, por 5 a 2, que a deputada cometeu abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação durante as eleições de 2022.
Segundo a decisão, Zambelli utilizou recursos financeiros e estruturas de comunicação digital de forma irregular, beneficiando a própria candidatura e a de aliados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A Corte Estadual, então, considerou que as práticas configuraram desequilíbrio no processo eleitoral e feriram a isonomia entre os concorrentes.
A parlamentar foi condenada à inelegibilidade por 8 anos e ao pagamento de multa expressiva. A decisão ainda cabe recurso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas reforça o cerco judicial que se formou em torno da deputada, tanto no Brasil quanto no exterior.











