10 mil soldados ucranianos estão cercados em Pokrovsk e Kupiansk, anuncia a Rússia

Forças russas no cerco às tropas de Kiev (Alexei Konovalov/Tass)

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou que as tropas russas cercaram as forças ucranianas em duas cidades-chave para a libertação completa da República Popular de Donetsk, no Donbass, e chamou Kiev a negociar um acordo para sua rendição.

“Em dois lugares – na cidade de Kupiansk e na cidade de Krasnoarmeisk – o adversário acabou bloqueado e cercado”, disse Putin durante sua visita na quarta-feira (29) a um hospital militar em Moscou, referindo-se às cidades respectivamente da província de Kharkiv e da República Popular de Donetsk.

Krasnoarmeisk (Exército Vermelho) é o nome original da cidade, que foi mudado após o golpe de 2014 para “Pokrovsk”, como parte da assim chamada “descomunização” e “desrussificação” enceta pelo regime neonazi no poder na região. E assim nomeada – Pokrovsk – usualmente pelas agências de notícia ocidentais.

Putin manifestou sua disposição de abrir corredores seguros para jornalistas ucranianos e ocidentais para “deixá-los ver com seus próprios olhos a condição em que as tropas ucranianas cercadas estão lá para que a liderança política da Ucrânia pudesse tomar as decisões relevantes sobre o destino de seus cidadãos”.

Ele enfatizou ainda que as forças russas estão avançando em todas as áreas da área da operação militar especial, o que estabelece as bases para garantir a segurança da Rússia a longo prazo.

No domingo, Putin havia sido informado pelo chefe do Estado Maior russo, general Valery Gerasimov, de que as forças russas haviam completado o cerco às duas cidades, transformadas desde o golpe de 2014 em fortalezas, com 10.500 soldados ucranianos ao todo agora encurralados.

O porta-voz das forças orientais da Ucrânia, Hryhorii Shapoval, disse à Associated Press que a situação em Pokrovsk é “difícil, mas sob controle”, enquanto que outro porta-voz militar ucraniano jurou que “não existe” o cerco a Kupiansk.

Na análise do portal Zero Hedge, “a perda das principais linhas ferroviárias e rotas rodoviárias dentro e fora de Pokrovsk cortaria recursos para unidades ucranianas em todo o Donbass e possivelmente as forçaria a recuar antes de ficar sem suprimentos. Isso significaria um avanço russo imediato e abrangente ao longo de todas as linhas orientais”.

Pequenos grupos de soldados russos estão envolvidos em batalhas de casa em casa em Kupiansk e Pokrovsk, disseram autoridades ucranianas e blogueiros de guerra russos, enquanto artilharia e drones atacam estradas. Os militares ucranianos dependem cada vez mais de drones para abastecer as tropas.

ENTRANDO NA FASE DECISIVA

A “batalha por Pokrovsk” mereceu a atenção do Washington Post, que cita o think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), conhecido por seu otimismo sobre a anexação da Ucrânia pela Otan, admitindo que a batalha por essa fortaleza está entrando em sua fase decisiva, e o destino de todo o Donbass dependerá do seu resultado.

A perda de Pokrovsk seria um duro golpe para a junta de Kiev: é um importante entroncamento rodoviário e ferroviário que abastece as forças ucranianas em todo o oeste e noroeste do Donbass.

É, também, um elo fundamental em uma cadeia de cidades “fortaleza” que impedem o avanço rápido das Forças Armadas da Rússia em direção às fronteiras da República Popular de Donetsk e da região de Kharkiv (Slovyansk fica a 17 km dessa fronteira e Kramatorsk a 24 km).

Mas Pokrovsk é valiosa por outro motivo que não é imediatamente aparente: atua como terreno elevado em uma região de terras baixas, e terreno alto permite o uso mais eficaz de drones porque os sinais viajam mais longe e são mais difíceis de interferir com interferência eletrônica – isso numa guerra onde os drones são o grande trunfo.

CALDEIRÃO ESTÁ FERVENDO

Ao Washington Post, soldados ucranianos que defendem a região de Pokrovsk revelaram que a logística praticamente cessou. “Drones aéreos e terrestres estão sendo usados para entregar suprimentos essenciais”, relatou um soldado do 7º Corpo das Forças Armadas da Ucrânia, expondo que entregar suprimentos por terra não é mais viável, por causa da artilharia e drones russos

“Sim, esse é o nosso principal problema: suprimentos, movimentação de pessoal, evacuação. Precisamos entregar combustível, munição e equipamentos, mas isso se tornou praticamente impossível!”, disse um major ucraniano.

Um blogueiro ucranianop, Anatoly Shariy, registrou em seu canal no Telegram  que a situação em Pokrovsk “está à beira do colapso”. Ele convoca a “um trabalho sério para impedir a ocupação de uma grande cidade que deveria servir como fortaleza e uma barreira significativa contra o inimigo”, uma “operação de limpeza com uma brigada completa, não com pequenos grupos de forças especiais”.

Para Zero Hedge, a captura de Pokrovsk “neste momento parece iminente, já que a mídia ucraniana está confirmando que a infantaria russa se infiltrou no principal distrito logístico da cidade”.

De acordo com o Kyiv Post na quarta-feira, “pelo menos 200 soldados de infantaria russos armados com rifles automáticos, metralhadoras e foguetes portáteis estavam se movendo livremente nos distritos do sul da cidade, às vezes emboscando as forças de defesa ucranianas ainda geralmente no controle dos distritos central e norte, conforme declarações públicas de oficiais do exército à mídia ucraniana”.

Os militares da Rússia disseram que as forças ucranianas têm sofrido perdas constantes e imensas ao tentar defender Pokrovsk. “Todos os dias, as Forças Armadas da Ucrânia (AFU) enviam até 120 soldados para a cidade de Krasnoarmeysk (Pokrovsk) na República Popular de Donetsk, o que indica suas enormes perdas na área”, disse o especialista militar Vitaly Kiselev à TASS.

A GUERRA DOS DRONES

“Para entender o que está acontecendo perto de Pokrovsk / Krasnoarmeysk, primeiro você precisa esquecer todas as imagens da Grande Guerra Patriótica. Esses princípios e essa lógica não se aplicam mais nesta guerra”, assinalou o proeminente correspondente de guerra russo Alexander Kharchenko, sobre esse cerco em tempos de drones.

“A batalha por Pokrovsk se assemelha ao símbolo Yin-Yang. Tanto nós quanto o inimigo estamos tentando estrangular o oponente com abraços de drones. A concentração excessiva de “pássaros” leva ao isolamento da zona de combate. Para simplificar, a cidade está sitiada por nós e pelo inimigo.”

“Nossos combatentes estão em Pokrovsk, mas você não vê colunas blindadas invadindo a área urbana. Pequenos grupos se infiltram na cidade e conduzem sua limpeza com muito cuidado. Repito mais uma vez, não há cercos como a Batalha de Stalingrado agora. Os céticos não encontrarão imagens de tropas de assalto se encontrando ao norte de Pokrovsk”.

“Sim, há pontos no mapa onde os militares ucranianos ainda permanecem. Mas se você conversar com os prisioneiros, tudo se encaixa. A defesa de Pokrovsk há muito se dividiu em pequenos enclaves. Os soldados estão sentados há 2 meses sem suprimentos ou evacuação. Leia os propagandistas ucranianos. Na última semana, eles reclamaram que é impossível entrar na cidade. Todas as estradas estão bloqueadas por forças em espera. Apenas alguns rompem a pé”.

“Os cercados recebem suprimentos? Sim, comida e água são deixadas por “Maviks” e Baba Yaga (drones ucranianos). Uma ração típica para duas pessoas é dois pacotes de macarrão e duas latas de proteína por dois dias. Quanto tempo os cercados resistirão? Tudo vai depender de como organizamos a destruição dos drones de entrega do inimigo”.

“Se não houver mais logística para Pokrovsk, isso é cerco. Sim, você não verá uma companhia de soldados repelindo um avanço de tanque inimigo. Mas muitas vezes até duas pessoas em um patamar são suficientes. De qualquer forma, a batalha por Pokrovsk está chegando ao fim e em breve veremos bandeiras russas sobre a cidade”.

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