Com uma taxa de 15%, o juro real (descontada a inflação) chega a 9,74%, firmando o Brasil na segunda colocação no Ranking Mundial de Juros Reais
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (5), manter o nível da taxa básica de juros (Selic) nos escorchantes 15% ao ano. Essa definição ocorre à revelia dos fatos de que a inflação está controlada e desacelerando no país.
O terceiro mandato do governo Lula pode ter o menor índice de inflação em um mandato presidencial em mais de 25 anos, segundo cálculo do economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/ Ibre), que projeta uma inflação acumulada de 19,11% no período de quatro anos. O menor resultado ocorreu no segundo mandato de Lula, de 2006 a 2010, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) atingiu a mínima histórica de 22,21%.
No acumulado de janeiro e setembro deste ano, o IPCA acumula alta de 3,64% e, em 12 meses, alta é de 5,17%. Nas últimas seis semanas, o ponto médio da inflação esperada para 2025 recuou de 4,81% para 4,55%, segundo dados do próprio BC.
Com uma taxa de 15% aa, o juro real (descontada a inflação) chega a 9,74%, firmando o Brasil na segunda colocação no Ranking Mundial de Juros Reais, de responsabilidade do site MoneYou, atrás da Turquia (17,80%). A lista conta com 40 países, cujo a média de juros reais ficou em 1,63%.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, “a decisão do Copom de manter a Selic em 15% ao ano é mais um duro golpe na economia e na competitividade da indústria brasileira”, critica.
Pelos cálculos da CNI, com expectativas de inflação nos próximos 12 meses (IPCA/IBGE) em 4,06%, o juro real avançou para 10,5% ao ano, “nível que inibe o investimento produtivo, afeta o consumo das famílias e penaliza especialmente as camadas de menor renda”, reforça Alban.
“É esse o preço que toda a sociedade paga por uma política de juros equivocada”, condena o empresário. “Com os preços controlados e o investimento em queda, manter a Selic em 15% ao ano impede o Brasil de crescer. Não se trata apenas de prejudicar as empresas, mas de afetar milhões de brasileiros — sobretudo os de menor renda — que ficam sem acesso ao crédito e, portanto, sem capacidade de consumo”, completa.
Ontem (3), o IBGE divulgou que a produção industrial nacional recuou -0,4% em setembro deste ano. Em agosto, a produção industrial havia registrado alta de 0,7% – um soluço no fundo do poço que veio após quatro meses de desempenho negativos (abril deste ano – queda de -0,9%; em maio, -0,5%; junho, +0,1%, e julho, -0,1%).
Em 2025, a indústria como um todo deve crescer apenas 1,6%. No ano passado, o setor cresceu 3,3%. Essa queda de ritmo vem sendo puxada pelas indústrias de transformação, que marcaram uma queda de -0,5% no segundo trimestre deste ano, após o recuo de 1% no primeiro trimestre.
Com os juros nos maiores níveis em duas décadas, os bancos no terceiro trimestre deste ano voltaram a aumentar suas margens de lucros. Somente os três maiores bancos privados brasileiros (Bradesco, Santander e Itaú Unibanco) lucraram, juntos, R$ 22,1 bilhões no período, o que corresponde a um crescimento de 13% ante igual período de 2024 e de 4% na comparação com os três meses imediatamente anteriores.
Assim, a soma dos lucros do Bradesco, Santander e Itaú Unibanco chegou a R$ 64,1 bilhões quando considerados os três últimos trimestres de 2025 (1T25, 2T25 e 3T25).











