“Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais”, apontou o presidente. “A intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa”, acrescentou o líder brasileiro
O presidente Lula afirmou, neste domingo (9), na Quarta Cúpula birregional da CELAC-UE, na Colômbia, que a América Latina vive uma profunda crise em seu projeto de integração. “Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria”, disse Lula. “A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais”, apontou o presidente.
Para o líder brasileiro, “a CELAC e a União Europeia são centrais para a construção de uma ordem mundial baseada na paz, no multilateralismo, e na multipolaridade”. “Há dois anos, quando nos reunimos em Bruxelas pela última vez, vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria. Desde então, experimentamos situações de retrocesso”, observou. “A intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa”, denunciou o presidente.
O presidente brasileiro apontou os caminhos da verdadeira cooperação. “Nenhum país pode enfrentar esse desafio isoladamente. Ações coordenadas, intercâmbio de informações e operações conjuntas são fundamentais para que a gente consiga vencer”, afirmou. “Foi com esse objetivo que renovamos o Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, com a Argentina e o Paraguai”, destacou Lula.
O chefe do Executivo brasileiro de o exemplo da integração amazônica para o combate ao crime. “Em Manaus, estabelecemos o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, reunindo agentes de nove países sul-americanos. Essas são plataformas permanentes de cooperação para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, de armas e de pessoas”, afirmou.
“A segurança é um dever do Estado e um direito humano fundamental. Não existe solução mágica para acabar com a criminalidade. É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas. O alcance transnacional do crime coloca à prova nossa capacidade de cooperação”, acrescentou Lula em crítica às ações unilaterais ora presentes na região.
“Precisamos enviar ao mundo um sinal de que duas regiões estratégicas como América Latina e Caribe e a Europa estão comprometidas com uma agenda promissora”, destacou o presidente. Ele reafirmou que “uma agenda de paz, cooperação, ampliação do comércio e dos investimentos, geração de empregos e crescimento sustentável são fatores essenciais para construir um futuro inclusivo e repleto de oportunidades”.
Lula foi aplaudido ao destacar a necessidade de uma maior participação das mulheres na política e defender que seja eleita pela primeira vez uma mulher latino americana para presidir as Nações Unidas. Confira o pronunciamento de Lula na íntegra!
Assista ao discurso de Lula na CELAC
Leia o pronunciamento de Lula na íntegra
Discurso do presidente Lula na abertura da IV Cúpula CELAC-UE, em Santa Marta (Colômbia)
Quero saudar o trabalho da Colômbia e da União Europeia pela realização desta Quarta Cúpula birregional. Desejo igualmente expressar minhas condolências às vítimas das tempestades que atingiram recentemente o Caribe e o estado do Paraná, na região Sul do Brasil. Nossos pensamentos e orações estão com todas as vítimas e seus familiares.
A CELAC e a União Europeia são centrais para a construção de uma ordem mundial baseada na paz, no multilateralismo, e na multipolaridade. Há dois anos, quando nos reunimos em Bruxelas pela última vez, vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria. Desde então, experimentamos situações de retrocesso.
A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria.
A intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa. Voltamos a conviver com as ameaças do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado.
Projetos pessoais de apego ao poder solapam a democracia. Estamos deixando de cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas ideológicas se imponham.
Como resultado, vivemos de reunião em reunião, repletas de ideias e iniciativas que muitas vezes não saem do papel. Nossas Cúpulas se tornaram um ritual vazio, dos quais se ausentam os principais líderes regionais.
A guerra no coração da Europa segue semeando a incerteza e canaliza para fins bélicos recursos até então essenciais para o desenvolvimento justo e sustentável que sonhamos. A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais.
Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional. A democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvazia os espaços públicos, destrói famílias e desestrutura negócios.
A segurança é um dever do Estado e um direito humano fundamental. Não existe solução mágica para acabar com a criminalidade. É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas. O alcance transnacional do crime coloca à prova nossa capacidade de cooperação.
Nenhum país pode enfrentar esse desafio isoladamente. Ações coordenadas, intercâmbio de informações e operações conjuntas são fundamentais para que a gente consiga vencer. Foi com esse objetivo que renovamos o Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, com a Argentina e o Paraguai.
Em Manaus, estabelecemos o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, reunindo agentes de nove países sul-americanos. Essas são plataformas permanentes de cooperação para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, de armas e de pessoas.
Meus amigos e minhas amigas, a COP30, que está acontecendo no coração da Amazônia, é uma oportunidade para a América Latina e o Caribe mostrarem ao mundo que conservar as florestas é cuidar do futuro do planeta.
O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre é uma solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas.
A transição energética é inevitável. Nossa região é fonte segura e confiável de energia limpa e pode acelerar a redução da dependência dos combustíveis fósseis.
Também temos um enorme potencial de aprofundar nossos laços econômicos. O Acordo MERCOSUL-União Europeia prova que é possível fortalecer o multilateralismo também na frente comercial.
Na próxima Cúpula do MERCOSUL, em dezembro, espero que os dois blocos possam finalmente dizer sim para o comércio internacional baseado em regras como resposta ao unilateralismo.
Com esse instrumento, integraremos duas das maiores áreas de livre comércio do mundo para formar um mercado de 718 milhões de pessoas e PIB de 22 trilhões de dólares.
Novas cadeias produtivas resilientes podem reverter o papel da América Latina e o Caribe de fornecer matéria-prima e mão-de-obra barata para o mundo desenvolvido.
Somos duas regiões pioneiras na promoção da igualdade de gênero. Podemos abrir o caminho para a superação do trabalho invisível e não remunerado das tarefas de cuidado, que recaem de forma desproporcional sobre as mulheres. Mulheres que, apesar de representarem mais da metade da população mundial, nunca exerceram a mais alta função das Nações Unidas. É chegada a hora de ter uma latino-americana no cargo de Secretária-Geral da ONU.
Precisamos enviar ao mundo um sinal de que duas regiões estratégicas como América Latina e Caribe e a Europa estão comprometidas com uma agenda promissora.
Uma agenda de paz, cooperação, ampliação do comércio e dos investimentos, geração de empregos e crescimento sustentável. Fatores essenciais para construir um futuro inclusivo e repleto de oportunidades.











