Ata desmoralizada do BC afirma que seguirá asfixiando o país por um longo tempo

Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Mesmo com IPCA mais baixo desde 1998, a “facção” dos banqueiros e rentistas dentro do BC segue mantendo juros indecentes e insuportáveis

O Banco Central (BC) mantém-se aferrado aos desastrosos dogmas neoliberais e afirmou, em ata divulgada nesta terça-feira (11), que pretende manter a taxa Selic em 15% ao ano por período “bastante prolongado”. O objetivo seria alcançar a meta de inflação de 3,0%. O plano verdadeiro é impedir que a população possa consumir e que os investimentos públicos sejam paralisados para não atrapalharem a drenagem de lucros para os bancos e agiotas.

Mesmo com o IPCA tendo ficado em 0,09% em outubro, o menor índice desde 1998, segundo dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE, os lunáticos do BC seguem aumentando os juros reais e estrangulando a economia do país. Segundo o mesmo IBGE, a produção industrial apresentou taxas negativas em 6 dos 15 locais pesquisados pelo IBGE em setembro, na comparação com agosto, puxando o resultado negativo (-0,4%) da indústria nacional.

Na contramão do mundo, o documento do BC afirma que o cenário inflacionário futuro continua desafiador. Faz isso mesmo sendo obrigado a reconhecer “uma moderação gradual da atividade e certa redução da inflação corrente e das expectativas inflacionárias”. Ou seja, o BC só se move para subir os juros, quase nunca para baixar. Qualquer elevaçãozinha de inflação gera uma alvoroço pela alta dos juros, mas, ao contrário, como agora, quando a inflação cai – e já há algum tempo -, não há mudança na política de arrocho do BC.

“Na medida em que o cenário tem se delineado conforme esperado, o Comitê dá prosseguimento ao estágio em que opta por manter a taxa inalterada por período bastante prolongado, mas já com maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, disse o BC na ata. É bom que se registre que os juros reais estão subindo, já que a inflação está caindo.

Mais uma vez fica claro que a missão dos diretores do BC é garantir juros reais nababescos para os banqueiros. País nenhum do mundo consegue conviver muito tempo com uma taxa de juros reais de 10% com está ocorrendo no Brasil.

Na semana passada, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva. A decisão do comitê aconteceu apesar dos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para cortes na taxa básica de juros. O nível, que foi alcançado em junho, é o mais alto desde julho de 2006, no primeiro mandato de Lula, e a manutenção contrariou todo o setor produtivo nacional.

O colegiado se aferra aos lucros dos bancos e não dá ainda sinais de quando começa a reduzir a Selic. No mercado financeiro, as apostas se dividem majoritariamente entre janeiro e março. O pretexto para seguir subindo os juros reais como sempre são as “estimativas” de inflação, feitas pelo cartel dos bancos, o mesmo cartel que forma o Boletim Focus para fazer lobby junto ao próprio BC. Eles sempre insistem na meta, que, como é irreal, não será atingida nunca. A inflação, portanto, estará sempre acima dela. Mesmo que, como no momento atual, ela esteja já praticamente no teto da meta, o discurso continua o mesmo: mais arrocho fiscal e mais juros altos.

Sem perder o cacoete, o BC se meteu mais uma vez na política fiscal do país, preconizando mais asfixia sobre a sociedade e a produção. Continuou a defender que “a atuação contracíclica (arrocho) e a redução do prêmio de risco favorecem a convergência da inflação à meta”. “O Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, repetiu.

“Na discussão sobre esse tema, a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi de que, em um ambiente de expectativas desancoradas, como é o caso do atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, reforçou. Ou seja, a “meta” é sempre cortar as verbas da sociedade e garantir recursos bilionários para os bancos e rentistas.

“Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, destacou o colegiado. Em suma, a diretoria do Banco Central age, não como servidores do país, mas sim como uma “facção” dos banqueiros e rentistas incrustrada dentro da instituição financeira do país.

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