Abusos perpetrados contra os 252 migrantes enviados às megaprisões de Bukele – e devolvidos a Caracas pela estupidez de Trump – foram documentados, revela a Human Rights Watch
“Eles chegaram ao inferno: Tortura, espancamentos e violência sexual contra venezuelanos no Centro de Detenção para Terroristas (Cecot) de El Salvador”, sintetiza o relatório da Human Rights Watch (HRW), descrevendo as denúncias dos horrores praticados contra os 252 migrantes que passaram pela megaprisão do presidente, Nayib Bukele, promovido a novo símbolo da extrema-direita e do bolsonarismo. A partir do seu desgoverno, El Salvador passou a ser o país com maior população carcerária do mundo.
Com base nos depoimentos de venezuelanos que sofreram na pele por quatro meses e três dias na masmorra da Cecot até o dia 18 de julho, a ONG Cristosal, centros de pesquisa, documentos oficiais e especialistas forenses desnudaram as entranhas do local, construído de forma que quase ninguém pudesse sair. Ao contrário, relataram, “disseram que só sairíamos de lá dentro de uma sacola preta”, apontando que tão grave quanto o que sofreram na carne foi o que ficou marcado para sempre como trauma.
Como metade deles sequer tinha antecedentes criminais, tendo sido expulsos dos Estados Unidos por preconceito e xenofobia do governo Trump, os venezuelanos dizem que não se identificariam com nome próprio à reportagem, mas que vão entrar com processo para exigir uma indenização pelo sofrido. De acordo com a HRW, do grupo deportado como “integrantes da gangue Tren de Aragua”, somente 3% tinham sido condenados nos EUA por crimes violentos ou potencialmente violentos.
GOVERNO TRUMP: CÚMPLICE DA TORTURA E DO DESAPARECIMENTO FORÇADO
“O governo Trump foi cúmplice de tortura, desaparecimento forçado e outras graves violações dos direitos humanos e deveria parar de enviar pessoas para El Salvador e qualquer outro país onde corram o risco de serem torturadas”, denuncia a diretora para as Américas da HRW, Juanita Goebertus.
Sobre a desaparição forçada, é o próprio New York Times quem reconhece: “Os pais de José Alfredo Vega disseram que só conseguiram identificar o corpo do filho por uma cicatriz da infância. O corpo estava tão inchado que era irreconhecível”. “Ele saiu daqui com boa saúde”, disse o pai, Miguel Ángel Vega, relembrando a noite de quase três anos atrás, quando a polícia invadiu a casa da família e levou o filho. “Ele estava saudável”. Agora, aos 29 anos, José Alfredo estava morto em um necrotério.
Um dos venezuelanos sem qualquer passagem pela polícia relata que quatro guardas abusaram sexualmente dele quando o levaram para uma cela de isolamento ainda pior, chamada “a ilha”, onde os que eram considerados culpados de quebrar as regras eram punidos regularmente com mais espancamentos, confinamento solitário e privação de comida e água. “Eles brincavam com os cassetetes no meu corpo. Colocavam os cassetetes entre as minhas pernas e esfregavam-nos nas minhas partes íntimas”, disse Mario (nome fictício). Depois, foi forçado a praticar sexo oral. Outro detento, recorda que foi “agredido sexualmente durante os espancamentos, com os guardas agarrando seus órgãos genitais”. “Acho que os outros não contariam porque é muito íntimo e vergonhoso”, descreveu.
“Os guardas me batiam muito, no corredor do módulo e na cela de castigo. Eles nos batiam quase todos os dias”, relatou Gonzalo. Três dos detentos ouvidos pelas ONGs disseram ter sido vítimas de violência sexual. Um deles contou que foi abusado sexualmente por quatro guardas e forçado a praticar sexo oral.
Após visitas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e da secretária americana de Segurança Interna, Kristi Noem, ao “inferno” – conforme admitido pelo próprio diretor da prisão a um dos detentos – ela gravou um vídeo de costas para os presos, no qual agradece ao presidente Bukele pela colaboração com os EUA para trazer os venezuelanos, que classificou de terroristas, para sua masmorra.
Bem diferente da encenação feita pela trumpista, o nariz de Daniel foi quebrado após ele não se acovardar e informar, junto a outros prisioneiros, em 7 de maio, o que estava acontecendo aos funcionários da Cruz Vermelha. Espancado com um pedaço de pau e muitos socos no nariz o deixaram como um sangramento intenso. “Eles continuaram me batendo na barriga e, quando tentei respirar, comecei a me engasgar com o sangue. Meu nariz ficou torto por causa desses golpes”, confirma o relatório.
Existem também imagens contudentes que falam por si, como das cicatrizes circulares na mão de Mateo e no peito de Carlos, alvejados por balas de borracha à queima-roupa dentro da cela.
“Depois da entrevista, eles vieram à tarde para nos levar das celas para uma área de revista e nos bateram novamente, dizendo que era porque tínhamos contado à Cruz Vermelha sobre as agressões. Só me bateram naquela tarde, mas outros detentos foram espancados durante toda a semana seguinte”, relatou Flávio. Da mesma maneira que outros detentos, reitera que a tortura psicológica foi o que mais o afetou. “A parte mais difícil foi que os guardas nos disseram que nunca sairíamos dali, que nossas famílias já nos davam como mortos”. Uma frase que repetiam com frequência era: “A única maneira de sair do Cecot é dentro de um saco para cadáveres”; ou seja, mortos.











