Deputado Euclydes Pettersen, ex-ministro de Bolsonaro e ex-presidente do INSS são apontados como beneficiários de propinas em fraude que desviou mais de R$ 640 milhões
A nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF (Polícia Federal), nesta quinta (13), atingiu diretamente o deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), alvo de mandado de busca e apreensão.
Ele é suspeito de receber propina para atuar politicamente em defesa dos operadores da fraude, que descontava ilegalmente valores de aposentadorias e pensões do INSS. Segundo a PF, Euclydes Pettersen teria recebido R$ 14,7 milhões em propina da Conafer para blindar no Congresso o esquema de fraudes contra os aposentados.
Mensagens obtidas pela PF mostram Pettersen identificado como “Herói E” nos diálogos internos da organização.
Segundo os investigadores, o deputado era abastecido por Vinícius Ramos da Cruz, presidente do ITT (Instituto Terra e Trabalho) — preso nesta quinta —, que funcionava como intermediário e canal de pagamento.
O deputado declarou apoio à reeleição de Jair Bolsonaro e foi apoiador do governo bolsonarista. O parlamentar de direita vivia atacando o governo Lula em nome da suposta “moralidade”.
Em junho de 2020, o deputado, então no PSC, relatou com satisfação seu encontro com Jair Bolsonaro. “Nesta quarta (24), tive o prazer de me reunir, em um café da manhã, com o Presidente @jairmessiasbolsonaro e as lideranças do PSC em âmbito nacional”, postou em rede social, assinalando que “fortalecemos nosso apoio ao governo, refletido desde o início do mandato, já que votamos cerca de 90% em acordo as propostas governamentais”.
LIGAÇÃO FINANCEIRA ENTRE PETTERSEN E ITT
Em outro trecho das conversas, Vinícius busca dados de pagamento do parlamentar para repassá-los a assessor da Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais).
Documentos da operação mostram ainda ligação financeira entre Pettersen e o ITT: ele vendeu aeronave ao dirigente da ONG e, simultaneamente, destinou emendas que beneficiaram a entidade.
Pettersen, claro, negou envolvimento e disse confiar “na Justiça e nas instituições”.
CONAFER NO CENTRO DO ESQUEMA
A PF já apontava o deputado como porta-voz político da Conafer, confederação suspeita de desviar recursos de convênios com o INSS por meio de filiações fraudulentas.
Tanto a Conafer quanto o ITT estão na mira da PF e da CPMI do INSS, que investiga os desvios bilionários.
A Conafer é acusada de falsificar fichas de filiação, inserir dados fraudulentos nos sistemas do INSS e utilizar empresas de fachada para distribuir recursos ilegais. A PF estima que R$ 640 milhões foram desviados apenas entre 2017 e 2023.
BOLSONARISTA COMO PILAR DA FRAUDE
As apurações também alcançaram Ahmed Mohamad Oliveira — ex-José Carlos Oliveira —, ex-ministro do Trabalho e Previdência no governo Jair Bolsonaro (PL). Ele teria sido um dos pilares institucionais do esquema.
Quando diretor de Benefícios do INSS, Ahmed autorizou repasses ilegais à Conafer, inclusive o desbloqueio de R$ 15,3 milhões, sem exigir comprovação de filiações ou documentos obrigatórios.
Decisão que, segundo a PF, permitiu reativar e expandir a fraude, incluindo mais de 650 mil benefícios no esquema.
Planilhas apreendidas registram pagamento de R$ 100 mil ao codinome “São Paulo Yasser”, apelido que teria sido atribuído ao ex-ministro. Conversas por meio do WhatsApp indicam mensagens de agradecimento enviadas após recebimento de valores.
R$ 250 MIL POR MÊS
Outro alvo central da operação é Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS, preso nesta quinta-feira. De acordo com a PF, ele recebia até R$ 250 mil mensais da organização criminosa para manter a engrenagem ativa.
Interceptações, planilhas e autorizações de repasses sem comprovação reforçam o papel estratégico de Stefanutto no esquema iniciado a partir de ACT (Acordo de Cooperação Técnica) firmado em 2017.
As propinas circulavam por empresas e até por pizzaria usada como fachada.
COMO FUNCIONAVA A FRAUDE
A Conafer abordava aposentados para supostamente cancelar convênios. As assinaturas eram então usadas de forma fraudulenta para autorizar novos descontos em folha.
O processo incluía:
• falsificação de fichas de filiação;
• inserção de dados fraudulentos nos sistemas do INSS;
• uso de empresas “laranjas” para distribuir a propina; e
• intermediação política para garantir continuidade do esquema.
Com o avanço das investigações, a PF cumpriu 63 mandados de busca e apreensão, 10 prisões e diversas medidas cautelares em vários Estados.











