Israel deixa 85% dos estudantes de Gaza sem aulas, denuncia Unicef   

Antes da agressão israelense, apenas 2% da população de Gaza era analfabeta, aponta a Unesco (Anadolu)

Centenas de milhares de crianças tiveram as escolas transformadas em ruínas ou refúgio, rodeadas por escombros e dejetos, denuncia o Fundo das Nações Unidas para a Infância

Milhares de menores sobreviventes em Gaza – que tiveram a sorte de não perder familiares, colegas ou professores – ainda não sabem quando poderão retomar os estudos, já que suas escolas foram completamente arrasadas por bombardeios israelenses desde 7 outubro de 2023. Os estabelecimentos que ficaram de pé vêm sendo usadas como abrigo

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância  (Unicef), os crescentes ataques danificaram ou destruíram mais de 97 % das escolas de Gaza, o que deixou a situação educacional à beira do colapso, levando especialistas da ONU a acusarem Israel por mais este crime.

Das mais de 630 mil crianças que se estima terem tido seu desenvolvimento escolar afetado, apenas 100 mil retomaram seus estudos em instalações temporárias montadas pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (Unrwa).

Segundo a ONU, mais de 91% das escolas de Gaza (518 de 564) precisarão ser reconstruídas antes de poderem ser usadas novamente. A Unrwa afirma que 432 instalações educacionais foram alvejadas diretamente, fazendo com que mais de 630 mil crianças deixassem a escola.

A situação fica ainda mais crítica quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aponta que apenas 2% da população de Gaza com mais de 15 anos era analfabeta antes da agressão israelense, uma das porcentagens mais baixas do mundo árabe. Os jovens da Faixa eram educados e cultos, embora fossem obrigados a ver o mundo através da tela de um celular devido ao bloqueio israelense, em vigor desde 2007. O atual vazio põe em xeque toda uma geração.

“Muitas das escolas estão destruídas. Cada escola a que vou me dizem que não há espaço”, lamentou Bissan Younis, habitante da região de Deir Al-Balah, frisando à AP que o aprendizado se dá em meio a escombros e detritos.

Dados do Ministério da Educação palestino indicam que pelo menos 18.591 estudantes em idade escolar foram mortos e 27.216 ficaram feridos durante a invasão, que ceifou a vida de 792 trabalhadores da educação e feriu 3.251.

“ATRASOS EDUCATIVOS PARA TODA UMA GERAÇÃO”

Um porta-voz do Unicef, John Crickx, assinalou que a situação é bastante crítica uma vez que os menores não apenas estão tendo atrasos educativos significativos, mas também problemas de saúde mental que podem trazer “terríveis consequências para toda uma geração”.

“Basicamente são barracas de campanha entre as tendas de pessoas deslocadas, algumas estruturas pré-fabricadas ou refúgios, o que é quase nada para a educação básica”, lamentou Crickx.

O Centro Al Mezan para os Direitos Humanos relatou que, no norte de Gaza, 100% dos prédios escolares foram destruídos; na Cidade de Gaza, 92,8%; e em Rafah, 91%. A denúncia é que, ainda por cima, diversas escolas foram convertidas em bases militares israelenses ou centros de detenção. “Além dos ataques direcionados contra as instituições de ensino, há uma clara ligação entre o deslocamento forçado de civis e a destruição de escolas. A primeira ordem de deslocamento, que afetou as províncias do norte de Gaza, levou à realocação em massa de moradores para as províncias do sul”, assegurou o Centro. “Devido a essa destruição sistemática, aos bombardeios contínuos, aos repetidos deslocamentos forçados, aos cortes de energia e internet e ao fardo imposto aos estudantes para ajudar suas famílias a obter comida, água e lenha para cozinhar, mais de 600.000 estudantes palestinos sofreram uma interrupção completa de sua educação durante o genocídio”, sintetizou o Al Mezan.

Cinicamente os sionistas alegam que o problema é o Movimento de Resistência Islâmica Hamas, que estaria utilizando escolas e universidades como parte de sua infraestrutura para armazenar armas ou como centros de comando. Nada mais torpe, já desmentido pela ONU e pelas organizações de direitos humanos.

PROFESSORES TRABALHANDO NO LIMITE

Em contraposição, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina aponta que seus professores estão trabalhando no limite, atendendo a cerca de 40 mil alunos. Porém a situação é extremamente complexa, já que ainda existem milhares de alunos sem lar que necessitam usar barracas para ter um lugar onde dormir. Na avaliação da organização, cerca de 75 mil pessoas ainda dormem nas escolas que a agência instalou ao longo da Faixa de Gaza.

Não só a pequena quantidade de tendas é um problema, mas os locais onde possam estar instalados, já que existem inúmeras escolas e prédios danificados que colocam as crianças em risco.

ISRAEL IMPEDE ATÉ O ACESSO DE LÁPIS, CANETAS E CADERNOS

Além disso, os representantes da Unrwa esclarecem que, apesar do cessar-fogo ordenado há mais de um mês, Israel continua impedindo o ingresso de objetos como lápis, caneta ou cadernos, já que os sionistas não os consideram artigos de primeira necessidade para os palestinos.

Diferentes agências da ONU calculam que a reconstrução da Gaza levará vários anos e um investimento que poderá superar os US$ 50 bilhões de dólares. No custo não está incluído várias questões, como por exemplo o atendimento psicológico para quem sobreviveram aos ataques israelenses dos últimos dois anos.

“As crianças esqueceram o que aprenderam. Sua vida nos últimos dois anos tem sido conseguir água, perseguir os caminhões de ajuda humanitária, a guerra, Hamas, buscar refúgio e destruição. Os pequenos têm vivido com medo ou com horror”, relatou Tahreer al-Oweini, habitante de Gaza.

Há 15.600 casos mais graves, apontou Tarik Jasarevic, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), que necessitam “evacuação médica urgente”, dos quais 3.800 são crianças. “É preciso incentivar mais países a aceitarem pacientes. Os pacientes também precisam ser enviados para a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, para tratamento”, acrescentou.

TERRORISMO DE ESTADO ISRAELENSE

O terrorismo de Estado de Israel e sua política genocida falam por si. A projeção é de que nos últimos dois anos pelo menos 21.000 crianças palestinas foram mortas pelas “Forças de Defesa” de Israel (IDF) e cerca de 40.500 ficaram feridas, das quais pelo menos 21.000 agora sofrem algum tipo de deficiência, de acordo com o Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

A avaliação da UNRWA é de que 1,9 milhão de moradores da Faixa de Gaza foram deslocados desde o início da guerra, e de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 84% da área total da maior prisão do mundo tenha sido devastada. 300 mil casas foram completamente destruídas e outras 200 mil foram parcialmente danificadas pelo fascismo israelense.

A análise da Autoridade Palestina é que 85% da infraestrutura civil está completamente destruída: apartamentos, casas, estradas, sistemas de água e eletricidade, instalações comerciais, empresas e escolas.

A ONU arremata a denúncia: mais de 400 trabalhadores humanitários foram mortos na Faixa de Gaza desde outubro de 2023 devido aos bombardeios israelenses incessantes.

A Relatora Especial da ONU sobre os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, alertou que a paz não estará garantida enquanto Israel não cessar suas políticas de apartheid contra o povo palestino: “Chamar este acordo de ‘paz’ é tanto um insulto quanto uma distração. Todos os olhares devem estar voltados para a Palestina: Israel deve enfrentar justiça, boicote, desinvestimento e sanções [como ocorreu passado contra a África do Sul], até que a ocupação, o apartheid e o genocídio terminem e a responsabilização por cada crime seja estabelecida”.

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