Governador bolsonarista do DF transferiu R$ 12,2 bilhões ao banqueiro preso em operação da PF. Ciro Nogueira defendeu a negociata e indicou o chefe do BRB afastado. O governador bolsonarista do Rio injetou R$ 2,6 bilhões da Rioprevidência no Banco fraudulento
A Polícia Federal, aquela mesma que o deputado bolsonarista Guilherme Derrite, tentou esvaziar e manietar, desbaratou, nesta terça-feira (18), mais uma quadrilha que rouba o país. Desta vez ela impediu, com a Operação Compliance, um golpe bilionário do dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, que acabou preso quando se preparava para fugir do país num jato particular no Aeroporto de Guarulhos. O sócio dele, Augusto Lima, também foi detido. Além destes, outros três diretores do banco Master foram presos.
Segundo a Polícia Federal, também foram apreendidos carros de luxo, obras de arte e relógios. Ao todo, seis pessoas foram presas até o momento. Somente na casa de Augusto Lima a PF encontrou R$ 1,6 milhão em dinheiro vivo. Na noite anterior à prisão, o banqueiro tentou despistar a Polícia Federal anunciando que tinha vendido o Banco Master para o grupo Fictor Holding Financeira, uma empresa dos Emirados Árabes Unidos. Não houve tempo. Com a liquidação do banco, o negócio foi automaticamente suspenso.
Entre os crimes do Master estão gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa. No final de março deste ano, o Banco de Brasília (BRB), de responsabilidade do governo bolsonarista de Ibaneis Rocha, se propôs a pagar R$ 2 bilhões por 58% do Master e ainda deixar o controle na mão dos atuais donos. Na prática, a operação foi vista como um salvamento, já que o Master tinha sérios problemas de liquidez. Na ocasião, o BC impediu que o Banco Regional de Brasília (BRB) participasse da operação.
As investigações da PF, que levaram à prisão de Daniel Vorcaro, descobriram que a cúpula do Banco Master, junto com a do BRB, “fabricaram” pelo menos 20 títulos de créditos consignados que nunca existiram para justificar uma transferência de R$ 12,2 bilhões do banco estatal de Brasília para o Master, entre janeiro e maio de 2025.
Num primeiro momento, a tentativa de encobrir a fraude se deu com a apresentação de contratos de crédito consignado. A investigação mostrou que, para tentar comprovar ao BC que as carteiras de crédito consignado supostamente compradas do Master efetivamente existiam, o BRB apresentou ainda 100 contratos de crédito consignado com pessoas físicas que nunca foram feitos de verdade, todos também autenticados numa mesma data de 2025.
Os diretores do BRB, banco de responsabilidade do bolsonarista de Ibaneis Rocha, também foram atingidos pela operação da PF. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo por decisão judicial, pelo prazo de 60 dias. Costa, que se encontra nos EUA, coincidentemente foi indicado por outro bolsonarista, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que esteve envolvido diretamente nas tratativas para a venda do Banco Master ao BRB. Quando o BC brecou a negociata, Ciro tentou demitir o diretor do BC porque este havia impedido a venda.
Como se não bastasse, aparece agora mais um bolsonarista envolvido nas falcatruas do Master. O governador Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, autorizou que o Rioprevidência, fundo responsável pela previdência dos servidores do estado, fosse o único investidor dos fundos paralelos criados pelo Banco Master e suas empresas coligadas. Documentos do Tribunal de Contas do Estado mostram que o Rioprevidência, fundo responsável pelo pagamento de aposentadorias e pensões de 235 mil servidores, aplicou R$ 2,6 bilhões em fundos do grupo liderado pelo Banco Master. O Rioprevidência rebate, dizendo que foi apenas R$ 1 bilhão.
O jornalista e ex-secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, destaca as figuras políticas envolvidas no escândalo do BRB e Master. “O Banco Master vinha em sérias dificuldades, fazendo operações suspeitas no mercado financeiro. Todo o sistema acompanhava”, afirmou. “A explosão do caso”, diz, “só não ocorreu antes porque houve uma tentativa de salvar o banco por meio da fusão com o Banco de Brasília (BRB), operação barrada pelo Banco Central. Se aquela ação tivesse sido concretizada, eles iam quebrar o BRB”, denunciou. Capelli chamou de operações fraudulentas e responsabilizou o governo do DF.
O diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirma que foi apreendido na Operação Compliance a soma de R$ 1,6 milhão (dinheiro em espécie) na casa de um dos investigados. “Estamos fazendo uma operação importante, com o Banco Central e o Coaf atuando em conjunto, em um crime contra o sistema financeiro. Fala-se em R$ 12 bilhões envolvendo esse crime em investigação, com várias prisões”, afirma Andrei. “Não sei quanto vamos conseguir bloquear. Sei que já em dinheiro apreendemos na residência de um investigado R$ 1,6 milhão em dinheiro nessa operação de hoje”, comentou Andrei.
O banqueiro falsário preso, Daniel Vorcaro, é também muito próximo do João Carlos Mansur, da financeira Reag, arapuca que foi investigada na Operação Carbono Oculto por suspeita de ligações com o PCC. O Banco Master abrigava fundos da Reag, A investigação policial que atingiu a Reag é considerada uma das maiores já realizadas contra o PCC, envolvendo fraudes, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro em fundos de investimento e fintechs. Há quem ligue os recentes ataques dos bolsonaristas, inclusive do relator Guielherme Derrite, à Polícia Federal aos resultados das Operação Carbono Oculto, que atingiu a cúpula do crime organizado em São Paulo.











