Sindicato repudia invasão de policiais em escola infantil após aula de cultura afro-brasileira

Invasão de policiais invadiram escola após pai relatar que filha desenhou Iansã em uma aula sobre a consciência negra - Foto: Reprodução

Doze PMs, um com metralhadora, invadem escola infantil após queixa de policial; professora relata ter sido encostada na parede com arma apontada para ela

O presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), Cláudio Fonseca, repudiou a entrada de policiais militares em uma escola de educação infantil da Prefeitura de São Paulo – inclusive um dos policiais portando metralhadora, o que provocou medo e indignação por parte da comunidade escolar. A ação aconteceu na terça-feira (11), na Emei Antônio Bento, zona oeste da capital paulista.

“O relato de um policial militar, portando uma metralhadora, entrando em uma escola infantil em São Paulo após a reclamação de um pai sobre desenhos de matriz africana, é um dos atos mais graves e covardes de racismo e intimidação já vistos na nossa rede. É um ataque frontal ao ambiente escolar e à democracia”, afirmou.

Cláudio ressaltou que o profissional da educação apenas cumpria a Lei 10.639/03, que determina o ensino da história e da cultura afro-brasileira na educação básica. “A resposta a um questionamento pedagógico jamais pode ser a militarização e a ameaça”, disse o sindicalista.

Uma funcionária da unidade relatou que na data citada, doze policiais militares armados – entre eles um portando metralhadora – circularam pelas dependências da escola após denúncia feita pelo pai de uma aluna. O homem alegou que a unidade estaria “obrigando” a filha a participar de “aulas de religião africana” por causa de um desenho que mencionava “Iansã”.

A servidora, que preferiu não se identificar, informou que a ação causou constrangimento e medo entre funcionários e familiares. Ela relata ter sido pressionada por cerca de 20 minutos e afirma que foi encostada contra a parede e teve uma arma apontada para seu corpo por um dos policiais, segundo relato ao portal g1.

Testemunhas disseram que a ocorrência mobilizou 12 policiais e pelo menos três viaturas. Um integrante do conselho de pais afirmou que a comunidade escolar ainda tenta se recompor após o episódio.

Um dia antes de chamar a PM, o pai da estudante teria destruído um mural com desenhos feitos pelas crianças, que retratavam elementos da cultura africana, segundo a direção da escola. A servidora que diz ter sido ameaçada registrou boletim de ocorrência contra ele. O homem, policial militar, também registrou ocorrência, negando o vandalismo. “Eles (PMs) disseram que era um caso de intolerância religiosa, e a diretora mostrou todo o material da prefeitura explicando que estava cumprindo a legislação”, afirmou um representante do Conselho de Escola à Folha de S.Paulo.

Pais ouvidos pelo jornal consideraram a atuação policial desproporcional. Relataram que os agentes elevaram o tom com a direção e permaneceram no local por cerca de uma hora e vinte minutos, mesmo após concluírem que não havia crime. “Imagina: você pede proteção e, de repente, chegam quatro policiais armados coagindo você”, disse um pai.

As crianças presenciaram a movimentação. De acordo com o representante do conselho, a presença dos policiais gerou estranhamento e deixou algumas delas assustadas. Ele contou que o filho, de cinco anos, pediu explicações ao chegar em casa.

Emei Antônio Bento, na Zona Oeste de São Paulo – Foto: Reprodução/Google Street View

VIOLAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR

Cláudio Fonseca defendeu a apuração do caso: “Exigimos a imediata apuração e punição do policial e do pai que instrumentalizou a força policial para intimidar educadores. As escolas são espaços de paz, aprendizado e laicidade, e não territórios de guerra ideológica e racista.”

Diante do episódio, o Sinesp (Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo), que integra a Coeduc ao lado de Simpeem e do Sedin, convocou um ato para 25 de novembro, às 15h, em frente à Emei Antônio Bento, em apoio à comunidade escolar.

“O Sinesp manifesta profunda indignação e absoluto repúdio à ação realizada por policiais na Emei Antônio Bento, após denúncia infundada e de caráter racista”, declarou a entidade. Para o sindicato, a presença de policiais fortemente armados em uma unidade que atende crianças de 3 a 6 anos configurou “grave violação ao ambiente escolar, gerando medo, constrangimento e insegurança entre profissionais, crianças e familiares”.

A entidade afirma ainda que a acusação de “aula de religião africana”, motivada por um desenho infantil produzido após a leitura de um livro de temática afro-brasileira, evidencia “visão racista, intolerante e contrária aos princípios da educação laica, plural e inclusiva”. O Sinesp explica que o trabalho pedagógico da escola segue o Currículo da Cidade, o Currículo da Educação Antirracista e documentos da Secretaria Municipal de Educação, todos alinhados à legislação federal que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena.

A Lei 10.639/03 tornou obrigatório, em todas as escolas da educação básica do país, o ensino da história e da cultura afro-brasileira. A legislação inclui conteúdos sobre a contribuição de povos africanos para a formação do Brasil e busca ampliar a representação da população negra no currículo escolar, com o objetivo de promover o reconhecimento da diversidade étnico-racial e subsidiar práticas de enfrentamento a desigualdades históricas no ambiente educacional.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *