ALTAMIRO BORGES
A administração do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) é um desastre. Infelizmente, porém, ela ainda é desconhecida pela sociedade paulista e brasileira. Eleito na carona da onda bolsonarista, esse forasteiro – que pouco havia pisado em São Paulo e não sabia sequer onde ficava seu colégio de votação – virou o queridinho dos abutres financeiros da Faria Lima e dos barões do agronegócio.
Apontado como o candidato da cloaca burguesa nativa para as eleições presidenciais de 2026, ele está totalmente blindado pela mídia hegemônica. Suas ações desastrosas em áreas essenciais para a população, como na segurança pública, na saúde ou na educação, não são manchetes nos jornalões e nem destaque nos noticiários da rádio e TV.
Com maioria folgada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), tendo o apoio ideológico dos deputados da extrema-direita e dos fisiológicos do Centrão, as sinistras iniciativas da sua gestão não são fiscalizadas ou investigadas.
Com a inelegibilidade do golpista e mentor Jair Bolsonaro, o “bolsonarista moderado” Tarcísio de Freitas, como é chamado pela imprensa chapa-branca, vai pavimentando o caminho para disputar o Palácio do Planalto ou conquistar mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes. Daí a urgência de conhecer melhor sua péssima administração e denunciar seus descalabros, intensificando a luta de ideias na sociedade.
A PROPAGANDA FALSA SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA
Principal bandeira do demagogo Tarcísio de Freitas na campanha eleitoral de 2022, a segurança pública é exibida como a maior vitrine do atual governo. Os dados estatísticos, porém, confirmam que a propaganda é uma farsa, uma mentira para enganar os inocentes.
Balanço mais recente da própria Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), publicado em 31 de julho, mostra que os homicídios cresceram 15,5% no primeiro semestre de 2025 na capital paulista. Foram 268 vítimas desse tipo de crime de janeiro a junho, contra 232 nos primeiros seis meses de 2024. No mesmo período, também houve aumento de 3,9% nos furtos (123,7 mil casos) e de 3,2% nos estupros (quase 1,5 mil casos).
Prova do fiasco paulista, dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que o Brasil teve queda dos homicídios, em 2024, pelo quarto ano consecutivo. Só São Paulo e mais três estados tiveram alta desse indicador no ano passado.
Parte desse aumento se deve à violência descontrolada da própria polícia. O número de pessoas mortas pela PM subiu 61% em 2024 – com 813 mortos, 309 casos a mais do que os 504 de 2023, primeiro ano da gestão Tarcísio de Freitas. No mesmo período, 32 policiais foram assassinados em serviço ou de folga, três ocorrências a mais do que em 2023. Um dos episódios mais trágicos dessa cruel letalidade policial foi a Operação Verão, ocorrida na Baixada Santista de fevereiro a abril do ano passado, que teve como saldo 56 mortos.
Isto explica porque, apesar da propaganda mentirosa do governo, a questão da segurança pública continua sendo a maior preocupação para os 23% dos paulistas, seguido do caos na saúde, com 16% de menções, conforme pesquisa Datafolha.
A PRIVATIZAÇÃO DISFARÇADA DA SAÚDE
No caso da saúde pública, a avaliação negativa da sociedade é plenamente justificável. O atual governo não investe o necessário no setor e desrespeita os profissionais da área. Em julho último, a categoria voltou a protestar contra Tarcísio de Freitas, acusando-o de descumprir as obrigações trabalhistas básicas.
Segundo o SindSaúde-SP, os salários estão defasados em 50%, há atrasos no pagamento do bônus por resultado, as carreiras não são valorizadas, as jornadas são extenuantes e falta material básico para atender os pacientes. Ao mesmo tempo, o gestor privatista repassa a administração dos hospitais estaduais para as sinistras “organizações sociais de saúde”.
Nos casos mais recente, OSS passaram a gerir os hospitais Heliópolis, Ipiranga, Guaianases, Nestor Goulart Reis, Regional de Assis e Infantil Darcy Vargas. Protestos foram realizados em viadutos da capital paulista, com enormes faixas estendidas: “Tarcísio inimigo do povo! A Saúde pede socorro!”.
De acordo com estudo do Conselho Nacional de Saúde (CNS), está previsto para 2025 o pagamento de R$ 17,5 bilhões às OSS, o que representa 48,2% do orçamento da Secretaria da Saúde. No ano passado, quando o orçamento da pasta foi de R$ 30 bilhões, o governo estadual repassou R$ 14 bilhões (46,4% do total). O neoliberal Tarcísio de Freitas já privatizou 23 hospitais em São Paulo.
A MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS E A “ENEL DA EDUCAÇÃO”
Outra área estratégica desprezada pelo fascistoide é a da educação pública. No primeiro ano do seu governo, Tarcísio de Freitas tentou substituir livros didáticos por materiais 100% digitais, uma medida absurda que gerou forte reação e foi arquivada. Ele ainda vetou um projeto aprovado na Alesp que previa mais psicólogos e assistentes sociais nas escolas – exatamente em um momento em que a violência estava em alta, com estudantes sendo vítimas de bullyings e assassinatos.
Na sequência, em outubro, o governador enviou proposta de orçamento com corte de R$ 9,3 bilhões no setor. Pela Constituição do Estado, São Paulo é obrigado a investir ao menos 30% da receita obtida com impostos na educação. Pelo projeto, esse percentual cai para 25%. Contra esse golpe foi criado o movimento “Grito pela Educação Pública de Qualidade” e ocorreram protestos com o mote “Tarcísio, tire as mãos do dinheiro da educação”.
O governador também decidiu apostar as suas fichas na privatização do setor, ação já apelidada de “Enel da educação”, lembrando o total desastre na área de energia. Em outubro de 2024, a Bolsa de Valores realizou o primeiro leilão para a construção e manutenção de 17 escolas estaduais. O privatista já anunciou que pretende transferir a gestão de 143 escolas para a iniciativa privada até o final do seu mandato. Ele também ainda não desistiu das autoritárias escolas cívico-militares, apesar das várias derrotas na Justiça.
* Este artigo tem como base a contribuição ao debate no 11º Congresso do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo), realizado no final de outubro.











