Tiroteio em bar em plena véspera de feriado matou três no Rio. A explosão de roubos de celulares em SP e demais estados mostra o abandono geral da população. Polícia desprestigiada e cúpulas dos governos locais ligadas às milícias e facções completam o quadro
Pelo menos 3 homens foram mortos a tiros em um ataque na madrugada desta quinta-feira (20) em um bar no bairro Santa Rita, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A população do Rio não tem sossego. As pessoas estavam se divertindo na véspera do feriado. O abandono da Segurança Pública por parte do governo bolsonarista de Cláudio Castro é colossal e coloca em risco a vida da população fluminense. As pessoas estavam num bar e entraram em pânico com o tiroteio generalizado. A Polícia informou se tratar de guerra de milícias.
GUERRA DE MILÍCIAS
As ligações do bolsonarismo com as milícias do Rio já são bastante conhecidas. Elas fazem com que regiões inteiras do estado do Rio sejam dominadas por bandos armados. A milícia controla regiões inteiras, chantageia e extorque a população. A Polícia, deixada à própria sorte pelo governo, fica sem verbas, sem armas adequadas e com salários achatados. Sem apoio, ela não consegue enfrentar a situação. Trava uma guerra desigual. Uma parte dos policiais, inclusive, acaba cooptada pelas milícias e pelo crime. O descaso do governo Castro com a polícia e com a Segurança Pública é brutal. O clima é de pavor entre os moradores das cidades e bairros de periferia do Rio.
Imagens recentes de chefões do Comando Vermelho – a principal facção do Rio – reunidos com o governador bolsonarista do estado dão conta de que há uma simbiose entre os criminosos, a milícia e a alta cúpula do poder no estado. É sabido, por exemplo, que a família Bolsonaro tem ligações íntimas e promíscuas com a milícia carioca há muito tempo. Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro chegaram o cúmulo de defenderem e homenagearem o pistoleiro Adriano da Nóbrega, miliciano que chefiava o Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinatos por encomenda das milícias do Rio. Mãe e ex-mulher do miliciano eram funcionárias fantasmas no gabinete de Flávio.
O governo do Rio faz encenações para fingir que combate o crime, mas há ligações da cúpula do governo com os dois lados da criminalidade. Há elos com os criminosos e com os grupos de extermínio. Castro, por exemplo, aparece abraçado e sorridente ao lado do criminoso TH Joias, traficante de armas ligado ao Comando Vermelho (CV), preso pela Polícia Federal. Ao mesmo tempo, um secretário de Castro foi flagrado recebendo visitas de outro integrante do CV. Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio, apontado pela Polícia Federal como tesoureiro do Comando Vermelho. Ele se reuniu com Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor do Rio de Janeiro, do governo Cláudio Castro (PL), para tratar de apoio político.
CÚPULAS PROTEGIDAS
Já a sangrenta operação realizada no Complexo do Alemão há algumas semanas teria sido justificada pela disputa de território entre o tráfico e a milícia. Neste caso a encenação parece mais claramente com uma ação pró-milícia. Nem um chefe foi preso. Nas razões apresentadas para a operação, Cláudio Castro fala em disputa entre milícias e o tráfico. Confira: “Comando Vermelho promovia ‘expansão violenta do tráfico em áreas de milícias’”, diz justificativa para a chacina. Isso levou ao questionamento das razões para a operação por parte da jornalista Mônica Bergamo: “então foi para conter o comando Vermelho nas áreas comandadas por milícias?”, indagou a repórter.
Estatísticas recentes confirmam a falência da política de segurança pública do bolsonarismo em quase todos os estados do Brasil. A Segurança Pública é uma responsabilidade constitucional dos estados. O Planalto bem que gostaria de reforçar a ajuda contra o crime. Para isso anunciou a PEC da Segurança Pública com reforço e unificação da inteligência e das polícias, mas o bolsonarismo recusa a ajuda federal e impede a votação do projeto na Câmara dos Deputados. O resultado é o avanço das facções criminosas.
O Rio de Janeiro registrou em agosto de 2025 alta expressiva em crimes como furto e roubo de celular, e roubo a estabelecimentos comerciais, na comparação com o mesmo mês de 2024. O furto de celulares subiu 40%, o roubo de celulares aumentou 20% e os assaltos a estabelecimentos comerciais cresceram 67%, na comparação entre agosto de 2024 e agosto de 2025. Ou seja, abandono total da população.
O Rio registra 67% de aumento em roubos a comércio; furtos e roubos de celular também crescem, informam os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A população já ão consegue se livrar de roubos de celulares no estado. Os roubos, quando há uso de violência ou grave ameaça, somaram 11.936 registros no período, mais que o dobro dos 4.864 casos contabilizados há dez anos. Já os furtos, que ocorrem sem uso de força, chegaram a 24.222 ocorrências, mais que o triplo dos 7.647 casos de 2015.
CRIMES CORREM SOLTO
Na cidade e no estado de São Paulo não se pode andar livremente nas ruas sem ser molestado pelos bandidos. O estado registrou 124.377 roubos e furtos de celular entre janeiro e agosto de 2025, segundo levantamento realizado pela TV Globo a partir de dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP). O número representa uma média de 511 crimes por dia — o equivalente a um roubo a cada 3 minutos. O governo do estado não apresenta uma solução convincente e a população continua a mercê do crime.
A recente operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, mostrou que o PCC, facção criminosa que controla o estado de São Paulo, parece receber proteção das autoridades. Esquemas pesados de lavagem de dinheiro envolvendo bancos, postos de gasolina e fintechs, inclusive, arapucas ligadas ao Banco Master, cujo presidente está preso, foram identificadas pela PF no estado. Outro dado que reforça as ligações do PCC com a cúpula do poder no estado foi o fato de um delator do esquema, Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, ter sido morto logo após a delação, por integrantes da própria Polícia Militar do estado. O secretário até hoje não deu explicações para estas ocorrências.
PCC E BANDEIRANTES
O fato é que, agora, Derrite saiu em campo atacando a Polícia Federal, num conluio escandaloso entre ele as facções. O próprio secretário de Segurança de São Paulo, o bolosonarista Guilherme Derrite, tentou deturpar um projeto de lei do governo Lula de combate às facções criminosas. Sua ação foi vista como tentativa de blindar a cúpula dessas organizações. Derrite tentou manietar a ação da Polícia Federal. Ele queira submetê-la aos governos locais. Tentou cortar verbas da PF e também dificultar o arresto de bens dos bandidos. A ação de Derrite foi caraterizada como uma tentativa escancarada de proteger o PCC. Os bolsonaristas conseguiram aprovar as benesses para os chefes das facções na Câmara, mas o governo federal já anunciou que pretende derrubar esse vergonhoso conluio nas votações do Senado.
SÉRGIO CRUZ
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