Preços dos combustíveis caem nas refinarias e sobem nas bombas
Apesar das reduções do preço do barril de petróleo nas refinarias da Petrobrás, o alívio não foi repassado para os consumidores, que continuam pagando caro pela gasolina nas bombas. A constatação é de pesquisa publicada na edição de novembro do Boletim de Preços dos Combustíveis do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), que analisou a evolução dos preços ao longo do ano.
De acordo com o estudo, os preços internacionais do barril de petróleo recuaram 18,6% (em dólar) no período, o que repercutiu em duas reduções nos preços praticados nas refinarias da Petrobrás. A estatal cortou o preço do barril em R$ 0,31 por litro – ou 10,3% no ano. Considerando a média do preço cobrado por todas as refinarias, a queda foi ainda maior, de 21,3%.
Isso não se refletiu nos preços da gasolina cobrados nas bombas: de janeiro para a outubro, o litro da gasolina inclusive subiu, de R$ 6,18, em janeiro, para R$ 6,20, em outubro, ou 0,3%.
“A principal razão foi o salto de 31,3% no valor da margem de distribuição e revenda, saindo de R$ 0,96 para R$ 1,26 no mesmo período, um aumento bastante superior ao dos demais componentes da gasolina vendida ao consumidor, como o etanol anidro, cujo preço foi elevado em 8,0% e os tributos estaduais, em 7,2%. Já os tributos federais apresentaram queda de 1,4%”, explica o Ineep.
A história é semelhante ao do gás de cozinha. Apesar da queda de 6,6% no PPI (Preço de Paridade Internacional) do GLP (gás liquefeito de petróleo), não houve redução imediata nem nas refinarias, nem para os consumidores.
“Pelo contrário: ao longo do ano, os combustíveis sofreram sucessivos aumentos, e em outubro atingiram, pela primeira vez, um patamar superior ao máximo registrado nos últimos cinco anos. Esse movimento foi impulsionado, sobretudo, pelo aumento da margem bruta de distribuição e revenda, que cresceu 8,3% entre janeiro e outubro”, exemplifica o estudo.
O Ineep defende que tanto a Petrobrás, quanto o governo, mantenham consistentes os investimentos da estatal para reduzir a vulnerabilidade das oscilações externas e garantam custos sustentáveis dos preços internos.
“Sem desconsiderar a relevância do preço internacional do petróleo como variável importante para o planejamento da Petrobrás, é fundamental que a companhia mantenha um nível consistente de investimentos, sobretudo nos setores de refino, biocombustíveis e transição energética, visando assegurar o abastecimento interno, a descarbonização da economia e a diversificação energética”, diz o estudo.
Em setembro, o Ineep destacou em boletim o efeito da privatização do setor de distribuição do gás de cozinha. Desde a venda da Liquigás, então subsidiária da Petrobrás, no governo Bolsonaro, os custos de distribuição e revenda do GLP dispararam. Em janeiro de 2021, essa margem correspondia a 37,1% do preço final. Hoje, representa 49,3%. O preço médio nacional do botijão saltou de R$ 77,78 para R$ 107,89 no mesmo intervalo.
Em agosto, o Conselho de Administração da Petrobrás decidiu retomar a distribuição nos segmentos de refino, transporte e comercialização, gás e energia e baixo carbono.
MONOPÓLIO PRIVADO
A Liquigás detinha 22% do mercado de distribuição de GLP e foi vendida para um consórcio formado pela Copagaz, Itausa e Nacional Gás, por R$ 4 bilhões, o que possibilitou uma concentração de mercado com prejuízo aos consumidores.
Essa concentração impede que a Petrobrás, que produz o GLP, tenha poder de regular o preço de venda ao consumidor. Atualmente, a estatal entrega 13kg de GLP por R$ 37,00, e o consumidor chega a pagar mais do que R$ 110 por botijão.
Assim como a Liquigás, a BR-Distribuidora também foi privatizada, em 202. Na reunião do Conselho da Petrobrás, não ficou decidido sobre a distribuição dos combustíveis líquidos nos postos de abastecimento. Com a privatização, a estatal não pode concorrer com a Vibra, atual dona da BR, conforme “contrato” por dez anos.
O esforço por abrasileirar os preços dos combustíveis fica prejudicado, quando a distribuição fica nas mãos do monopólio privado que só visa o lucro.











