Em duas novas gravações reveladas na sexta-feira, 16, pelo jornal El Espectador, pode-se ouvir o atual promotor geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, e o falecido engenheiro Jorge Enrique Pizano, discutindo sobre as irregularidades e delitos nos contratos de construção da estrada Ruta del Sol II, a cargo da Odebrecht, além de mencionar vários funcionários envolvidos.
No momento das gravações, em 2015, Martínez era assessor jurídico do Grupo Aval, e Pizano desempenhava o trabalho de auditor da Ruta del Sol II, projeto entre a Odebrecht e Episol – setor do Grupo Aval da Colômbia– que foi criado em 2010 para construir um trecho de 528 quilômetros de uma estrada que comunica o centro com o norte do país, contando com mais de 1 bilhão de dólares.
Testemunha-chave na elucidação desse escândalo de propinas da Odebrecht, após sua morte provocada por um suposto infarto, o engenheiro teve seu filho, Alejandro Pizano Ponce de León, envenenado com cianureto após ingerir o líquido de uma garrafa de água que estava na casa paterna, pouco depois de regressar da Espanha para lhe prestar sua última homenagem, segundo informou na terça-feira, 13, a Promotoria de Bogotá. Ver https://horadopovo.org.br/morre-envenenado-filho-de-peca-chave-no-caso-das-propinas-da-odebrecht-na-colombia/
Na gravação se escuta Pizano explicar a Martínez, com documentos em mão, como chegou à conclusão de que havia recibos falsos, empreiteiros que não tinham a experiência necessária para fazer os trabalhos, duplicação de assinaturas e reuniões sem justificação no escritório da concessionária Ruta del Sol, informou o jornal colombiano.
“Veja todos os delitos que tem sido cometidos (…). Suborno, lavagem de ativos, falsidade em documento privado, administração desleal, abuso de confiança, fraude, furto agravado, peculato por apropriação”. Assim detalhou Pizano a Martínez, durante encontro em agosto de 2015, os delitos que detectou nas contratações articuladas pela Odebrecht e Corficolombiana.
“Eu informei quais eram os contratos que apresentavam anomalias e corresponde a você informar a Odebrecht, aos administradores e a Corficolombiana”, disse. As empresas Odebrecht e Corficolombiana conformaram um consorcio paralelo para mexer exclusivamente com o desenvolvimento das obras. Essa nova frente de operações denominou-se Consol.
O áudio revela que, desde 2015, Martínez já sabia que o ex-senador Otto Nicolás Bula se reunia com diretores da concessionária. Bula foi o segundo preso por esse escândalo, depois do ex-vice- ministro Gabriel García Morales, que admitiu ter recebido 6.5 milhões de dólares da Odebrecht para que adjudicasse o projeto Ruta del Sol II.
Em outra gravação Pizano informa a Martínez de reuniões de diretores da obra com o empresário Federico Gaviria Velásquez e com Luis Bernardo Villegas, ex-secretário de Mobilidade. Ainda se menciona o chefe do Tribunal de Contas de Bogotá, Juan Carlos Granados Becerra, que desde a semana passada é investigado pela promotoria por possíveis nexos com a Odebrecht quando foi governador de Boyacá.
Segundo a investigação da Promotoria, que desde 2016 está a cargo de Martínez, todas essas anomalias ocultavam o pagamento de subornos a funcionários ou políticos em troca de benefícios para a Odebrecht.
O conluio foi revelado no domingo 11, pelo canal de Notícias Uno, que difundiu registros de áudio nos que se escuta a Pizano e Martínez falar de tais subornos. O engenheiro entregou a gravação ao canal com a condição de que a fizesse pública depois de sua morte, pois padecia um câncer linfático avançado.
Até o momento, foram presos o ex-vice- ministro de Transportes Gabriel García Morales, o ex-senador Otto Bula, o ex-assessor da Agência Nacional de Infraestrutura Juan Sebastían Correa, além dos empresários César Hernández, Gustavo Urrego e dos irmãos Enrique e Eduardo Ghisays.
A Promotoria ainda pediu a captura internacional de três executivos brasileiros da Odebrecht: Eder Paolo Ferracuti, Márcio Marangoni e Amilton Ideaki Sendai.
Outros que deverão responder pelas duas acusações anteriores e ainda pelo crime de enriquecimento ilícito são Federico Gaviria, Eduardo Zambrano e Gustavo Torres, todos empresários.