Centrais sindicais da Argentina denunciam projeto de Milei que ataca os direitos trabalhistas

Hugo Yasky intervém na conferência da Câmara dos Deputados com a participação de juízes do trabalho, advogados trabalhistas e sindicalistas (CTA)

No Fórum para a Defesa do Direito do Trabalho e da Justiça Social, secretário-geral da Central de Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky denunciou projeto do governo de ultradireita

“Como é possível entender que ainda tenhamos uma jornada de trabalho de 48 horas na Argentina? Como é possível que um homem tenha apenas dois dias de licença quando seu filho nasce? Menos do que para uma gripe. Como podemos ter tantos trabalhadores de plataforma em regime de trabalho semiescravo? Porque, mesmo que tentem disfarçar isso como empreendedorismo livre, não é. São trabalhadores semiescravos do século XXI”.

A afirmação foi feita pelo secretário-geral da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), Hugo Yasky, no Fórum para a Defesa do Direito do Trabalho e da Justiça Social, realizado na Câmara dos Deputados com a participação de juízes do trabalho, advogados trabalhistas e sindicalistas na última terça-feira (18).

Na avaliação de Hugo Yasky, também deputado federal do partido União pela Pátria, “estamos discutindo um projeto nacional, e a tentativa de impor reformas trabalhistas e tributárias pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) é essencialmente uma reconfiguração da soberania da Argentina”. “O problema do nosso país é a desigualdade, onde a riqueza gerada está concentrada e, ao mesmo tempo, temos uma pobreza crescente”, disse.

“RESTAURAÇÃO CONSERVADORA DA DÉCADA INFAME”

Para o dirigente da CTA, o que Milei está tentando implementar “não se trata de reforma trabalhista, mas sim de uma restauração conservadora do status quo que tínhamos durante a Década Infame, antes das leis criadas pelo movimento operário e das lutas do peronismo”. “É uma restauração conservadora da pior espécie, aliás. Porque eles nem sequer se dão ao trabalho de disfarçar o fato de que isso tem a ver com o século XXI. Queremos reformas trabalhistas que levem ao progresso”, enfatizou.

Entre os pontos que precisam estar na pauta do movimento sindical e popular, assinalou, estão uma legislação para trabalhadores de plataformas digitais e o direito à desconexão digital, pontos que se encontram extremamente vulneráveis em seus direitos. “É essencial não separar isso da discussão sobre o modelo do país. Porque a reforma tributária que aprofunda a concentração de riqueza, de modo que quem tem menos paga mais, está relacionada a essa outra reforma que eles querem propor. Fazem parte da mesma iniciativa”, acrescentou.

Por todas estas questões, frisou Hugo Yasky, “os debates que temos no Congresso devem ser refletidos nas ruas e na mobilização popular. Os argentinos devem dizer basta a esse tipo de abuso”.

“ACORDO COM EUA É SENTENÇA DE MORTE PARA A INDÚSTRIA ARGENTINA”

Para o dirigente da Central dos Trabalhadores da Argentina – Autônoma (CTAA), Hugo “Cachorro” Godoy, é essencial redirecionar nosso rumo como sociedade, a fim de “enfrentar o poder do império”. “Na semana passada, estávamos debatendo a reforma trabalhista e as propostas de lei quando o governo dos EUA anunciou um acordo comercial com a Argentina, que representa uma sentença de morte para a soberania e a indústria do nosso país”, condenou.

Segundo Godoy, “a velocidade e a força dessa ofensiva nos obrigam a ter uma capacidade de intervenção política mais rápida, ágil e criativa, porque a possibilidade de um futuro soberano está em jogo”. “Devemos enquadrar os debates e as abordagens de nossas organizações nesse contexto”, defendeu.

NÃO ÀS IMPOSIÇÕES DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

“As reformas trabalhista, tributária, previdenciária e criminal são quatro pilares do acordo com os EUA. São imposições do FMI que a Argentina não pode ignorar, pois violam a Constituição Nacional. Precisamos estar cientes dessa situação e criar condições para a unidade entre os diversos atores do movimento popular”, assegurou Godoy.

CGT RESGATA PAPEL DO PERONISMO E DA JUSTIÇA SOCIAL

“Sou filho de um caminhoneiro rural e de uma dona de casa. Meus filhos são sindicalizados e desfrutam de direitos trabalhistas. Algo aconteceu entre essas três gerações: o peronismo e a justiça social”, apontou o líder da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Jorge Sola, resgatando a necessidade de barrar qualquer tentativa de retrocesso e lutar coletivamente por avanços.

“Emoção e felicidade são frutos da justiça social, que não é uma aberração”, salientou Sola, explicitando a diferença com a concepção governamental. “Precisamos começar a inspirar as pessoas novamente por meio de um projeto nacional para todos”, concluiu.

Participaram do encontro o ex-ministro do Trabalho Carlos Tomada; o escritor, jornalista e advogado de direitos humanos Ulises Gorini; o advogado trabalhista e assessor sindical León Piasek; Luis Alí, secretário do Interior da Associação Argentina de Atores e Atrizes, e Daniel Pérez Guillén, representante da Ordem dos Advogados de Buenos Aires e dirigente da Federação Argentina da Magistratura, entre outras expressivas lideranças.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *