A Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Correios (Findect) divulgou uma nota pública em defesa dos Correios como patrimônio estratégico e essencial para o Brasil e repudiou recente reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, acusando o veículo de “desinformar a sociedade” ao apresentar conteúdo “sem apresentar o devido contexto histórico, econômico e regulatório que explica a atual situação da empresa”. Segundo a entidade, a reportagem da Globo reforçou “narrativa que alimenta pressões políticas pela privatização da estatal”.
Na nota, a Findect reivindica direito de resposta no mesmo telejornal, “para apresentar os fatos reais e defender a categoria de trabalhadores e a importância estratégica dos Correios para o Brasil”.
Segundo a entidade, ao contrário do que foi apresentado, “os Correios possuem um dos maiores índices de presença territorial do país e prestam serviços essenciais que nenhuma empresa privada assumiria – especialmente nos municípios mais distantes, onde a operação é deficitária, mas necessária para garantir cidadania, inclusão e integração nacional”.
De acordo com a Federação, a reportagem, exibida no último dia 24, “omitiu dados comprovados” como o que mostra que, entre 2000 e 2025, a estatal foi lucrativa e entregou à União mais de R$ 13,8 bilhões – ou seja, “mesmo com os déficits recentes, a União acumulou retiradas significativas de dividendos, fortalecendo o caixa do governo às custas da própria empresa” –, e que “a queda de receitas registrada nos últimos anos não se deve à incompetência da estatal nem à sua estrutura pública”.
A Findect argumenta que a queda de receitas registrada nos últimos anos se deve “às rápidas mudanças no mercado do e-commerce; à concorrência desleal de plataformas internacionais; a alterações normativas que retiraram dos Correios parte relevante das remessas internacionais; à ausência de investimentos federais durante décadas, e a decisões administrativas equivocadas de gestões anteriores”.
A entidade destaca ainda o compromisso da estatal com universalização do serviço postal, que assegura atendimento em todos os municípios brasileiros, inclusive os mais remotos, compromisso esse “que as empresas privadas não assumem”.
“O que é, por lei, obrigação da estatal, nenhuma empresa privada aceitaria cumprir. E isso explica por que os Correios têm uma capilaridade única, presente em milhares de localidades onde não existe sequer banco público”, afirma.
A entidade enumera ainda as regras que a universalização determina, como atendimento em todos os municípios do país; prazos, frequência de entrega e padrões de qualidade; tarifas acessíveis, justas e compatíveis com a capacidade de pagamento da população; manutenção de agências nos municípios onde a operação é deficitária, e garantia de acesso a serviços essenciais sem discriminação geográfica. “O setor privado atua apenas onde é lucrativo. Os Correios atuam onde é necessário”, ressalta.
Conforme a Federação, outro ponto ignorado pela reportagem é a concorrência desleal e o impacto das mudanças regulatórias sobre o comércio eletrônico internacional. A entidade cita a Portaria 1.086/2023, “que retirou dos Correios a prioridade no desembaraço de pequenos pacotes, e a mudança na Portaria 156/1999, que ampliou a base de cálculo do imposto de importação, fazendo com que plataformas estrangeiras passassem a operar com recolhimento antecipado via sistemas privados, como o Remessa Conforme”.
“Essas alterações deslocaram o fluxo de milhões de encomendas para concorrentes privados, enquanto os Correios continuam atendendo regiões onde ninguém mais atua”, destaca a Findect.
A Federação rebateu ainda a fala do professor Márcio Holland (FGV–SP), entrevistado na reportagem, quando afirmou que 85% de agências deficitárias deveriam ser fechadas. “A Findect considera essa declaração tecnicamente equivocada e socialmente irresponsável”, afirma.
“Fechar agências deficitárias significaria abandonar milhões de brasileiros em regiões isoladas; romper a política de universalização definida em lei; aprofundar desigualdades regionais; comprometer serviços públicos essenciais, e acelerar a privatização como único desfecho possível”, afirma a Federação.
“O caráter deficitário das unidades não revela ineficiência, mas sim compromisso público. O fechamento proposto pelo economista representaria um ataque direto ao direito dos brasileiros à comunicação, à logística e aos serviços governamentais prestados pelos Correios”, ressalta a nota.
“A Findect reitera sua defesa incondicional dos trabalhadores e da empresa pública. Repudia qualquer tentativa de construir uma narrativa de ineficiência para justificar privatização ou fechamento de agências”, diz a nota, reforçando o pedido oficial de que a Rede Globo conceda direito de resposta, para que a população tenha acesso aos fatos completos e esclarecidos.
“Os Correios são patrimônio nacional e só continuarão cumprindo sua função social com investimento, gestão responsável e compromisso público – não com ataques distorcidos na mídia”, reitera a entidade.











