Abandono das autoridades, polícia desprestigiada e vínculos da cúpula do governo com milícias e facções deixam a população à própria sorte
A Avenida Brasil, uma das principais ligações do Rio de Janeiro, precisou ser totalmente bloqueada nesta quinta-feira (27) durante um confronto intenso na região da Cidade Alta, na Zona Norte. É o terceiro dia consecutivo de conflitos graves na região. A população não consegue trabalhar nem estudar e muito menos se divertir, porque o caos tomou conta do estado. O clima é de abandono e pavor.
TIROTEIOS DIÁRIOS
O tiroteio desta quinta atingiu a rotina dos passageiros do ramal Saracuruna da SuperVia. Segundo a concessionária, os trens que passam pela Cidade Alta operam apenas entre a Central e a Penha e entre Caxias e Saracuruna. A estação de Cordovil, que fica próxima ao ponto do conflito, está sem atendimento. No BRT, a Mobi-Rio informou que o serviço foi interrompido em dois trechos da Avenida Brasil. No sentido Deodoro, a interrupção ocorre próximo à estação Mercado São Sebastião. Já no sentido Gentileza, o bloqueio é próximo à estação Vigário Geral.
A falta de segurança no Rio de Janeiro, o desprestígio dos policiais e o abandono das comunidades e bairros está atingindo um grau acentuado, fruto do descaso da administração bolsonarista com as demandas da população. Os bolsonaristas são defensores ardorosos do “Estado mínimo” para o povo e máximo para os bilionários. Eles são na verdade defensores de banqueiros e magnatas em geral. Para eles, o povo, que necessita dos serviços públicos de qualidade, não passa de massa de manobra.
E o pior é que há ainda denúncias graves de envolvimento direto de autoridades do estado com as facções criminosas e as milícias. O que se percebe é que a população está cercada por todos os lados, pela milícia, pelo governo omisso, e até envolvido nos crimes, e pelas próprias facções.

A ligação das milícias com os políticos bolsonaristas no Rio é bem antiga. É de se lembrar que Jair Bolsonaro foi um dos primeiros a apregoar o seu incentivo, quando ainda era deputado. Em 12 de agosto de 2003, o então deputado Jair Bolsonaro foi ao microfone do plenário da Câmara dos Deputados e discursou, dando os parabéns a grupos de extermínio que operavam na Bahia, afetuosamente chamados por ele de companheiros.
MILÍCIA E BOLSONARISMO: UM CASO ANTIGO
“Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o país não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio…Meus parabéns”, disse Jair Bolsonaro na ocasião.
Mais adiante, um dos chefões das milícias do Rio, Adriano da Nóbrega, assassino profissional, foi homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, maior comenda do estado. Não só isso. Ele foi defendido diretamente por Jair Bolsonaro, da Tribuna da Câmara, depois de ter sido preso pelo assassinato de um flanelinha que denunciou a extorsão da milícia. Não satisfeito com a cumplicidade, Flávio colocou a ex-mulher e a mãe do pistoleiro assassino como funcionárias fantasmas de seu gabinete na Alerj, quando ainda era deputado estadual.
Outro dado que reforça o conluio entre o bolsonarismo e as milícias está nas alegações para justificar a operação no Complexo do Alemão, realizada recentemente, onde morreram 122 pessoas. O governador bolsonarista Cláudio Castro deixa claro no texto que havia uma expansão violenta de uma facção sobre áreas dominadas pela milícia. Ficou-se com a clara impressão de que a “operação” do governo visava proteger milícias atacadas. Todo o morador do estado sente que há uma simbiose entre as administrações bolsonaristas e as milícias, que infernizam a vida da população.

Mais recentemente, viu-se que não é só o descaso e o abandono com a Segurança Pública por parte das autoridades do Rio, nem sua simpatia pelas milícias que exploram a população, as causas do caos vivido pela população fluminense. Há um envolvimento evidente também entre agentes públicos do bolsonarismo que controla o estado e as próprias organizações criminosas. O traficante de armas do Comando Vermelho, conhecido por “TH Joias”, foi flagrado em negociações diretamente com o governador Cláudio Castro.
CV E PCC AGRACIADOS COM BENESSES
Se não bastasse isso, reportagem da Folha de S. Paulo revelou que Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio, apontado pela Polícia Federal como tesoureiro do Comando Vermelho, reuniu-se com Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor do Rio de Janeiro, do governo Cláudio Castro (PL), para tratar de apoio político. As informações estão no relatório final da Operação Zargun, do dia 27 de setembro. A ação, deflagrada no início de setembro, mirou agentes públicos e políticos ligados ao tráfico internacional de armas e drogas.
De acordo com o relatório da polícia, o encontro entre os dois ocorreu no dia 13 de maio, segundo conversas extraídas do celular de Índio. Uma delas é um áudio enviado a Alessandro Pitombeira Carracena, que foi secretário estadual de Esporte e Lazer do Rio em 2022, além de subsecretário de Defesa do Consumidor até janeiro deste ano – ambos cargos na gestão Castro. Índio relatou que esteve com o secretário de “onde o senhor trabalha” e que conversou sobre política e sobre como poderia ajudá-lo. A polícia deduziu tratar-se de Gutemberg.
TARCÍSIO PCC
Outra administração bolsonarista, a do estado de São Paulo, também acusada de proteger o Primeiro Comando da Capital (PCC), se revelou claramente no episódio da relatoria do projeto antifacção do governo Lula. Guilherme Derrite se licenciou do cargo de Secretário de Segurança Pública do estado para defender bandidos e deturpar o projeto do governo federal de combate às facções criminosas. Logo de cara ficaram claras suas intenções pró facções. O objetivo central de Derrite era esvaziar a Polícia Federal.
A sociedade percebeu que o bolsonarismo defende bandidos, apesar de toda a demagogia em contrário. Na foto abaixo, o governador Tarísio aparece ao lado de Ney Santos apontado como chefão do PCC.

Derrite tentou obrigar a PF a pedir autorização aos governadores para investigar as facções. Não só isso, ele cortou as verbas da Polícia Federal. Ou seja, tentou um alívio total para os chefões do crime organizado. A intenção de blindar a cúpula do crime ficou ainda mais evidente quando Derrite propôs dificultar o arresto de bens das facções criminosas. A PF já arrestava de imediato os bens dos bandidos. O auxiliar de Tarcísio tentou passar que isso só ocorresse após o trânsito em julgado dos processos. O PCC e o CV aplaudiram a proposta.
BOLSONARISMO DEFENDE BANDIDOS
O que se conclui de tudo isso é que o crime tem grande impunidade e cresce bastante nas administrações bolsonaristas. Que o discurso demagógico dos bolsonaristas sobre segurança pública não passa de pura encenação. A verdade é que eles não combatem crime nenhum. Pelo contrário. Eles blindam a cúpula do crime, se aliam às milícias e abandonam a população à própria sorte. As encenações que fazem sobre endurecer penas é para inglês ver. Foi por isso que Derrite combateu a Polícia Federal. Para dar guarida aos criminosos. Os ataques à PF se acentuaram logo após a Operação Carbono Oculto, que desmantelou o principal esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
As encenações dos bolsonaristas, de que são contra o crime, visam exatamente esconder as ligações tenebrosas da cúpula bolsonarista com os criminosos de todos os tipos. Só para se ter uma ideia, nesta semana, mais precisamente na terça-feira (25), um vereador do PL, partido de Jair Bolsonaro, foi preso no Rio de Janeiro por agir diretamente em favor do tráfico de drogas. O bolsonarista Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti, foi preso no Rio de Janeiro por manter ligações diretas com os traficantes da região. Nada mais urgente, portanto para derrotar o crime organizado no Brasil, do que desmascarar o conluio do bolsonarismo com seus chefes.
SÉRGIO CRUZ











