De Miami, Ramagem pede reembolso de gastos em postos no Rio e no horário de votações

Deputado foragido Alexandre Ramagem (PL-RJ) (Foto: Mauro Pimentel - AFP)

Isso significa que a verba parlamentar foi utilizada por terceiros para abastecimento de veículos, o que é proibido pelo regimento da Câmara

Alexandre Ramagem (PL-RJ), foragido nos Estados Unidos, parece ter adquirido habilidade rara entre os seres humanos ou qualquer animal vivo sobre a Terra: estar em 2 lugares ao mesmo tempo.

Enquanto a localização dele em Miami era confirmada — com direito a condomínio de luxo e rotina tranquila — a Câmara dos Deputados registrava a participação dele em votações importantes na Casa. Foi em votação remota.

E, para completar o enredo, Ramagem apresentou notas fiscais de postos de gasolina no Rio de Janeiro referentes ao mesmo horário das sessões legislativas.

NOTAS

Documentos entregues pelo próprio deputado mostram abastecimentos em postos cariocas que coincidem com votações no plenário.

Detalhe: tudo isso enquanto ele estava, segundo registros oficiais, fora do País. As notas são datadas, autenticadas e geograficamente localizadas. Só não combinam com a presença física do parlamentar em território brasileiro.

Nas palavras do próprio gabinete, tratam-se de “quitanças rotineiras”. Rotineiras, talvez. Lógicas, não.

Tudo isso significa que a verba parlamentar foi utilizada por terceiros para abastecimento de veículos, o que é proibido pelo regimento da Câmara.

REFÚGIO AMERICANO E LICENÇA OPORTUNA

Ramagem fugiu para os Estados Unidos acompanhado da família e, poucos dias depois, solicitou licença do mandato parlamentar até 12 de dezembro.

A justificativa: “motivos pessoais”.

O pedido veio após o vazamento de informações que o localizaram em North Miami (EUA), enquanto enfrentava pressão do STF (Supremo Tribunal Federal), que caminhava para conclusão do julgamento da trama golpista, que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a 27 anos e 3 meses de prisão.

O deputado, ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Informações), fazia parte desse “núcleo crucial” ou “gabinete do golpe”.

O timing é, digamos, conveniente.

NARRATIVA EM RISCO, PREJUÍZO À IMAGEM

A revelação das notas coloca em xeque a narrativa construída pelo deputado. A Câmara, que já vive clima tenso por causa de ausências e justificativas frágeis de parlamentares, agora enfrenta situação que beira o surreal.

Como explicar votações, abastecimentos e deslocamentos coexistindo enquanto o protagonista tirava dias de “descanso” na Flórida?

Especialistas em transparência pública observam que, embora não seja crime apresentar notas que levantam suspeitas, o episódio revela “padrão de desorganização no mínimo curioso”, para usar eufemismo generoso. Condescendente.

PRÓXIMOS PASSOS

A Comissão de Ética da Câmara pode ser acionada, dependendo da pressão de partidos e da repercussão pública.

O caso — surreal — reforça a necessidade de rastrear com rigor o uso de verbas parlamentares e a compatibilidade entre atividades declaradas e agendas registradas.

Seja como for, fica a impressão de que Ramagem inaugurou nova modalidade de atuação parlamentar: o voto remoto geograficamente impossível. Proeza que, no Brasil real, não deveria passar despercebida. Tampouco, impune.

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