Envolvidos em bandeiras argentinas, familiares e amigos dos 44 tripulantes do submarino ARA San Juan protestaram em silêncio na Praça de Maio, em Buenos Aires, neste domingo, para denunciar o descaso do presidente Macri.
Nas cercas em frente à Casa Rosada, residência oficial do presidente, os manifestantes penduraram fotos dos submarinistas e denunciaram o pouco caso do governo. Apesar da embarcação ter sido encontrada no sábado (17), a 907 metros de profundidade, após estar desaparecida por mais de um ano, Macri continua sem lhes dar nenhuma atenção. “Já que diz que nós contamos com ele desde o primeiro dia, onde está? No final de semana o presidente não trabalha?”, questionou uma das familiares.
Familiares e amigos dos tripulantes lembraram que o governo somente começou a se mobilizar e convocar um processo de licitação para que uma empresa iniciasse a busca do submarino após uma ampla pressão da sociedade, que incluiu um acampamento na Praça de Maio. Após 52 dias, período em que mulheres se encadearam às grades da praça, o governo contratou a empresa norte-americana Ocean Infinity.
“O povo argentino acompanhou muitíssimo. Quando estivemos aqui vieram pessoas de todo o país somente para poder se somar ao abaixo-assinado e dar um abraço às famílias”, declarou Norberto Zani, um dos organizadores da concentração.
Na madrugada de sábado, o Ministério da Defesa e a Marinha da Argentina informaram que a Ocean Infinity encontrou o submarino perdido por meio de um veículo de observação remota. A embarcação está em uma região de cânions, espécie de rios submarinos, no Oceano Atlântico, a 600 km da cidade de Comodoro Rivadavia, onde foi montado o centro de operações durante a busca.
Vencedora de uma licitação realizada para disfarçar a incompetência do governo de Maurício Macri para coordenar e dirigir as buscas, a multinacional deve receber US$ 7,5 milhões pelo trabalho.
Nos primeiros meses, uma operação com a participação de 18 nações foi implantada para encontrar o submarino, mas os trabalhos haviam se limitado a 430 km do litoral, em torno de uma área onde havia sido detectada uma explosão horas depois da última comunicação do submarino. Horas antes, o comandante havia alertado sobre uma falha provocada pela entrada de água por um conduto de ventilação que vazou no compartimento das baterias elétricas e produziu um princípio de incêndio.
Embora a Marinha argentina tenha garantido em várias ocasiões que essa falha fora “corrigida” e que o San Juan continuou navegando para Mar del Plata, o certo é que seu rastro foi perdido e ele nunca chegou ao porto dessa cidade, onde deveria ter atracado em 19 de novembro do ano passado.
O submarino diesel-elétrico TR-1700 de fabricação alemã e em operação desde os anos 80 desapareceu no dia 15 de novembro de 2017, quando saiu de Ushuaia, no extremo sul da Argentina, em direção à sua base em Mar del Plata, a 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires, depois de participar de um exercício de treinamento.
Apesar do governo e a Marinha terem descartado a possibilidade de que o submarino tenha sido alvo de ataque por uma frota estrangeira, o chefe de Gabinete argentino, Marcos Peña, confirmou recentemente que o ARA San Juan realizava não somente as divulgadas manobras de treinamento, mas também inspeção de navios britânicos. Ele afirmou que “o objetivo tático prioritário da patrulha era a localização, identificação, registro fotográfico de navios frigoríficos, logísticos, petrolíferos que realizavam contrabando com um navio pesqueiro”. Peña também especificara que a atividade de navios e aeronaves britânicas era monitorada desde a região das Ilhas Malvinas – território insular ocupado pela Inglaterra e motivo de um enfrentamento entre Argentina e Grã Bretanha em 1982.
O pai de um dos tripulantes, Luis Tagliapietra, assinalou que depois de um ano do desaparecimento existem mais perguntas que respostas e que só há algumas hipóteses sobre o acontecido. O único dado concreto, segundo ele, é “que o submarino não estava em condições de operar por todos os problemas de manutenção que tinha”, declarou.
O ministro Aguad afirmou que “não temos equipamento para extrair o submarino” do lugar onde foi encontrado. “Agora esperamos a informação da empresa, que nos deve fornecer por contrato. Estudaremos ela e veremos o que fazer”, indicou, não se responsabilizando pela continuação do procedimento de retirada do mar do submarino.
Ex-cunhada do cabo Enrique Damián Castillo, Mercedes Rincón qualificou de “piada de mau gosto o governo vir nos dizer que não tem dinheiro para trazer à tona o submarino. Mercedes também disse suspeitar do comportamento do governo, “que em um ano nunca nos recebeu e se apresentou justamente no dia 15, quando cumpriu um ano do desaparecimento”. “Por quê? Por que ele já sabia onde estava o ARA San Juan e tornou conhecido um dia depois?”, perguntou.