Galípolo abre o jogo: só reduz juros se desemprego aumentar

Gabriel Galípolo em evento com banqueiros. (Foto: Reprodução/Youtube/XP)

Presidente do BC vai seguir asfixiando a economia “pelo tempo que for necessário”

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que não vê nenhum motivo para os juros caírem no Brasil. “Não há qualquer tipo de adição ou modulação em relação a minha última fala [27/11]”, disse Galípolo, em evento promovido pela XP Investimentos, nesta segunda-feira (1º), em São Paulo. Na última semana, ele declarou que o arrocho monetário será mantido pelo “tempo que for necessário”. 

Galípolo declarou que a decisão de manter a Selic em 15% “não é reiniciada a cada reunião do Copom, mas segue uma trajetória contínua” e considerou que o mercado de trabalho brasileiro está “aquecido”, o que demanda do BC uma postura “mais conservadora”.  

“O Brasil vive um contexto em que variáveis que normalmente caminham juntas passaram a se mover em direções inesperadas, como juros altos acompanhados simultaneamente por queda do desemprego e da inflação”, reclamou, admitindo que a inflação está sob controle, mas o alto índice de emprego, segundo ele, justifica mais arrocho sobre os investimentos e o consumo.

Os dados mais recentes sobre geração de emprego no país já dão sinais de desaceleração. De acordo com o Caged, do Ministério do Trabalho, o emprego formal em outubro desabou 35% em relação a outubro do ano passado. A Confederação Nacional da Indústria, em recente pesquisa de novembro, sinalizou queda no emprego industrial.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou que a taxa de desocupação ficou em 5,4% no trimestre encerrado em outubro, com “estabilidade” na maioria dos setores, como indústria e comércio.

O baixo nível de desemprego, reclamado por Gaípolo, vem acompanhado por um contingente expressivo de 38,8 milhões de brasileiros no mercado informal de trabalho. Sem proteção de direitos trabalhistas, Previdência Social, e que na sua maioria estão vivendo dos chamados “bicos” – atividades de trabalhos precários, com longas jornadas e salários miseráveis. 

BOLETIM FOCUS

As declarações de Galípolo ocorreram no mesmo dia em que a autarquia publicou seu boletim Focus, com a consulta de mais de 100 instituições financeiras, na última semana, sobre projeções de inflação, juros, PIB, entre outros. Os bancos e demais rentistas voltaram a realizar cortes na inflação esperada para o fim deste ano, de 4,45% para 4,43%.

Conforme a última prévia da inflação (IPCA-15), de responsabilidade do IBGE, de janeiro a outubro deste ano, o indicador teve alta de 4,15% e, nos últimos 12 meses, de 4,5%. 

Mesmo com a inflação sob controle e dentro do sistema de metas de inflação – que na prática serve como fomentador de políticas econômicas recessivas – os bancos (pela 23ª semana consecutiva) mantiveram a projeção da Selic em 15% em 2025. O “mercado” projeta que a taxa Selic fique abaixo de 10% somente em 2028.  

Com a inflação esperada em queda e a Selic permanecendo em 15%, o juro real (descontada a inflação) é de 10,5%. Sendo a segunda maior taxa de juros do planeta, perdendo apenas para Turquia (18%). 

Mesmo diante da pressão do setor produtivo, empresários e trabalhadores, economistas, entre outros setores, denunciando o estrago dos juros elevados impostos pelo BC sobre a economia brasileira e exigindo redução da Selic, ao ser questionado sobre a decisão de manter a Selic em 15% por um tempo “bastante prolongado”, Galípolo ironizou dizendo que não sabe se tem “necessidade ou obrigação de criar algum tipo de código na comunicação que vá telegrafar quando o BC vai fazer algo (aumentar, reduzir ou manter os juros)”.

Como se o boletim Focus não fosse exatamente a sinalização do BC ao sistema financeiro: vai continuar beneficiando o rentismo.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *