Um dos assassinatos extrajudiciais foi revelado pelo Washington Post, que disse que após o ataque inicial que matou nove em setembro, verificou-se haver dois sobreviventes, sumariamente estraçalhados por outro disparo, sob ordem de “matar todos”
Um dos principais jornais dos EUA, o Washington Post, revelou, citando fontes, que no ataque que abriu a campanha militar de Trump no Caribe no dia 2 de setembro, o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, deu uma ordem verbal de “matar todos”.
Esse primeiro ataque foi praticamente comemorado pelo próprio Trump, que imediatamente postou um vídeo da execução, declarando que estava aberta sua guerra aos “narcoterroristas”.
Conforme a matéria do Post de sexta-feira (27), após o ataque inicial com míssil ao pequeno barco, um drone mostrou que ainda havia dois sobreviventes agarrados nos destroços fumegantes. Um segundo disparo “destroçou os dois na água”, segundo as fontes.
Um indivíduo envolvido no ataque disse ao jornal: “A ordem [de Hegseth] era matar todos.” Este foi o primeiro de uma série de ataques mortais com mísseis que afundaram 22 pequenos barcos e mataram pelo menos 83 pessoas da Venezuela, Colômbia, Equador e Trinidad.
E, claro, o Pentágono ainda não identificou nenhuma de suas vítimas, nem forneceu qualquer prova de que fossem culpadas de tráfico de drogas ou qualquer outro crime.
Em resposta ao artigo do Post, o Grupo de Trabalho dos Ex-Juízes Advogados Gerais (JAGs), que inclui funcionários que atuaram como assessores jurídicos das Forças Armadas sob administrações anteriores, advertiu de que se trata de “crime de guerra” sob o direito internacional ou “assassinato” sob o código penal.
“Se a operação militar dos EUA para interceptar e destruir embarcações suspeitas de tráfico de narcotraficantes é um “conflito armado não internacional”, como sugere a administração Trump, ordens para “matar todos”, que podem razoavelmente ser consideradas uma ordem para “não dar quartel” e para “double-tap” em um alvo para matar sobreviventes, são claramente ilegais segundo o direito internacional. Em resumo, são crimes de guerra.”
“Se a operação militar dos EUA não for um conflito armado de qualquer tipo, essas ordens para matar civis indefesos agarrados aos destroços de uma embarcação destruída pelo nosso exército submeteriam todos, desde [o secretário de defesa] até o indivíduo que puxou o gatilho, a processos sob a lei americana por assassinato.”
“Independentemente de os EUA estarem envolvidos em um conflito armado, operações de aplicação da lei ou qualquer outra aplicação de força militar, a lei internacional e doméstica dos EUA proíbe o alvo intencional de pessoas indefesas”, disseram os ex-advogados militares.
“Se as reportagens do Washington Post e da CNN forem verdadeiras, os dois sobreviventes do ataque dos EUA em 2 de setembro de 2025 contra uma embarcação que transportava 11 pessoas ficaram incapazes de continuar sua missão quando forças militares americanas danificaram significativamente a embarcação que as transportava. Nessas circunstâncias, o direito internacional não só proíbe o alvo desses sobreviventes, mas também exige que a força atacante os proteja, resgate e, se aplicável, trate como prisioneiros de guerra. Violações dessas obrigações são crimes de guerra, assassinato, ou ambos. Não há outras opções.”
Os ex-JAGs pediram ao Congresso que investigue a nova reportagem sobre a ordem de Hegseth “e ao povo americano que se oponha a qualquer uso das forças armadas dos EUA que envolva o alvo intencional de qualquer pessoa — combatentes inimigos, não combatentes ou civis — que seja deixada hors de combat (“fora da luta”) como resultado de seus ferimentos ou da destruição do navio ou aeronave que os transportava.”
“Também aconselhamos nossos concidadãos que ordens como as descritas acima são o tipo de ‘ordens manifestamente ilegais’ que todos os militares têm o dever de desobedecer”, disseram.
DENÚNCIA REPERCUTE NO CONGRESSO
Esse e demais ataques a barcos no Caribe haviam sido condenados pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, bem como pelo presidente colombiano Gustavo Petro e outros líderes latino-americanos.
A repercussão chegou ao Congresso dos EUA. No Senado, o presidente do Comitê de Serviços Armados, o republicano Roger Wicker, acompanhado pelo membro de maior patente, o democrata Jack Reed, disse que eles “direcionaram investigações ao Departamento [de Defesa]” e que “realizariam uma supervisão rigorosa para determinar os fatos relacionados a essas circunstâncias.”
Os deputados Mike Rogers (R-Ala.) e Adam Smith (D-Wash.), presidente e membro sênior do Comitê de Serviços Armados da Câmara, divulgaram uma declaração semelhante.
Duas semanas antes, a NBC News revelou que o Juiz Advogado Geral Sênior (JAG) Paul Meagher, coronel dos Fuzileiros Navais no Comando Sul dos EUA em Miami, havia se manifestado contra os planos de começar a bombardear barcos no Caribe, alertando especificamente em agosto que as operações tornariam os militares responsáveis por execuções extrajudiciais.
Ainda de acordo com o Post, a execução sumária foi supervisionada pelo almirante Frank “Mitch” Bradley, baseado em Fort Bragg, Carolina do Norte, que absurdamente afirmou em uma conferência que os sobreviventes constituíam um alvo legítimo porque poderiam chamar outros supostos traficantes de drogas para resgatá-los e resgatar sua carga. Bradley foi promovido a chefe do Comando de Operações Especiais dos EUA logo após esse ato de assassinato a sangue frio.
“GOLPES CINÉTICOS LETAIS”, CONFESSA HEGSETH
Hegseth reagiu às denúncias, praticamente confirmando tudo: “Como dissemos desde o início, e em cada declaração, esses golpes altamente eficazes têm a intenção de ser “golpes cinéticos letais. A intenção declarada é parar drogas letais, destruir barcos de narcóticos e matar os narcoterroristas que estão envenenando o povo americano.”
O senador democrata Chris Van Hollen disse que a reportagem do Post sobre a ordem de Hegseth deixou ainda mais claro que os atentados a barcos foram “execuções extrajudiciais.” “Hegseth precisa ser responsabilizado”, disse o senador.
“Além disso, Trump prometeu ao povo americano que não haveria novas guerras, mas agora está fabricando esse conflito e mentindo sobre seus motivos. Esse belicismo precisa acabar.”
BIOMBO PARA ASSALTAR O PETRÓLEO VENEZUELANO
Ao mesmo tempo em que comete execuções extrajudiciais sem qualquer prova e sem julgamento, o governo Trump tenta fazer da recém fabricada “guerra aos narcoterroristas” o pretexto para ressuscitar a “doutrina Monroe”, passar por cima da soberania dos países vizinhos e tentar barrar a influência da China na América Latina.
E, repetindo a farsa da “guerra ao terror” contra Sadam e contra o Iraque, repete a dose com a “guerra aos narcoterroristas”, mentindo que o presidente Nicolás Maduro é o chefão do “Cartel de los Soles” e pondo um “prêmio” de US$ 50 milhões sobre sua cabeça.
Os últimos relatórios do DEA e o da ONU, como fazem há 27 anos, lembrou a vice-presidente Delci Rodríguez, consideram ínfimo o tráfico a partir da Venezuela e lá também não tem laboratórios de fenatil, a grande causadora de overdose.
Não tem droga, não tem plantação, mas tem petróleo, a maior reserva comprovada do planeta. E é conhecida a fixação de Trump pelo petróleo e a gana desde o primeiro mandato por tomar o petróleo venezuelano.
É um insulto à inteligência alheia alegar que o envio de aviões F-35, submarino nuclear, o maior porta-aviões do mundo e 15 mil soldados é para “combater o tráfico”.
É para assaltar o petróleo, para insuflar uma “mudança de regime”, para a qual ele até já preparou uma “presidente”, a Nobel da Paz Corina Machado, cujo “programa de governo” é entregar o petróleo à Exxon e Chevron na bacia das almas. No domingo, violando a lei internacional Trump decretou uma zona de exclusão aérea sobre a Venezuela, e ordenou às empresas aéreas que se afastem, ou então… Também falou em “ataques por terra”.
Em contraste com essa suposta guerra sem quartel aos narcotraficantes, o presidente Trump anunciou no domingo que irá indultar o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, que foi sentenciado a 45 anos de prisão após facilitar o envio de 500 toneladas de cocaína para os EUA e que se tornou famoso por se gabar de que queria enfiar cocaína “bem no nariz dos gringos”.











