China exige da premiê japonesa retratação das ameaças de intervenção militar em Taiwan

Porta-voz do Ministério do Exterior da China, Lin Jian (Min. Exterior da China)

A China rejeitou firmemente o que chamou de “resposta superficial” da primeira-ministra Sanae Takaichi de “nenhuma mudança na posição relacionada a Taiwan” e pediu ao lado japonês que retire as declarações errôneas em relação a Taiwan, disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, em Pequim na quinta-feira (4), destacou a agência de notícias Xinhua.

A afirmação foi em resposta a uma pergunta relacionada a reportagens da mídia dizendo que, em uma sessão plenária da Câmara dos Conselheiros na véspera, Takaichi se referiu à Declaração Conjunta Sino-Japonesa, dizendo que o lado japonês “entende e respeita” a posição do governo chinês de que “Taiwan é uma parte inalienável do território da República Popular da China.”

Há quase um mês, declaração de Takaichi, também no parlamento, de que Tóquio poderia intervir militarmente caso a China agisse contra Taiwan, sob o pretexto de tratar-se de uma “ameaça existencial ao Japão”, abriu uma grave crise com a China, país que foi invadido pelo Japão e ao qual mais custou derrotar o nazifascismo na Ásia e expulsar os japoneses.

Uma provocação ainda mais deletéria devido ao fato de que o Japão ocupou por meio século Taiwan, desde 1895 até à derrota em 1945. Imediatamente após a ameaça militar declarada por Takaichi, o governo da China havia exigido a retratação e advertido que “quem brinca com fogo se queima”.

Agora, diante do desgaste sofrido, inclusive internamente, Takaichi cinicamente limitou-se a remendar que “a posição fundamental do governo japonês em relação a Taiwan permanece a mesma declarada no Comunicado Conjunto Japão-China de 1972, e não houve nenhuma mudança”.

MÍSSEIS A 110 KM DE TAIWAN

Registre-se ainda que, em paralelo, o governo japonês anunciou que iria implantar mísseis de alcance médio na ilha de Yonaguni, a 110 km de Taiwan, assim como noticiou a implantação de mais uma base aérea norte-americana em seu território, nas ilhas Ryukyu setentrionais.

Para o porta-voz Lin, as declarações de Takaichi foram provadamente imprecisas. “A posição da China é muito clara: instamos o lado japonês a refletir e corrigir suas irregularidades, e a retirar as declarações errôneas da primeira-ministra Takaichi. Isso é uma questão de princípio”, reiterou.

A China tem feito as mesmas perguntas ao lado japonês há dias e ainda não recebeu resposta, acrescentou. “Nenhuma mudança na posição” está longe de ser adequada e certamente inaceitável como resposta à China, disse Lin, observando que os fatos e os compromissos do Japão estão escritos em preto no branco nos registros históricos.

“Se a posição fundamental do lado japonês sobre Taiwan é realmente a declarada na Declaração Conjunta Sino-Japonesa de 1972, a primeira-ministra Takaichi pode articular essa posição com precisão e plenitude? Por que o lado japonês não quer declarar claramente os compromissos que assumiu e suas obrigações legais? Qual é a lógica e o motivo que impulsionam essa atitude?”, questionou Lin.

“O lado japonês deve uma explicação à China e à comunidade internacional”.

SEM RETRATAÇÃO

Também o jornal em língua inglesa Global Times (GT), voltado a tratar de questões espinhosas de relações externas, e visto como um porta-voz oficioso de Pequim, cobrou uma explicação “de forma honesta, precisa e completa”.

Para a publicação, as últimas declarações de Takaichi sobre o assunto “expuseram a intenção sinistra de Tóquio de brincar com palavras e se esgueirar”.

O GT assinalou que o remendo feito por Takaichi foi em resposta a uma consulta do partido Komeito, agora na oposição, com a primeira-ministra dizendo que a posição básica do governo japonês em relação a Taiwan permanece “conforme declarada na Declaração Conjunta Sino-Japonesa de 1972” e que “não houve” mudança nisso.

“Isso mostra que Takaichi permanece sem arrependimento. Ela não apenas não se retratou de suas declarações erradas anteriores, como também não está disposta a esclarecer honestamente, com precisão e completamente a posição do Japão sobre a questão de Taiwan”, sublinhou GT.

“Se o lado japonês insistir nessa atitude evasiva e superficial, isso não ajudará a desescalar a situação, apenas a tornará mais severa. A China não vai tolerar isso.”

“OBSTINAÇÃO EM USAR TAIWAN PARA CONTER A CHINA”

Para o Global Times, “a gravidade do problema está gradualmente sendo percebida dentro do Japão” e levando a uma divisão de opinião em todo o espectro político, enquanto a base política de Takaichi, os conservadores de direita, afirmam que ela não disse “nada de errado”.

O que denota que as forças conservadoras de direita permanecem obstinadamente comprometidas com a política de “usar Taiwan para conter a China.” Insistem em uma estratégia de “minimizar o problema e se arrastar para deixar o assunto desaparecer”.

“Dada a natureza maliciosa e as sérias consequências das declarações de Takaichi, a fantasia do Japão de voltar à sua anterior ‘estratégia ambígua’ não é mais viável.”

“A questão de Taiwan é uma questão fundamental. Não é uma moeda de troca política que pode ser manipulada à vontade. Trata de normas explícitas do direito internacional e conclusões históricas inequívocas. Somente ao aderir estritamente aos princípios e ao espírito dos quatro documentos políticos entre China e Japão, bem como aos instrumentos legais internacionais relevantes, e ao expor sua posição de forma honesta, precisa e abrangente, o Japão poderá evitar que as relações China-Japão deslizem para uma crise mais profunda.”

Primeiro, o Japão deve abandonar sua abordagem evasiva e superficial e enfrentar firmemente suas obrigações na questão de Taiwan, aconselhou o GT.

“Segundo, o Japão deve reafirmar com precisão o conteúdo central da Declaração Conjunta Sino-Japonesa de 1972 de que ‘o Governo do Japão reconhece o Governo da República Popular da China como o único Governo Legal da China. O Governo da República Popular da China reitera que Taiwan é uma parte inalienável do território da República Popular da China. O Governo do Japão compreende e respeita plenamente essa posição do Governo da República Popular da China, e mantém firmemente sua posição sob o Artigo 8 da Proclamação de Potsdam.’ Esses três elementos são indispensáveis e não devem ser omitidos.”

“Terceiro, sua explicação deve abranger integralmente todos os aspectos-chave, incluindo as obrigações do Japão sob o direito internacional e seus compromissos políticos em documentos entre China e Japão.”

“A retratação de Takaichi de suas declarações errôneas é apenas o requisito mínimo. Articular suas posições sobre a questão de Taiwan de forma honesta, precisa e completa é uma pergunta obrigatória que o Japão deve responder”.

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