Deputada bolsonarista usa R$ 396 mil em emenda para praça com nome do seu avô

Além de desviar emendas, ela gosta de brincar com fuzis, assim como as facções criminosas (Foto: Reprodução - Redes sociais)

Caso expõe conflito de interesse, uso privado do Orçamento Público e reforça a convicção de uso corrupto das emendas parlamentares

A deputada bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC) destinou R$ 396 mil em emenda PIX para financiar obra em praça que leva o nome do avô dela, reacendendo críticas sobre o desvio e uso particular do Orçamento Público.

A transferência direta — feita sem a exigência prévia de detalhamento técnico — é apontada por analistas como exemplo de desvio de finalidade.

Segundo o cientista político Rafael Cortez, a destinação de recursos para obras com valor familiar cria distorção clara:

“Emendas devem atender o interesse público, não reforçar homenagens privadas. Quando o dinheiro vai para um símbolo pessoal, há evidente conflito de interesse.”

A modernização da praça, embora seja oficialmente apresentada como benefício comunitário, se insere num contexto de consolidação de capital político local. Algo que especialistas consideram cada vez mais frequente no uso das emendas.

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

As emendas PIX tornaram-se um dos mecanismos mais opacos do sistema orçamentário. Sem necessidade de apresentação prévia de projeto detalhado, prefeitos e parlamentares administram recursos com baixa rastreabilidade.

Para a pesquisadora em finanças públicas Ana Carolina Pires, o mecanismo “abre brechas inaceitáveis para favoritismo, troca política e obras cosméticas de baixa relevância social”.

Ela acrescenta que, no caso de Zanatta, o efeito simbólico é ainda mais problemático:

“Quando a obra leva o nome de um parente, o limite ético se esvai. A legalidade não resolve o problema da moralidade pública.”

DISTORÇÃO

Criadas para ampliar a participação do Legislativo no Orçamento Público, as emendas parlamentares deveriam financiar políticas essenciais. Quando são usadas para projetos de caráter familiar ou de impacto reduzido, o objetivo republicano é substituído pela lógica do marketing eleitoral.

O analista legislativo Marcos Mendes resume o problema:

“Emendas não podem virar lembrancinhas políticas. Quando parlamentares as utilizam para reforçar feudos locais, o Parlamento perde autoridade moral e funcional.”

DESMORALIZAÇÃO INSTITUCIONAL

O caso Zanatta soma-se à série de episódios que vêm desgastando o Parlamento. A percepção pública é de que o Orçamento impositivo se tornou instrumento de autopromoção ou moeda de troca, e não ferramenta de políticas públicas estruturantes.

A destinação de recursos para obra que homenageia a própria família da deputada aprofunda essa imagem negativa. Como diz o advogado e professor de direito público Henrique Rocha:

“Quando o Parlamento naturaliza esse tipo de prática, não há reforma administrativa capaz de resgatar a confiança social. A mensagem é clara: a política serve a si mesma, não à sociedade.”

Ao escolher financiar praça que celebra o avô, Júlia Zanatta não só alimenta críticas sobre privilégio e autopromoção, como também ajuda a desmoralizar o Parlamento, que continua incapaz de estabelecer limites éticos claros para o uso das emendas e de proteger a integridade do Orçamento Público.

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