Porta-voz da Comissão Europeia reage aos insultos de Trump após 24 horas de silêncio

Agumas lideranças europeias rejeitaram declarações do presidente dos Estados Unidos (Reprodução)

A principal porta-voz da Comissão Europeia, Paula Pinho, rejeitou comentários do presidente dos EUA de que a UE promove a censura e mina a liberdade política e a soberania, condenação reforçada pelo ministro do Exterior da Alemanha, Johann Wadephul

Os países europeus reagiram à “Estratégia de Segurança Nacional” divulgada no “Corolário Trump”, publicado pela Casa Branca na última sexta-feira (5), com críticas contundentes às políticas de imigração e medidas associadas ao tema da liberdade de expressão da União Europeia, como o combate ao discurso de ódio e à disseminação de notícias falsas, interpretadas por Washington como “censura”.

O documento de 33 páginas afirma que a administração Trump pretende restaurar a “identidade ocidental” na Europa, precisamente no momento em que o governo dos Estados Unidos usa uma retórica cada vez mais racista contra imigrantes não brancos dentro do seu próprio país.

A principal porta-voz da Comissão Europeia, Paula Pinho, considera que o presidente dos EUA extrapolou nas suas inconvenientes intervenções. Segundo ela, as alusões de que a União Europeia (UE) mina a liberdade política e a soberania, prejudica o continente com sua política migratória e dificulta a liberdade de expressão estão equivocadas. Para a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, ao ouvir sem reagir a Europa estava “subestimando o seu próprio poder”.

“Também não achamos que alguém precise nos dar conselhos”, acrescentou o ministro do Exterior da Alemanha, Johann Wadephul, para quem temas sobre liberdade de expressão ou “a organização de nossas sociedades livres” não fazem parte das discussões da aliança.

“HÁ UM ABISMO GRITANTE, TRUMP ESTÁ CADA VEZ MAIS ISOLADO”


“Acabei de voltar de reuniões de alto nível em Washington com nossa delegação parlamentar e testemunhei um abismo gritante entre uma Casa Branca completamente distante e as vozes muito mais ponderadas dos legisladores e especialistas em políticas públicas dos EUA”, declarou Valérie Hayer, presidente do Renew Europe (Renovar a Europa, composto pelo Partido da Aliança dos Democratas e Liberais e pelo Partido Democrata). De acordo com a líder do quarto maior grupo no Parlamento Europeu, “é evidente que o presidente Trump está cada vez mais isolado de seus próprios especialistas, confiando, em vez disso, em um círculo restrito de assessores equivocados – e essa dinâmica produziu o tipo de documento profundamente falho e estrategicamente perigoso que agora é apresentado como Estratégia de Segurança Nacional”.

Na avaliação de Hayer, a estratégia de enquadrar a Europa como uma civilização em declínio, minada pela migração, pela regulamentação e pelo pluralismo político, representa um ataque frontal aos valores e ao modo de vida europeus. Para a líder do Renew, retratar o continente como um “pato manco” incapaz de autodeterminação é uma caricatura insultuosa e imprecisa de uma União que continua a ser uma força econômica, científica e democrática que necessita ser respeitada.

CONSPIRAÇÃO RACISTA DA “AMÉRICA PRIMEIRO”

O texto da Casa Branca explicita a visão de mundo “América Primeiro” de Trump, endossando a teoria da conspiração racista da “grande substituição”, que sustenta que vários países do velho continente correm o risco de se tornarem “majoritariamente não-europeus” caso as tendências atuais continuem. No ritmo atual, disse o presidente dos EUA, “o continente será irreconhecível em 20 anos ou menos”, uma vez que a Europa enfrenta “a perspectiva real e sombria do apagamento da civilização”.

Apesar disso, sustenta Trump, o fato de haver partidos de extrema-direita em governos, apoiando coligações de ultradireita ou liderando as sondagens em vários Estados-Membros da UE, “dá motivos para grande otimismo”.

O governo Trump tem buscado repetidamente estreitar laços com os partidos de extrema-direita europeus, como o Alternativa para a Alemanha (AfD), propagandista de políticas anti-imigração rigorosas e posições xenofóbicas, com o uso de preconceito, discriminação, hostilidade e até violência contra estrangeiros. Um de seus principais dirigentes foi recebido recentemente na Casa Branca por figuras de alto escalão.

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