Na defesa de parceria estratégica com América Latina, China se contrapõe a “quintal” de Trump

Via transoceânica, que ligará oceanos Atlântico e Pacífico é obra destacada na integração China-AL (Redes Sociais)

A China divulgou na quarta-feira (10) seu terceiro Documento de Política para a América Latina e o Caribe, no qual descreve a região como parceira estratégica, parte essencial do Sul Global e com voz ativa na construção de um mundo multipolar.

Dessa forma, se choc  abertamente com a Nova Estratégia de Segurança Nacional (NSS) dos EUA, divulgada pelo governo Trump uma semana antes, em que Washington pretende perpetuar a condição de quintal dos fundos definida pela Doutrina Monroe para a região.

Esta, revisitada sob a nova centralidade de Trump ao “Hemisfério Ocidental”, diante da crise que corrói o império e da ascensão do futuro compartilhado pela Humanidade, desde Pequim.

Os dois documentos também vêm à luz sob circunstâncias distintas. Os EUA, após desencadear uma guerra tarifária ao planeta, e que agora atualiza com porta-aviões a política das canhoneiras do século XIX, nas costas da Venezuela, tendo como alvo o petróleo mas sob o pretexto do combate aos “narcoterroristas”.

A China, na condição de parceira essencial da América Latina, através do comércio e da tecnologia, campeã do mundo multipolar e maior economia do planeta em paridade de poder de compra.

Como afirma o documento chinês, Pequim almeja uma parceria “igualitária e mutuamente benéfica” com a América Latina, envolvendo infraestrutura; energia, tanto renovável quanto fóssil); comércio de produtos com maior valor agregado e agricultura e segurança alimentar. Bem como o intercâmbio científico, tecnológico e educacional, inclusive na inteligência artificial (IA) e na cooperação espacial. E, ainda, no terreno cultural e social.

Parceria cujo objetivo é avançar para um mundo multipolar, mais pleno de soberania e desenvolvimento, como expresso em plataformas como o BRICS e a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, a nova rota da seda).

Assim, trata-se de que a América Latina e o Caribe escolham seu próprio caminho soberanamente, opção que a China se prontifica a percorrer junto.

Entre outros pontos, o documento defende, para as relações China-América Latina e Caribe, uma concepção de “igualdade, aprendizado mútuo e diálogo entre civilizações” e de desenvolvimento dos “valores comuns da humanidade de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia”.

Adiante, expressa seu apoio à proclamação da América Latina e Caribe como uma Zona de Paz e à Declaração de Proibição de Armas Nucleares na América Latina e Caribe, assim como advoga a resolução pacífica de disputas internacionais e se opõe à ameaça ou uso da força.

Já para o governo Trump, conforme o capítulo da NSS dedicado ao Hemisfério Ocidental, a América Latina e o Caribe integram “a esfera natural de segurança dos Estados Unidos”. Ou, sem meias palavras, está destinada a seguir como eterno “quintal”.

A evidente reiteração do lema “a America para os (norte) americanos”, proclamada em 1823, vem sendo jocosamente chamada de “Doutrina Donroe”.

Assim, apesar de os latino-americanos serem agora nos EUA a “imagem do inimigo interno”, a serem caçados pela Gestapo ICE e deportados, devem, no entanto, exultar por estarem sendo “incluídos” – muro à parte – no “Hemisfério Ocidental”. Ainda que sob o tacão da “casa iluminada na colina”, como os excepcionalistas se vêem a si próprios.

E que ninguém se atreva a se intrometer no “nosso” quintal – a NSS acusa China e Rússia de promoverem “subversão”, “corrupção” e “práticas predatórias” – além de muito, muito comércio.

A NSS também exige a expansão na região das bases militares norte-americanas – como tentaram impor no Equador, mas o referendo recusou -, assim como “parcerias de defesa” e outros atos de vassalagem.

E, de forma nada sutil, adverte que Washington irá “bloquear tentativas de potências externas de alterar o equilíbrio estratégico no hemisfério”. E como quando o sapato aperta é que o calo dói, a NSS insiste em declarar que o Hemisfério Ocidental é a área onde a competição com a China será “decisiva” para o “destino do mundo livre”.

Anteriormente, Trump já havia sido mais explícito a respeito, com as não muito bem sucedidas convocatórias a anexar o Canadá, Groenlândia e Canal do Panamá, e sua pretensa renomeação do Golfo do México como “Golfo da América”.

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