Em afronta à decisão de mais de 60% dos eleitores, base aérea de Manta voltou a receber tropas norte-americanas para “operação temporária”. Em meio ao cerco à Venezuela, presidente não disse nem quantos nem até quando ficam os soldados de Trump
O presidente Daniel Noboa ignorou o amplo rechaço popular manifestado no plebiscito de 16 de novembro – quando mais de 60% dos equatorianos votaram “não” ao retorno de bases militares estrangeiras ao país – e anunciou na quarta-feira (17) a chegada de tropas dos Estados Unidos à base aérea de Manta, na província de Manabí.
Enfrentando forte rejeição, Noboa tentou minimizar a afronta aos equatorianos dizendo que a presença dos soldados de Trump ao principal porto pesqueiro do Equador, um dos mais estratégicos para o comércio exterior, é uma “operação temporária”, sem saber dizer nem quantos são nem até quando ficam.
Segundo o marionete gringo, que já havia dado as boas-vindas com deferência, a operação “permitirá identificar e desarticular as rotas do narcotráfico e submeter a quem acreditava que podia dominar o país”.
Sobre a agressão à decisão popular, denunciada pela oposição, é evidente. A movimentação militar ocorre pouco mais de um mês após a visita da Secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem. Na véspera do referendo, Noboa havia inspecionado com Noem áreas militares em Manta e no resort de Salinas (também no sudoeste), apontados como “locais potenciais” para a instalação de bases.
Em Manta, cidade mais próxima ao arquipélago de Galápagos, a base militar estadunidense havia funcionado por uma década, tendo sido desativada pelo ex-presidente Rafael Correa em 2009 como gesto de “soberania e autodeterminação equatoriana”, que não renovou o acordo com Washigton.
O desembarque das tropas americanas ocorre em meio a ataques militares ordenados pela Casa Branca no Caribe e no Pacífico contra embarcações pesqueiras, a quem Trump acusa de “suspeitas de tráfico de drogas”. Condenados pela comunidade internacional, os bombardeios deixaram ao menos 95 mortos desde setembro e, sob o manto do “combate ao narcoterrorismo”, buscam cercar a Venezuela para tomar de assalto suas gigantescas reservas de petróleo.
“A operação fortalecerá a capacidade das Forças Armadas do Equador de combater o narcoterrorismo, incluindo o aprimoramento da coleta de informações e das capacidades de combate ao narcotráfico”, desconversou a embaixada norte-americana, acrescentando que a estratégia visa proteger os dois países “de ameaças comuns”.
O secretário de Estado norte-americano Marco Rubio alegou recentemente que “o problema mais sério que temos em nosso hemisfério são essas organizações terroristas transnacionais”, que, segundo ele, operam principalmente com fins econômicos.
De concreto, rebate a presidente de Honduras, Xiomara Castro, é que às vésperas da eleição no país centro-americano, Trump concedeu um indulto ao criminoso Juan Orlando Hernández (JOH), condenado a 45 anos de prisão por tráfico de drogas, por contrabando de pelo menos 400 toneladas de cocaína para os Estados Unidos.











