Segundo funcionários do Sistema Prisional, governador “embarca em uma realidade paralela”
O Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo reagiu às declarações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre o suposto fim do controle de facções criminosas nas prisões paulistas e afirmou que a fala do chefe do Executivo ignora a realidade vivida dentro das unidades.
Durante um evento de balanço dos três anos de gestão, Tarcísio afirmou que o Estado retomou o comando do sistema prisional e elogiou a atuação da Secretaria de Administração Penal. “Manter esse estado seguro, manter o nosso investidor animado, demanda muito trabalho. E é isso, Marcelo [Streiginger], que você está fazendo na Secretaria de Administração Penal para manter o sistema prisional em ordem”, disse o governador. Na sequência, reforçou: “E quem fala: ‘há um controle das facções nos presídios’, não há, não há mais. Esse tempo passou, hoje o controle é do estado. O estado comanda os presídios”.
Embora não tenha citado diretamente o Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção é reconhecida como o principal grupo criminoso organizado em atuação no Estado. A declaração foi recebida com aplausos pelo público presente, composto também por secretários da gestão estadual.
Em resposta, o sindicato afirmou que o governador “embarca em uma realidade paralela”. Em nota publicada em seu site, a entidade disse que seria melhor que Tarcísio “se informasse melhor”, pois, segundo os funcionários, “das gaiolas para dentro quem comanda ainda é o crime organizado”.
Os representantes dos trabalhadores do sistema prisional atribuem o fortalecimento das facções ao “descaso de seu governo” e apontam a redução do efetivo de policiais penais. Segundo o sindicato, esses profissionais precisam lidar com uma população carcerária superior a 220 mil presos em todo o território paulista. “Será que o governador realmente acredita que com um policial tendo que tomar conta de 2, 3 pavilhões com 200, 300 presos cada um, as facções não controlam mais o que acontece dentro de cada pavilhão habitacional das unidades prisionais paulistas?”, questionou a entidade.
Ainda de acordo com os funcionários, as relações cotidianas dentro das prisões seguem mediadas por integrantes do PCC. “Dentro de seu luxuoso palácio não chega a informação de que um preso sequer pode falar diretamente com um policial penal, tendo que fazê-lo por meio de intermediários que são faccionados?”, conclui a nota.
CRACOLÂNDIA PULVERIZADA
Embora Tarcísio tenha anunciado o fim da Cracolândia em seu reduto histórico no centro de São Paulo, na região da Luz, a capital paulista ainda concentra ao menos dois grandes fluxos de uso de crack naquelas imediações e registra a circulação de centenas de usuários que vão da periferia aos bairros mais nobres da cidade.
Diversos locais da cidade passaram a conviver com os usuários de crack. É o caso da Bela Vista, também no centro da cidade, ou embaixo do Elevado Presidente João Goulart, onde usuários e traficantes circulam livremente.
Alguns dos locais onde novas concentrações, ou “mini-cracolândias”, foram relatadas incluem:
- Região da Avenida Paulista: Moradores relataram o surgimento de um novo ponto na Praça Marechal Cordeiro de Farias.
- Praça Marechal Deodoro/Santa Cecília: Esta área, próxima ao Elevado Presidente João Goulart (Minhocão), tornou-se uma das principais concentrações após a dispersão do fluxo original.
- Avenida Pacaembu e Favela do Moinho: Usuários e traficantes ocuparam essa região após as ações no centro.
- Jaraguá (Avenida Amador Aguiar): Barracos foram montados na calçada, gerando preocupação entre os moradores locais.
- Tremembé: Um ponto de concentração na Zona Norte da capital.
- Diadema: Concentrações também foram observadas na região metropolitana.
- Outros bairros: Pontos de uso também foram identificados na Mooca, Vila Leopoldina, Belém, Piqueri, Chácara Santo Antônio e na região da Liberdade.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo mapeou a existência de pelo menos 72 pontos de uso de crack a céu aberto espalhados por 47 bairros da capital. As autoridades municipais e estaduais afirmam realizar um trabalho contínuo de monitoramento, assistência social e repressão ao tráfico para evitar a consolidação de novas grandes aglomerações e oferecer tratamento aos dependentes químicos.











