Bloomberg assevera que um terceiro petroleiro foi sequestrado na tarde de domingo
O governo venezuelano rechaçou o “assalto e sequestro” pelos EUA do petroleiro Centuries, de bandeira panamenha e que transportava petróleo venezuelano para a Ásia, no sábado (20), em comunicado assinado pelo chanceler Yvan Gil que denunciou o ato de pirataria “cometido por militares dos Estados Unidos em águas internacionais” e o “desaparecimento forçado de sua tripulação”, .
Na próxima terça-feira, o Conselho de Segurança da ONU se reúne em sessão de emergência para discutir o ilegal “bloqueio naval total” anunciado pelo presidente Trump na semana passada, quando também exigiu de Caracas a “devolução do petróleo, terras e riquezas minerais que nos roubaram”, em um indisfarçável arroubo colonialista.
A Venezuela declarou que “este grave ato de pirataria implica a prática flagrante do crime previsto no artigo 3.º da Convenção para a Supressão de Atos Ilícitos contra a Segurança da Navegação Marítima de 1988, bem como uma grave violação do artigo 2.º da Carta das Nações Unidas, do artigo 2.º da Convenção de Genebra sobre o Alto Mar e da Declaração sobre os Princípios do Direito Internacional relativos às Relações Amistosas e à Cooperação entre os Estados, entre outras normas aplicáveis do Direito Internacional”.
“O direito internacional prevalecerá e os responsáveis por esses atos graves responderão perante a justiça e a história por suas ações criminosas”, afirmou o comunicado.
“O modelo colonialista que o governo dos Estados Unidos pretende impor com esse tipo de prática fracassará e será derrotado pelo povo venezuelano”, enfatiza o documento, destacando que Caracas “continuará seu crescimento econômico de forma independente e soberana”.
Segundo o The New York Times, o petroleiro sequer está na lista – aliás, ilegal, sob a lei internacional – de petroleiros sancionados pelos EUA.
De acordo com a Reuters, citando documentos internos da empresa estatal venezuelana de petróleo PDVSA, a Centuries transportava cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo bruto venezuelano Merey com destino à China.
À agência de notícias Reuters, Jeremy Paner, sócio do escritório de advocacia Hughes Hubbard, disse que a “apreensão de uma embarcação que não é sancionada pelos EUA representa um aumento adicional na pressão de Trump sobre a Venezuela”.
Além dos atos de pirataria, o governo Trump já executou extrajudicialmente mais de 100 pessoas no Caribe e no Pacífico, em mais de duas dezenas de ataques militares, sem qualquer prova ou julgamento de que haveria algum tráfico, e à revelia da lei internacional e até do próprio código penal norte-americano.
PIRATARIA EXPLÍCITA
O ato de pirataria foi exposto pela secretária de secretária de Segurança Interna do regime Trump, Kristi Noem, que ainda exibiu um vídeo de oito minutos da operação de assalto e sequestro da “guarda costeira com apoio do Pentágono”.
Em sua postagem na plataforma X, Noem retornou à fake news do “narcoterrorismo”, dizendo que “os Estados Unidos continuarão a perseguir o movimento ilícito de petróleo sancionado que é usado para financiar o narcoterrorismo na região”.
TERCEIRO PETROLEIRO ASSALTADO
Na tarde deste domingo (21) a Bloomberg, citando fontes, disse que os Estados Unidos “abordaram” um terceiro petroleiro perto da Venezuela. “O petroleiro Bella 1, um navio de bandeira panamenha sancionado pelos Estados Unidos, estava a caminho da Venezuela para carregar carga, de acordo com uma das pessoas, que pediu para não ser identificada”, disse ele. Ainda não houve confirmação oficial de Washington.
Desde agosto, os EUA mantêm uma frota de guerra capitaneada pelo porta-aviões xxx e 15 mil marines, diante do litoral venezuelano – a “maior armada já reunida na história da América do Sul” nas palavras de Trump -, além de voos de provocação com bombardeiros B52 na região e deslocamento para Porto Rico de aviões F-35.
FAKE NEWS E FANTOCHES
Na terça-feira (16), o próprio Trump havia se encarregado, com o “devolvam o petróleo que nos roubaram”, de desmascarar seu pretexto anterior para os ataques à Venezuela, que seria o tráfico de drogas para os EUA, supostamente encabeçado pelo presidente venezuelano e pelo “Cartel dos Sóis”. E apesar de, segundo a ONU e até o DEA, o papel da Venezuela na entrada de drogas nos EUA ser insignificante.
Encenação realizada em paralelo à premiação com o “Nobel da Paz” da golpista María Corina Machado, a “Guaidó” do segundo mandato de Trump. Como denunciou Maduro, o objetivo de Trump não eram as drogas como alegava, mas a pilhagem do petróleo e a instalação de um governo fantoche, daí “táticas corsárias” e “diplomacia de barbárie.”
O presidente Maduro reiterou que seu país derrotará “a oligarquia e o imperialismo em quaisquer circunstâncias” e chamou a alegação de Trump sobre o combate ao narcotráfico de “mentira” e “fake news”, usada para justificar suas agressões.
“Essa história de narcotráfico é ‘notícia falsa’, uma mentira, um pretexto. Já que não podem dizer que temos armas de destruição em massa , já que não podem dizer que temos armas químicas, mísseis nucleares, eles inventam um pretexto para criar outro Afeganistão, para criar outra Líbia”, explicou.
“Durante 25 semanas, a Venezuela denunciou, confrontou e derrotou uma campanha multidimensional de agressão que vai do terrorismo psicológico à pirataria de corsários que saquearam nosso petróleo, e que assume múltiplas formas de ação. O que a Venezuela demonstrou? […] Que a Venezuela é um país forte , que tem poder real”, afirmou.
SEM LUGAR NO SÉCULO XXI
“O presidente Trump pretende retroceder o relógio da história e impor uma colônia à Venezuela. Nenhum instrumento legal pode resistir a esta declaração monstruosa. (…) Isso é colonialismo, um crime de agressão”, denunciou o representante permanente da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, em seu discurso durante uma sessão da ONU em comemoração ao ‘Dia Internacional contra o Colonialismo em Todas as suas Formas e Manifestações’, na quinta-feira (18).
Ele também enfatizou que os Estados Unidos estão impondo caos e destruição às relações internacionais, assim como os atores malignos fizeram antes da Segunda Guerra Mundial.
Após afirmar que “a diplomacia das canhoneiras não tem lugar no século XXI”, Moncada enfatizou que o colonialismo deve ser derrotado para proteger todos os países do mundo. “A persistência do colonialismo é incompatível com a Carta da ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois impede o desenvolvimento social, cultural e econômico e mina o ideal de paz entre as nações”, acrescentou.
A Rússia manifestou sua solidariedade à Venezuela, instando Washington a “evitar um erro fatal” e lembrando que o Caribe é “uma zona de paz”.
“Constatamos uma escalada contínua e deliberada das tensões em torno da Venezuela, nosso país amigo. O caráter unilateral das decisões que ameaçam a navegação internacional é particularmente preocupante”, declarou porta-voz da chancelaria russa. Segundo a agência Tass, a escalada pode ter “consequências imprevisíveis” para todo o Ocidente.
“Pequim rejeita todas as formas de intimidação unilateral e apoia as nações na defesa de sua dignidade nacional”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun.
Também governos latino-americanos se pronunciaram contra as ameaças de Washington à Venezuela e pelo respeito à “zona de paz” na América Latina e Caribe, entre eles Brasil, México, Colômbia, Cuba e Nicarágua.











