Juros do cartão de crédito e cheque especial atingem níveis recordes em novembro

Juro do cartão de crédito continua absurdo (Foto: Jefferson Rudy - Agência Senado)

Maior patamar em mais de oito anos

O Banco Central divulgou nesta sexta-feira (26) as estatísticas monetárias e de crédito referente a novembro. No crédito, em geral, com recursos livres, a taxa média de juros situou-se em 46,7% a.a. com elevações de 0,6 p.p. no mês e de 5,8 p.p. em doze meses. O maior patamar dos juros em mais de oito anos.

Nas operações com empresas, a taxa média situou-se em 24,5% a.a., com queda de 0,6 p.p. no mês e elevação de 2,8 p.p. acumulada em 12 meses. Contribuíram para o resultado mensal as reduções nos juros de desconto de duplicatas e outros recebíveis (-0,7 p.p.) e de capital de giro com prazo superior a 365 dias (-0,7 p.p.).

No crédito livre às famílias, a taxa média de juros alcançou 59,4% a.a., com elevações de 0,9 p.p. no mês e de 6,2 p.p. em doze meses. Destacaram-se os aumentos em crédito não consignado (+5,5 p.p.), cartão de crédito rotativo (+0,7 p.p.) e cartão de crédito parcelado (+3,2 p.p.).

No resumo por segmento temos:

Cartão de Crédito (Rotativo): 440,5% ao ano (recorde).

Cheque Especial: 141,7% ao ano (recorde).

Crédito Livre (Pessoas Físicas + Empresas): 46,7% ao ano (aumento de 0,6 p.p. em relação a outubro).

Pessoas Físicas: 59,4% ao ano (alta em relação aos 58,5% de outubro).

Empresas: 24,5% ao ano (queda em relação aos 25,1% de outubro).

Crédito Pessoal Total: 51,0% ao ano.

Crédito Veículos: 26,6% ao ano (queda).

A manutenção da taxa Selic, taxa básica da economia, em 15% ao ano desde junho deste ano e a falta de sinalização do Banco Central (BC) em reduzi-la incita a manutenção ou mesmo o aumento das taxas de juros conforme o segmento.

Foi o que aconteceu com o crédito livre para pessoas. Mesmo já estando num patamar insano de 58,5% sofreu um aumento de 0,9 no mês e 6,2 pontos percentuais em doze meses.

Da mesma forma, num outro caso insano, o crédito do rotativo dos cartões bateu nos 440,5% ao ano, próprio para uma “camisa de força”.

Menos acintoso, mas tão destrutivo quanto, para quem precisou recorrer a essa linha de crédito, o cheque especial, também quebra recorde e chega aos 141,75% ao ano.

Para as empresas a taxa de 24,5% continua proibitiva, mesmo com uma redução pífia de 0,6% ponto percentual de outubro para novembro. O empresário que precisar descontar duplicatas ou antecipar recebíveis de cartão de crédito, não estará somente fazendo uma operação de crédito, mas arrumando um “sócio” para dividir sua lucratividade.

O arrocho monetário imposto ao setor produtivo e aos consumidores brasileiros, através das elevadas taxas de juros, travam os investimentos, o consumo e a geração de empregos no país, afetando, particularmente, as atividades industriais.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) registra em sua Carta no. 1343 que “O elevado patamar de taxas de juros no país permanece como um obstáculo de grande proporção à produção e aos investimentos no setor, que, ademais, também vem enfrentando as mudanças no comércio global, restringindo mercados externos, como no caso do tarifaço dos EUA, e ampliando a concorrência com importados no mercado interno.”

“A indústria brasileira caminha para encerrar 2025 quase sem crescimento. O resultado dos dez primeiros meses do ano, de acordo com a última divulgação do IBGE, indica um nível de atividade industrial de apenas ¼ do que era em igual acumulado em 2024: +0,8% contra +3,4%. Com isso, seguimos mantendo uma importante defasagem (-12%) em relação ao momento anterior à crise de 2014-2016”.

A inadimplência na economia é outro termômetro de estragos que o “ambiente de juros mais elevado” produzem. Segundo a Serasa Esperian, a inadimplência atingiu no mês de setembro recente o nível recorde de 8,4 milhões de empresas. É o maior volume da série história. Desse total, 7,95 milhões são micro, pequenas e médias empresas e as MEIs respondem por 20% dele. O volume total dessas dívidas vai além dos R$ 200 bilhões. Em setembro de 2024 a inadimplência situava-se em R$ 6,9 bilhões.

A Selic nos atuais 15% ao ano posiciona o país no segundo lugar entre as maiores taxas básicas de juros do planeta. Tendo por vários períodos ocupado a frente desse ranking. Sendo que de 40 analisados por consultoria especializada temos 36 deles com taxas inferiores a 5% ao ano.

O impacto da taxa Selic, aos 15% e o histórico destas taxas em patamares muito elevado, pode ser observado pelo desenfreado gasto público com juros.  O Brasil, de uma lista de 153 países, foi o país que teve os maiores gastos com juros pagos sobre a dívida pública em 2024, atingindo 8,28% do PIB.

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