Polícia israelense prende Papai Noel palestino

Foto extraída do vídeo abaixo mostra o momento do aprisionamento do Papai Noel palestino (Redeis Sociais)

Além de prenderem o Papai Noel, a polícia dispersou a festa que os moradores do bairro árabe da cidade de Haifa realizavam. As motos dos policiais se lançaram contra um grupo de mulheres que dançavam a debka vestidas em trajes típicos

A festa de Natal era celebrada nas ruas de Wadi Nisnas quando um bando de policiais israelenses chegou com suas motos e sirenes para atacar os moradores do único bairro que restou com maioria árabe na cidade de Haifa, no norte de Israel.

No vídeo com imagens captadas por celular de um morador local, se pode ver o grupo de mulheres dancando a Debka e tendo a dança interrormpida pelas motos que chegam com luzes acesas e logo a seguir se vê o Papai Noel sendo detido.

Quando o Papai Noel é preso se ouve o grito de “Não batam nele” e, em seguida, “Porque estão batendo nele?”

A jornalista palestina israelense Hanin Majadli, escreveu uma coluna para o jornal Haaretz, inspirada na prisão do Papai Noel para dizer que a Nakba (a ‘Catástrofe’ como é denominada a limpeza étnica pelo terror do nascente Estado de Israel) não acabou em 1948, mas se estende até os dias de hoje.

Segue a coluna:

A Nakba palestina não terminou em 1948

Em Gaza, Jerusalém Oriental, Jaffa, no Negev e nas aldeias, campos e campos de refugiados da Cisjordânia, o tratamento violento dos palestinos por israelenses judeus continua, com o apoio do exército e do Estado. Negar a Nakba palestina é negar não apenas o passado, mas também o presente.

Hanin Majadli

A negação não se deve a uma disputa narrativa: os israelenses negam a Nakba não porque ela aconteceu ou não, mas porque ela ainda está acontecendo.

Quando os militares israelenses arrancam centenas de oliveiras na Cisjordânia “por razões de segurança”, trata-se de uma Nakba, uma catástrofe, não como metáfora ou como memória histórica.

Esta semana, um prédio de apartamentos no bairro de Wadi Kadum, em Jerusalém Oriental, foi demolido, deixando cerca de 100 pessoas repentinamente desabrigadas. A área estava isolada desde a manhã; tratores entraram, moradores foram agredidos e dois deles – um jovem e um adolescente – foram detidos por um breve período. Tudo isso aconteceu porque o prédio não tinha alvará de construção. Não tinha alvará porque o Estado não emite alvarás de construção para árabes.

Tratores do exército de ocupação destróem casa em Jerusaém Árabe (EPA)

Na terça-feira, a polícia dispersou violentamente uma celebração natalina em Wadi Nisnas, Haifa, interrompendo uma dança dabke e prendendo um “Papai Noel”, um DJ e o dono de uma barraca. Isso também faz parte da Nakba.

Uma semana antes, em Jaffa, uma mulher árabe grávida e seus filhos foram agredidos por colonos. A violência não terminou com o ataque em si. A polícia prendeu não apenas os suspeitos judeus, mas também dezenas de jovens árabes que ousaram protestar. Isso não é por acaso: se a polícia prendesse apenas judeus, poderíamos pensar que todos os cidadãos de Israel são iguais. É importante para o Estado que saibamos que não é esse o caso.

Há um mês, o Supremo Tribunal aprovou a demolição de uma aldeia beduína no Negev e o deslocamento dos seus habitantes para facilitar a expansão da cidade de Dimona. Assim continua a lógica do deslocamento que começou em 1948, com a chancela judicial – não com bombardeamentos ou ordens militares, como em Gaza, mas em tribunais civis.

Cada vez mais surgem relatos dos campos de refugiados israelenses de Jenin e Tulkarm, na Cisjordânia, sobre a proibição do retorno de milhares de moradores que foram despejados ou deslocados em operações militares no início deste ano, como parte de um esforço para promover mudanças demográficas. Mais uma vez, trata-se de judaização em paralelo ao deslocamento de palestinos.

Mais notícias sobre a ocupação: na Cisjordânia, os colonos não param de atacar pastores, agricultores, famílias e comunidades inteiras. Armas de fogo, spray de pimenta, incêndios criminosos, danos à propriedade. Eles abatem ovelhas, arrancam árvores e ferem pessoas. Tudo o que é rotulado como palestino é considerado um alvo legítimo. A situação está mais horrível do que nunca. Não se trata de “atritos” ou “violência sazonal” devido à colheita de azeitonas, nem das “ervas daninhas” dos “jovens rebeldes”. Trata-se de política, elaborada e ratificada pelos militares: se os militares se incomodassem com isso, já teriam parado há muito tempo.

Ministro da Defesa volta a prometer assentamentos em Gaza e afirma que Israel está anexando a Cisjordânia “de facto”.

Israel legaliza 19 assentamentos de colonos na Cisjordânia, revertendo a política de desengajamento. ‘Voltem para Gaza’: Como as ameaças e a violência dos colonos são normalizadas no parlamento israelense

Outra notícia: Cinco colonos invadiram a casa de uma família na aldeia de Samu’a, na Cisjordânia, atacaram com spray de pimenta uma mulher e seus três filhos, ferindo-os. Eles também mataram pelo menos duas ovelhas e feriram uma terceira. Este também não foi um caso isolado.

Assim se apresenta a Nakba quando ela continua e quando os melhores israelenses são cúmplices dela. A Nakba não terminou em 1948; ela está acontecendo em Gaza, Jerusalém Oriental, Jaffa, no Negev e nas aldeias, campos e campos de refugiados da Cisjordânia.

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