A Baixada Santista se prepara para enfrentar uma das mais severas crises de abastecimento de água dos últimos tempos nos nove municípios da região. O alerta é do especialista em saneamento e ex-funcionário da Sabesp, Amauri Pollachi. Em entrevista ao portal Os Inconfidentes, ele atribui a iminente escassez ao desmonte da estrutura de prevenção e emergência da empresa, agravado após sua privatização pelo governo de Tarcísio de Freitas.
“O enorme fluxo de população flutuante trará às cidades uma situação de caos no abastecimento. Principalmente porque a Sabesp se tornou um arremedo do que era antes da privatização”, afirmou Amauri Pollachi, que é mestre em Planejamento e Gestão do Território e coordenador do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (ONDAS). Ele recomenda que a população economize água ao máximo e, se possível, tenha galões para consumo imediato.
O especialista compara a situação à que ocorreu na Região Metropolitana de São Paulo durante o Natal, quando bairros periféricos ficaram sem água. Segundo ele, a combinação de menor volume de chuvas e a baixa capacidade de sistemas como o Jurubatuba, que abastece o Guarujá, criam um cenário crítico. A agravante, destaca, é a falta de preparo para picos de consumo.
DESMONTE DA ESTRUTURA
Pollachi, que ocupou diversos cargos na Sabesp e na Secretaria de Saneamento, detalhou como a empresa operava antes da privatização. No pré-verão, uma logística complexa era acionada, com caminhões-pipa trazidos de várias regiões do estado e equipes especializadas de manutenção preventiva mobilizadas para a Baixada. “Havia uma concentração de esforços para que se reduzisse a deficiência de abastecimento”, explicou.
O governo estadual, “para garantir mais lucro a acionistas”, promoveu demissões em massa. A Sabesp, que tinha cerca de 12 mil funcionários há dois anos, agora opera com aproximadamente 6 mil. “Os que foram demitidos eram os com maior experiência”, afirmou Pollachi, destacando que a busca por redução de custos eliminou profissionais com até 40 anos de know-how em garantir o abastecimento ininterrupto.
“O que deveria ter é um sistema preparado para atender esses picos de consumo”, argumenta, lembrando que antes a empresa conseguia aumentar a produção em 10% a 15% para direcionar água para as periferias durante os períodos críticos. “Creio que essas regras não estão sendo obedecidas hoje pela Sabesp”, disse.
Enquanto a Baixada Santista se aproxima de um verão de racionamento, o governador Tarcísio de Freitas está de férias nos Estados Unidos.










