Políticos de partidos das mais diversas orientações políticas do Peru, juristas, artistas e lideranças de entidades sociais concordam que não existe uma perseguição contra o ex-presidente Alan García, refugiado desde sábado, 17, na residência do embaixador do Uruguai em Lima para se livrar de uma investigação judicial por corrupção. Consideram que se o Uruguai concede asilo a García, isso significaria um golpe à luta contra esse flagelo.
Foi difundido na sexta-feira, 23, um vídeo nas redes sociais com o nome #DileNoUruguay (#Diga-lheNãoUruguai) e na campanha pública participam o ex-primeiro-ministro Pedro Cateriano, os jornalistas Rosa María Palacios e Augusto Álvarez Rodrich, as atrizes Ebelin Ortiz e Jely Reátegui, a escritora Mariana de Althaus e o pintor Ramiro Llona, entre outros.
O governo de Tabaré Vázquez ainda avalia se outorga ou não asilo oficial a García, contra quem foi ditada ordem de impedimento de saída do país no dia 17 deste mês – horas depois de haver pedido asilo– no bojo de uma investigação fiscal pelo pagamento de subornos no valor de 24 milhões de dólares por parte da construtora Odebrecht para emplacar a construção do Metrô de Lima, caso pelo qual estão detidos um vice-ministro e outros funcionários de seu governo. Documentos divulgados nos últimos dias revelam o pagamento de 100 mil dólares a García pelo escritório da Odebrecht encarregado de pagar subornos, a tal Divisão de Operações Estruturadas.
Em nota entregue ao presidente uruguaio, o governo peruano assinala que no país não existe perseguição política, que há um governo que respeita a divisão de poderes e que as instâncias judiciais respeitam o devido processo. Lembra ainda que a Convenção sobre Asilo Diplomático, de 1954, estabelece que o asilo não procede nos casos em que o solicitante é processado por delitos comuns e que esse é o caso de García, e assinala que devem ser respeitados os convênios internacionais assinados por ambos países que comprometem os Estados a lutar contra a corrupção e cooperar entre eles nessa tarefa.
No Peru, por crimes de corrupção ligados à Odebrecht, além de García, Ollanta Humala e Keiko Fujimori, também são investigados judicialmente. Os ex-presidentes Pedro Pablo Kuczynski, que em março passado teve que renunciar à presidência por este caso e também tem impedimento de saída do país, e Alejandro Toledo, que assim como García alega perseguição política e está refugiado nos Estados Unidos submetido a um processo de extradição. A ex-prefeita de Lima, Susana Villarán, está com impedimento de viajar fora do país.