John Bolton, conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, não deixou dúvidas sobre quais são as prioridades de seu chefe, Donaldo Trump, nos entendimentos que veio manter com a equipe de Jair Bolsonaro. O primeiro assunto tratado pelo funcionário do governo americano no café da manhã de quinta-feira, na residência do presidente na Barra da Tijuca, foi a defesa intransigente de facilidades para a entrada de produtos americanos no mercado brasileiro e a elevação dos lucros das empresas americanas que atuam no Brasil.
Bolton nem bem sentou na mesa e já foi dizendo que o Brasil é protecionista, que tem que melhorar a situação das empresas americanas por aqui, que tem que baixar as tarifas alfandegárias, etc. Segundo o próprio presidente eleito informou aos jornalistas, Bolton disse no início da conversa que “as empresas americanas precisam ser mais bem tratadas no Brasil”. “Ele reclamou das taxas alfandegárias, das dificuldades de se fazer negócio aqui”, afirmou. “Ele [Bolton] disse também que há muito protecionismo e que espera que as relações melhorem a partir de agora”, acrescentou o anfitrião.
Perdendo cada vez mais espaço para os produtos industriais asiáticos, particularmente os da China, o que eles visam é obter mais facilidades para garantir o domínio do nosso mercado por suas empresas. É como eles acham que vão salvar sua combalida economia. A “missão” de Bolton por aqui era principalmente essa. Querer mais benesses do que já têm as empresas americanas no Brasil (subsídios, crédito, sobrepreços, arrocho salarial) é querer sufocar a economia brasileira para melhorar a deles. Nessa hora, era de se esperar que o presidente ficasse com os interesses do Brasil e não se alinhasse aos interesses estrangeiros.
Mas, depois de bater continência ao funcionário de Trump, Bolsonaro encaminhou, como ele mesmo disse, as queixas de Bolton “para solução por parte da equipe econômica”. “Temos que melhorar as relações comerciais com os EUA”, disse. Isso depois do Brasil ter sido obrigado a aceitar a definição de cotas de suas exportações de aço e alumínio para os EUA para não ter os produtos sobretaxados unilateralmente pelo governo Trump. Eles adotaram, ainda, subsídios extras aos agricultores norte-americanos de até US$ 12 bilhões.
O governo americano reclama literalmente de barriga cheia. Além de dominarem há décadas a economia nacional e adquirirem empresas brasileiras em número significativo – das 20 maiores multinacionais que atuam no Brasil, metade são dos EUA -, os americanos lideraram o destino das remessas de lucros e dividendos para o exterior, respondendo por 31,1% do total (dados de 2017).
E não só isso. De 2009 até 2017 o Brasil foi dos poucos países do mundo que mantinham déficits comerciais com os EUA. O fluxo de comércio entre os dois países proporcionou saldos positivos e bastante elevados para os americanos. O maior deles foi registrado em 2013, no montante de US$ 11,365 bilhões, fruto de exportações de US$ 36,018 bilhões e vendas brasileiras de pouco mais de US$ 24,653 bilhões.
Nesses oito anos, o saldo acumulado pelos Estados Unidos superou a cifra de US$ 48,3 bilhões, o maior déficit já registrado na história do comércio exterior brasileiro num período de nove anos com um único país. Em 2017 houve uma pequena reversão na balança entre os dois países. Entre os principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA no ano passado está o óleos bruto de petróleo, cujas vendas externas expandiram em 65%.
SÉRGIO CRUZ
nao da mais para americanizar o pais, por culpa de imbecis