“Que suas muitas vítimas em todo o mundo descansem em paz. George H W Bush morre aos 94 anos”, registrou o site progressista norte-americano Common Dreams, em uma demolidora síntese da carreira de crimes contra a Humanidade e contra o povo norte-americano de Bush Pai, cuja passagem no sábado (1) mereceu enternecidas loas de criminosos de guerra como Clinton e Obama, coroando o coro de bajuladores, cúmplices e escroques. Também estão de luto fechado as Sete Irmãs, a CIA, o grupo Carlyle e Wall Street.
The Intercept pediu que “como uma figura pública com muito sangue inocente em suas mãos, seu registro deve ser examinado sem qualquer branqueamento”.
Em três tuitadas, o jornalista Jeremy Scahill, traçou um quadro sumário de Bush Pai, a quem classificou de “um criminoso de guerra impenitente”. “Lembro-me de sentir um profundo sentimento de vergonha e raiva quando visitei o abrigo de Amiriyah no Iraque”, onde “George H W Bush matou mais de 400 civis encolhidos em 13 de fevereiro de 1991”.
Ainda Scahill: ele atacou “sistematicamente a infraestrutura civil no Iraque. Ele transformou hospitais em filas da morte para bebês. Ele usou amplamente o urânio depletado, fazendo com que as taxas de câncer disparassem. Ele fez do Iraque um cemitério em massa. E a matança não parou desde então.”
Glenn Greenwald lembrou o perdão presidencial de Bush Pai aos operativos do escândalo Irã-Contras, responsáveis por milhares de nicaraguenses mortos e por entupir de cocaína os guetos negros da América.
Foi ele também quem libertou em 1990 o terrorista e agente da CIA Orlando Bosch, responsável pelo atentado a bomba contra o vôo 455 da Cubana em 1976, que matou 73 pessoas.
Lance Karlson, dos The Noriega Papers, assinalou que “neste Natal serão 29 anos desde que George H W Bush ordenou a invasão do Panamá pelos EUA com o único objetivo de prender Noriega, o ex-agente da CIA que ‘sabia demais’. Quase 3.000 civis foram mortos”.
À longa lista de crimes do velhaco, o jornalista e cineasta Kevin Gosztola acrescentou o apoio do governo de Bush Pai à ditadura de El Salvador em 1989 quando esta assassinou “na guerra suja seis padres jesuitas, sua govenanta e sua filha”. A propósito, foi a guerra suja de El Salvador que serviu de molde, ao filho W Bush, no Iraque, quando se deparou com a insurreição após a invasão.
Coube também a Bush Pai rearticular a CIA, após o estrago feito pelas investigações da Comissão Church. Foi com ele como diretor da CIA que o agente da CIA e chefe da Dina chilena, Manuel Contreras, mandou explodir em plena capital dos EUA o ex-chanceler do governo Allende, Orlando Letelier, no mais escandaloso assassinato da Operação Condor. Ato impensável em Washington sem a cobertura da CIA que, como revelou o jornalista que expôs o Irã-Contras, Robert Parry, ainda vazou pela Newsweek um “relatório falso isentando o serviço secreto chileno”. Na época, o vice de Bush Pai na CIA era Vernon Walters, que dispensa apresentações.
Também houve o dedo de Bush Pai na “Surpresa de Outubro” – a sabotagem das negociações do governo Carter com o regime dos aiatolás para liberação dos 52 reféns da embaixada, realizada com ajuda do governo Begin, Israel era a outra ponta do que viria a ser o Irã-Contras, com a liberação só ocorrendo após a derrota nas eleições do Democrata. Bush Pai era o vice de Reagan. Um dos operativos da sabotagem, Mike Copeland, um dos da “CIA dentro da CIA”, relatou a Parry anos depois que o problema que tornava imperativo afastar Carter era que este era “um homem de princípios”.
Um terreno no qual Bush Pai também se notabilizou, após ser derrotado na famosa eleição do “é a economia, estúpido”, indo mercadejar suas relações no mundo inteiro e em Washington com o grupo Carlyle, que literalmente transmutou chumbo em ouro desde que colocou como executivo-mor o ex-secretário do Pentágono, e ex-operativo de primeira linha da CIA, Frank Carlucci. Ao qual também se juntaram o ex-secretário de Estado, James Baker, e personalidades como o ex-primeiro-ministro John Major.
Possivelmente, foi Bush Pai que inaugurou o circuito das palestras de ex-presidentes, que depois virou moda. Palestras em Riad, em Seul, e outros lugares, aonde o grupo Calyle queria chegar, a peso de ouro. Os sheiks sauditas também ficavam muito entusiasmados com os investimentos através do Carlyle. O grupo chegou a ser dono de um dos 10 maiores – em encomendas – fabricantes de armas dos EUA, a United Defense, agora, pelo menos oficialmente, adquirida pela BAE, que um dia foi inglesa. Diz-se que o grupo Carlyle encheu as arcas com as guerras do Iraque.
Quando da ‘Primeira Guerra do Golfo’, havia uma grande resistência até mesmo dentro do Congresso dos EUA e a votação foi apertada. A guerra só venceu por causa de uma fake news, a de que os soldados iraquianos no Kuwait estavam tirando os bebês das incumbadeiras nas maternidades e as matando, segundo uma suposta enfermeira que escapara. Uma fabricação estrelada pela própria filha do embaixador do Kuwait.
Difícil acreditar que Bush Pai não estivesse na parada. Depois do 11 de Setembro, quando a inteligência chegava com um relatório negando a participação do governo Sadam, a ordem era refazer, até viabilizar o já decidido assalto ao petróleo – aliás, o negócio da família.
Quando a ‘Resistência’ anti-Trump saiu em campo para chorar a perda do ‘estadista Bush Pai’, um dos fundadores da Electronic Intifada, Ali Abunimah, não perdoou. Lembrou a essa gente que foi o “nojento, racista e eficaz anúncio Willie Horton” de sua campanha presidencial de 1988 “que foi modelo para todo o racismo declarado de Trump”.
A.P.