(HP 17/10/2007)
Sabem os nossos leitores que temos uma certa consideração pelo ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore. É evidente que, comparado a Bush, Gore é um verdadeiro gigante. O leitor poderia perguntar: “comparado a Bush, quem não é?”. Verdade, mas não por acaso, Gore foi tungado na mais escandalosa eleição até hoje acontecida em seu país, onde o que não faltam são eleições escandalosas. Nossa consideração para com ele, naturalmente, não vai ao ponto de acompanhá-lo naquilo em que está errado, até mesmo porque isso não seria consideração. Gore acaba de ser contemplado com o Prêmio Nobel da Paz – diríamos que pelos motivos errados.
Já o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática – agraciado também com o Prêmio Nobel da Paz deste ano – nunca mereceu de nós consideração alguma, simplesmente porque não é nada. Somente o sr. Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, poderia, com a cara-de-pau que lhe é habitual, dizer que o Nobel “é um reconhecimento especial para a comunidade científica”. Acontece que o IPCC não é uma instituição científica, não realiza pesquisa científica alguma, e nem mesmo se ocupa em monitorar dados científicos sobre as mudanças climáticas. No entanto, diz um espiroqueta da mídia, “o IPCC é a autoridade máxima em mudanças climáticas”.
BADALAÇÃO DA MÍDIA
Quando de seu segundo relatório (1996) sobre o propalado “aquecimento global”, disse o cientista americano Frederick Seitz: “Em meus mais de 60 anos como membro da comunidade científica dos EUA, inclusive como presidente da Academia Nacional de Ciências e da Sociedade Americana de Física, eu nunca presenciei uma corrupção mais perturbadora, como nos eventos que produziram esse relatório do IPCC. (….) mais de 15 seções no capítulo 8 do relatório – o capítulo-chave que estabelecia as evidências científicas a favor e contra uma influência humana no clima – foram alteradas ou eliminadas depois que os cientistas encarregados de examinar essa questão haviam aceito o texto supostamente final. Poucas dessas mudanças foram meramente cosméticas, aquecimento global, em particular”.
Seitz está muito longe de ser o único. O famoso climatologista francês Marcel Leroux, numa série de trabalhos, inclusive em “Aquecimento Global: uma impostura científica” (“Réchauffement global: une imposture scientifique”, Fusion, nº 95, março-abril 2003), mostrou a farsa dos relatórios do IPCC. Leroux, além de titular da Universidade Jean Moulin, é diretor do laboratório de climato-logia do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.
A fraude no relatório a que se refere Seitz, no entanto, foi coisa angelical perto do que aconteceu no terceiro relatório – o mais famoso deles, de 2001, que até hoje é a base para babaquaras do mundo e pilantras tipo “Veja” falarem em “aquecimento global”.
A prova de que o ser humano era responsável por um aumento de 0,6º C na temperatura média da Terra era um gráfico forjado por um professor de Massachussetts, Michael Mann. Apesar da intensa badalação da mídia em torno de seu gráfico, foi demonstrado que Mann havia expurgado dois períodos bem conhecidos da história do Planeta: o denominado “Ótimo Climático Medieval” (mais ou menos entre os anos 800 e 1300), quando as temperaturas no Hemisfério Norte eram até 2º C maiores que as atuais, e a famosa “Pequena Idade do Gelo” (1350-1850). Assim, o aquecimento posterior a 1850 aparecia no gráfico como uma agudização súbita e catastrófica, e não como uma recuperação da temperatura após o fim desse último período de resfriamento.
“ALGORITMOS”
Mann tentou consertar seu gráfico, incluindo, supostamente, os períodos antes expurgados. Mas, os estatísticos Stephen McIntyre e Ross McKitrick demonstraram que na metodologia inventada por Mann (isto é, seus “algoritmos”, as sequências de operações a que os dados eram submetidos) o gráfico era sempre o mesmo, não importavam os dados que se usassem. A análise de McIntyre e McKitrick foi revista por Edward Wegman, maior autoridade americana em modelos matemáticos computa-dorizados. Wegman confirmou a fraude, com um parecer demo-lidor, apresentado à Câmara de Representantes dos EUA.
Em 2007, o IPCC lançou o seu quarto relatório. O gráfico de Mann foi retirado do relatório. Nenhuma palavra sobre a fraude. Mas as conclusões continuaram as mesmas do terceiro relatório, mesmo sem o gráfico.
“Cada um dos sucessivos resumos”, diz, sobre os relatórios do IPCC, o Dr. Garth Paltridge, professor emérito e especialista em estudos antárticos da Universidade da Tasmânia, “têm sido escritos de forma a parecer um pouco mais certos do que o anterior sobre o fato de o aquecimento global ser um desastre potencial para a Humanidade. A crescente certeza verbal não provém de qualquer avanço particular da ciência. (…) A platéia tem sido ativamente condicionada para ser receptiva. Por conseguinte, tem se tornado gradativamente mais fácil vender a proposta do desastre do aquecimento”.
Resta saber os motivos porque uma empulhação dessas é tão promovida, tão agitada pela mídia pró-imperialista, e porque querem acabar com qualquer ponto de vista contrário a ela. Até que o IPCC aparecesse, o aquecimento era tido pela ciência como benéfico para a Humanidade e para os seres vivos em geral. De repente, a ciência não mudou, mas o aquecimento tornou-se uma catástrofe, e os adeptos da tese – por exemplo, o senador John D. Rockefeller IV e a Royal Society, de Londres – encetaram uma campanha para que cientistas contrários aos pontos de vista do IPCC não recebam financiamento para suas pesquisas. Por quê?
Hoje a soma do Produto Interno Bruto (por paridade do poder de compra) dos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) já é superior tanto ao PIB dos EUA quanto ao PIB dos países da União Européia, para não falar do Japão. Os BRICs somam um Produto Interno Bruto de US$ 17.571.515.000,00 contra US$ 13.020.861.000,00 dos Estados Unidos e US$ 13.881.051.000,00 da União Européia, enquanto o PIB japonês do ano passado foi de US$ 4.170.533.000,00 (dados do FMI referentes ao ano passado).
Justamente quando o crescimento dos países centrais do sistema imperialista começa a ficar para trás, é que surge uma campanha cujo centro é propalar que o desenvolvimento industrial – o fator humano – é que está destruindo a Terra, portanto, é preciso diminuir as emissões de gás carbônico. Em suma, uma descarada tentativa de crimi-nalizar o desenvolvimento dos países que mais crescem ou mais têm potencial para crescer no mundo, pois é evidente que a industrialização implica num certo aumento de emissões de gás carbônico. E, nesse estado de coisas, esse aumento será relativamente maior nos países que se industrializam do que nos países que já são industrializados, mas estão mais ou menos estagnados.
MONOPÓLIOS
Portanto, essa campanha catastrofista tem um alvo, o desenvolvimento de países como o nosso – e tudo em nome do amor à Humanidade e à natureza, amor que, como todos nós sabemos, é a especialidade dos monopólios financeiros com sede nos EUA, Europa e Japão. Subsidiariamente, recrudesce a campanha segundo a qual as florestas dos países periféricos, para o bem da Humanidade, têm de ser “internacionalizadas”, ou seja, têm que ser retiradas da soberania dos países onde se localizam. A principal dessas florestas, como se sabe, é a imensamente rica Floresta Amazônica (ver matéria na página 2) .
O Prêmio Nobel da Paz sempre teve um problema congênito: foi instituído pelo inventor da dinamite – e o dinheiro que seus agraciados recebem vem da fortuna ganha com a dinamite. Talvez por essa origem, o prêmio tem misturado Madre Tereza de Calcutá com Eisaku Sato, o arquiteto do humaníssimo capitalismo japonês; Martin Luther King com Menachem Begin, o terrorista da Irgoun; Nelson Mandela com Henry Kissinger, o açougueiro do Vietnã e do Chile. Os primeiros servem para dar algum prestígio ao prêmio. Os segundos, para puxar o saco do que há de pior no mundo. E, basta somente olhar a lista, há muito mais detentores da segunda categoria do que da primeira.
CARLOS LOPES