(HP 29/06/2007)
J. W. BAUTISTA VIDAL*
É impossível levar adiante os objetivos de substituir o petróleo e seus derivados e o carvão mineral, gás de petróleo, xisto e demais fósseis não renováveis por derivados da biomassa, combustíveis e matérias-primas vegetais sólidos, líquidos e gasosos, renováveis e limpos dos trópicos, nas dimensões mundiais atuais, sem a existência de adequados instrumentos operacionais, práticos e eficientes, promovidos no âmbito de países da América Latina, especialmente Brasil e Venezuela com as perspectivas que esses países oferecem.
Há consenso generalizado que é indispensável a criação de uma empresa de economia mista que venha a representar as vocações energéticas renováveis e limpas do continente latino-americano com o papel ampliado do que a Petrobrás e a PDVSA desempenharam com o petróleo, na área da mineração. Esse instrumento permitirá a possibilidade de ação ante um imobilismo passivo do tipo colonial humilhante que implica na redução sistemática da soberania nacional.
BIOMASSA
Ambos setores, a biomassa e o petróleo, são competidores, pertencem a domínios do conhecimento diferentes. O petróleo na área da mineração e os combustíveis renováveis (álcool etílico e óleos vegetais) e celulose, na área da agroindústria. Eles exigem quadros de bases conceituais essencialmente distintos. Não é realista considerar possível a reciclagem dos atuais quadros, principalmente da mineração, para a área da agroindústria, sem grandes dificuldades. Trata-se de uma nova realidade, com técnicas e funções distintas. Naturalmente esses quadros reagem à mudança por perda de status e de funções. Ademais, o campo do petróleo ainda tem tarefas importantíssimas a desempenhar ao longo do período de transição, antes que sejam estruturados quadros para levar avante a nova realidade de amplitude mundial.
Uma comprovação deste fato foi a experiência de criação no Ministério das Minas e da Energia do Brasil de um novo departamento para cuidar das energias renováveis alternativas substitutas dos fósseis sob a competente direção de Sérgio de Salvo Brito**. Conforme declarou o próprio Sérgio Brito, o universo dos mineradores e eletricitários reagiram contra essa importante iniciativa que implicava em retirar-lhes status e funções. Por isso ela foi enterrada pela morte de Sérgio Brito. Dificilmente se poderia ter um dirigente mais competente colocado entretanto em ambiente adverso onde nunca iria frutificar, como ocorreu. São áreas estratégicas de grande importância, configurando-se as energias renováveis dos trópicos de conseqüências e dimensões mundiais, decisivas para o futuro, não poderiam assumir o seu papel essencial subordinadas a áreas de conhecimento competidoras e já consolidadas. Após cerca de quarenta anos de efetivo treinamento dos quadros dessas eficientes empresas de petróleo, não é possível imaginar poder cambiar tudo envolvendo áreas ainda essenciais ao período de transição.
Ambas empresas ainda têm importantes tarefas a desempenhar para suprir nossos países de combustíveis fósseis, enquanto a solução dos combustíveis renováveis está ainda no início de montagem e da preparação de seus quadros.
Tem-se ademais que considerar o poder de exportação de petróleo da PDVSA ao tempo em que os países latino americanos apenas cogitam assumirem suas vocações naturais no setor da biomassa como está sendo exigido por toda a humanidade, como energia do futuro. O faturamento externo da PDVESA é essencial para que venha a suprir novos investimentos na distribuição das energias renováveis em grande escala e para grandes mercados, como Japão, Alemanha, China e outros. O Brasil precisa assumir a liderança que vem perdendo e que vinha mantendo nos últimos 30 anos, atualmente por falta de ação devido a carências institucionais e por agressivas políticas de domínio dos EUA e outras nações hegemônicas. A América Latina tem de ocupar com legitimidade o status mundial que seu potencial garante e os apoios de benéficas alianças internacionais no campo energético (China, Japão, Alemanha, entre outros) a favor das energias renováveis. São responsabilidades globais que todos os demais países cobram, como resposta pelas nossas excepcionais vantagens comparativas e exigências internacionais.
Ademais a ampla mudança da base energética fóssil para a das energias renováveis implica na alteração da matriz tecnológica mundial em toda sua extensão, embora as linhas energéticas de formação das duas linhas sejam seqüenciais e tenham a mesma origem na radiação eletromagnética do sol. Nelas, os combustíveis renováveis antecedem em centenas de milhões de anos aos combustíveis fósseis nos seus respectivos processos de formação, a partir do sol. O petróleo se forma pelo depósito de hidratos de carbono microscópicos das plantas depositados no fundo de lagos e mares e submetidos a longo processo de fossilização.
VOCAÇÃO
O não cumprimento de tais vocações resulta em fraqueza injustificável e em não poder contribuir para evitar conflitos bélicos decorrentes da escassez do petróleo como tem ficado evidente em várias regiões do planeta, haja vista a possibilidade efetiva que esse potencial do continente latino americano poderá vir a ter, sendo esta a principal razão para reduzir perigosas tensões que ajudam à promoção da guerra, ademais de reduzir perigosos desrespeitos à autodeterminação dos povos e permitam assim o prolongamento do uso das reservas de petróleo que restam.
A Venezuela exerce função estratégica de Secretaria Executiva da OPEP podendo orientar os países membros na resistência ante o perigo de invasões que enfrentam de potências militares hegemônicas no momento em que surgem disponibilidades adicionais de substitutos aos derivados do petróleo oferecidas pelas energias renováveis tropicais de ação também amortecedora sobre as conseqüências do Aquecimento Global provocado pela queima de fósseis.
Nos últimos 30 anos, o Brasil pôs em execução o único programa nacional vitorioso de substituição de derivado do petróleo, o Pró-Álcool. Como o petróleo é não renovável, a possibilidade de sua exaustão leva à guerra ou a continuadas invasões por potência militar sobre países com importantes reservas de petróleo. A principal causa para a guerra são as riquezas energéticas e só serão evitadas com a ampliação da produção de substitutos vantajosos do petróleo como são as energias renováveis tropicais, que colocam o continente latino-americano em grande vantagem mundial, ainda não aproveitadas por falta de instrumentos operativos adequados.
DOMÍNIO ENERGÉTICO
Por isso a principal potência hegemônica militar saiu na frente pretendendo controlar a distribuição dessas energias renováveis e assim assumir o domínio do futuro energético do mundo subjugando nossos países a seus interesses, como fizeram no passado com o controle da distribuição do petróleo com poderosa rede mundial de instituições. Antecipando esses objetivos de dominação já vem ocorrendo a perda de nossos patrimônios estratégicos pela compra de terras tropicais ou a sua concessão por 40 anos, renováveis por mais 40 anos. Na realidade, trata-se de cessão de território. Ou a compra de usinas já prontas que passam a ser dominadas por corporações estrangeiras. É o domínio das energias renováveis do futuro da humanidade, produzida em abundância nas regiões tropicais da América Latina, especialmente no Brasil, e destinadas aos grandes centros consumidores hegemônicos por meio de suas corporações. A produção pode ser por nacionais ou por “plantations” controladas por estrangeiro. Neste último caso, o trabalhador nacional pode ser dispensado e as plantações altamente mecanizadas.
Tal potencial tornou-se fonte de cobiça dos países hegemônicos destacando-se os EUA que vêem o Brasil como celeiro para o abastecimento de riquezas minerais, energéticas, aqüiferas e de controle de toda a região amazônica. O Brasil passa a ser então País visado pelos hegemônicos, o que promove a desestabilização da unidade latino americana. A tendência é ter o seu território dominado por corporações transnacionais de fora do País por meio do controle da distribuição dessas energias renováveis, como vem ocorrendo de modo perigoso.
A imensa perspectiva que temos de exportação, reconhecida por todos, transforma-se assim em domínio colonial pelos norte americanos e outros e em miséria para o nosso povo.
Falta no Estado brasileiro coragem e decisão política para mudar estas circunstâncias desfavoráveis aos nossos interesses mais legítimos, comprometendo gravemente a soberania nacional. Falta estrutura de poder e de ação para fazer valer nosso imenso potencial e estratégica vocação, capaz de reverter a perigosa situação atual. Competência técnica nós temos, reconhecida mundialmente.
Para reverter essa falta de controle nacional a nosso favor é necessário criar instrumentos de ação adequados – no momento não temos nenhum. É necessário a criação de uma instituição, uma empresa de economia mista que potencialize nossas excepcionais vantagens comparativas, proteja o pequeno produtor e faça valer a vocação natural da América Latina visando a energético do mundo.
No 2º. semestre de 2005 com o objetivo de avaliar o potencial brasileiro de exportação de álcool e de co-geração de energia elétrica usando o bagaço de cana, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, envolvendo mais de 600 especialistas, empresários e autoridades do setor, realizou Seminário Internacional de dois dias, na sua sede no Rio de Janeiro. Foi comprovado o imenso potencial de exportação, sua complexidade efetiva e a inexistência de estruturas e infra-estruturas de ampliação da produção, de distribuição e de logística, de desenvolvimento tecnológico e de políticas públicas adequadas para permitir que as energias renováveis venham a alcançar as dimensões da demanda mundial que foi constatada. Nada vem ocorrendo porém do lado brasileiro como constatou o especulador George Soros, ao tempo em que anuncia investir no Brasil cerca de um bilhão de dólares nesse setor.
O incremento da produção deve seguir a linha do melhor resultado social a partir do pequeno produtor, da agricultura familiar, sem exclusão de outros, e a possibilidade de criação de um grande número de postos de trabalho e de renda, diminuindo assim as desigualdades sociais, endêmicas em toda América Latina, ao contrário de inversões capitalistas estrangeiras, altamente concentradoras e de domínio colonial.
São exemplo de avanços as novas tecnologias de micro-usinas eficientíssimas de etanol (200 a 400 litros/dia), acopladas à produção de aguardente de alta qualidade, de açúcar mascavo, da criação de gado confinado (carne e leite) – 80 cabeças por unidade -, de adubo orgânico, com uso de florestas intensas para a produção de calor com baixos investimentos de instalação – compatíveis com nosso produtor rural – 15 mil reais por micro-usina -, permitem produzir o litro do álcool por custos muito baixos, cujos valores serão rateados com a venda dos demais produtos e subprodutos de elevados valores agregados produzidos na usina.
POLOS PRODUTIVOS
Este modelo econômico de micro-usinas não existia antes com tecnologia comprovada e hoje há condições para a implantação de um milhão de unidades agregadas em pólos produtivos de desenvolvimento envolvendo dezenas de milhares de empreendedores agrícolas por pólo (exemplo de Palmeira das Missões, RS, com cerca de 60 mil produtores, distribuidos em 22 municípios). Pode-se acoplar a esses pólos um milhão de unidades de criação de gado confinado – cerca de 80 cabeças por unidade -, com produção de carne, leite e adubo orgânico, usando-se o bagaço de cana e o vinhoto como alimento animal, suprimindo portanto o capinzal de baixa produtividade e aproveitando o terreno para um outro fim de maior rentabilidade.
Esses pólos de produção deverão ser apoiados inicialmente na sus organização por prefeituras, associações de produtores e, principalmente, pela empresa de economia mista a ser criada, que daria dimensão e poder de Estado ao conjunto de pólos integrados nacionalmente. Essa empresa, a EBA, de economia mista cuidaria da rede de distribuição mundial do álcool produzido pelos pólos produtores; do desenvolvimento tecnológico coletivo, refletindo a capacidade produtora da região e do apoio institucional financeiro, legal e político. Isto é necessário pois os pequenos produtores são individualmente muito vulneráveis, de forma a protegê-los da ganância do mercado. A EBA coordenaria esses pólos de produção dando condições de florescerem, envolvendo milhões de unidades, sem perigo ante os avanço sobre eles das grandes corporações especialmente as estrangeiras. Todos os produtores serão amparados indiretamente pelo Estado em sua fase inicial.
É uma forma institucional nova, autônoma, pública-privada, reunindo os pequenos produtores e os Estados nacionais envolvidos, em conjuntos essenciais ao exercício do Poder Nacional, ocupando assim as terras com nacionais para evitar a ameaçadora “invasão” estrangeira que está ocorrendo.
INVESTIDA
É lamentável a fraqueza institucional do Brasil frente à investida agressiva dos EUA que objetiva dominar o programa energético brasileiro em seu beneficio e enfraquecer a América Latina em seu projeto de integração regional. Assim, o Brasil está permitindo aos EUA apoderar-se de suas mais estratégicas vocações nacionais: suas energias líquidas renováveis de origem vegetal e o controle de suas terras tropicais.
A EBA cuidaria da distribuição mundial do álcool e óleos vegetais produzidos nacionalmente e assim deverá ter recursos financeiros suficientes para dar autonomia e estabilidade ao sistema de micro-usinas acopladas a uma pecuária que pode chegar a 80 milhões de cabeças de gado, entre outras atividades econômicas vantajosas, não dependendo de orçamentos sujeitos a contingenciamentos impostos pelo sistema financeiro dos banqueiros para alimentar a maléfica ciranda financeira, maior fonte de extorsão do trabalho do nosso povo. A forma desse novo associativismo dos pequenos produtores criado por esta empresa será definido oportunamente.
II
Uma segunda estratégia seria dar condições para que os produtores de óleos vegetais possam utilizar o óleo produzido “in” natura, sem custos adicionais devido à produção do biodiesel usando para isto motores apropriados que já existem ou utilizando “kits” de adaptação nos motores atuais os quais não queimam o óleo “in” natura, e que exigem assim a conversão do óleo vegetal em biodiesel, com a retirada da glicerina. Os óleo vegetais são excepcionais combustíveis, fáceis de serem obtidos e mais baratos que o biodiesel ou o óleo diesel do petróleo.
Os motores “Elsbett” são possíveis de serem produzidos localmente em qualquer dos países integrantes do programa. Eles disporão de excepcional mercado garantido pelos equipamentos e veículos dos produtores de óleo. Os “kits” já são produzidos na região, ainda em pequena escala por falta de demanda, o que seria superado com a criação da EBA que torna possível o surgimento de milhões de pequenos produtores de óleos vegetais, de carne e leite, de adubo orgânico, de aguardente, de açúcar mascavo, de lenha e carvão vegetal e de álcool etílico, este para o mercado interno e o externo, de grandes dimensões, em substituição aos derivados do petróleo.
SUCESSO
Essas estratégias provocarão redução de 30% nos custos dos combustíveis tanto para o produtor do óleo como para o consumidor final, razão de sucesso para a produção desses combustíveis renováveis por dezenas de milhares, até milhões de pequenos produtores associados em pólos de desenvolvimento energético protegidos pela Empresa Brasileira de Agroenergias – EBA, que os agrega regionalmente. Cada um desses pólos seriam promovidos inicialmente por Prefeituras, associação de produtores e movimentos sociais e suas unidades, especialmente o seu conjunto, apoiadas pelo Estado brasileiro por meio da EBA.
O capital da Empresa seria formado por participação de entidades públicas indicadas pelo governo. Entidades estrangeiras poderão se associarem ao empreendimento sem prejudicar o seu controle pelos nacionais. Trata-se de contribuição estratégica para a almejada integração da região em termos efetivos e práticos. A forma de participação estrangeira no capital da Empresa deverá ser cuidadosamente estudada para manter a liderança desejada sem parcerias espúrias que visam ao controle do programa diretamente ligado ao futuro energético do mundo. A Empresa seria responsável pela coordenação das exportações, permitindo-lhe processo de capitalização a ser aplicado com prioridade em sistema de logística e distribuição, especialmente nas áreas externas.
A imensa potencialidade de produção de energias renováveis e limpas, dá à Empresa condições naturais e tecnológicas de liderança, poderá permitir o suprimento mundial dessas energias, em vantajosa substituição aos combustíveis e matérias primas fósseis e à integração do continente latino americano, no momento em que a demanda de petróleo tende a superar a oferta, provocando colapso econômico. Esta circunstância está levando à guerra em expansão, ainda confinada ao Oriente Médio, mas com risco de tornar-se global, apocalíptica, pelo aumento das tensões que motivam as nações hegemônicas à invasão. Os grandes blocos consumidores de petróleo temem a guerra já em andamento e apóiam esta iniciativa latino americana e brasileira na direção da paz e da prosperidade mundial, por longo prazo, em sistema sustentável e pacífico.
RESERVAS
Este programa visa também a garantir a aqueles países que detêm grandes reservas de petróleo prolongar no tempo suas reservas pois as alternativas vindas da biomassa tendem a reduzir suas demandas e ainda evitar justificativas para potências militares invadirem seus territórios. Com a produção de derivados da biomassa proposta neste programa não haverão carências mundiais de combustíveis líquidos no mundo, pois os combustíveis fósseis poderão ser substituídos por combustíveis renováveis, derivados da biomassa, com vantagens comprovadas, produzidos nas regiões tropicais.
Tudo isto exige que o assunto seja tratado com eficiência, competência e o realismo da sua verdadeira dimensão. Por isso, os países de maior consumo, especialmente aqueles que não detêm grandes reservas residuais de petróleo, cobram posicionamento dos países latino americanos para ocuparem suas vocações naturais, especialmente do Brasil, resultante de excepcionais vantagens comparativas na produção de combustíveis líquidos tropicais, renováveis e limpos.
A Venezuela goza da privilegiada posição por ocupar a Secretaria da OPEP, o que possibilita trazer aos demais países membros ao apoio a este programa e por isso dar continuidade em paz ao processo de fornecimento de petróleo sem colapsos econômicos, aquecimento global e injustas invasões, nesta fase de transição.
O Brasil foi o único País que teve sucesso na montagem e operação de eficiente programa nacional de substituição, com total êxito, de derivado do petróleo por combustível renovável de origem vegetal e solar. Ele é o único continente tropical, portanto com máxima potencialidade de energia solar; dispondo da maior proporção de água doce entre os países tropicais. Ademais com uma grande fronteira agrícola de terras férteis profundas disponíveis. Detém consagrada experiência tecnológica, com centenas de produtores de álcool em plena produção e também o melhor Centro Tecnológico Agro-Industrial em operação do mundo, em Piracicaba,SP, financiado pelos produtores de álcool e açúcar.
Na produção de óleos vegetais substitutos do óleo diesel de petróleo, se seguirá o mesmo modelo do uso do pequeno produtor agregado em pólos de produção com dezenas de milhares de produtores, visando a totalizar um milhão de micro empreendimentos. Nada impede, quando as circunstancias favoreçam, que se montem empreendimentos de maior porte, evitando sempre a concentração de renda e de poder em determinados grupos. Haverá sempre a alternativa da subsidiaria, autônoma e de objetivos bem definidos ou quando haja a exigência de maior porte econômico ou de independência nas ações.
Um outro conjunto empresarial é o dos fazendeiros florestais que produzem lenha e carvão vegetal para alimentar termoelétricas, siderúrgicas, produtores de ferro gusas, de ferro-ligas e metalúrgicas em geral. Estas unidades são muito necessárias em milhares de localidades onde não existem linhas de transmissão elétrica ou abaixadoras dessas linhas e que necessitam eletricidade de médio e pequeno portes. Extensas áreas do território nacional passam assim a ter a possibilidade de transformar-se em pólos de desenvolvimento auto-sustentáveis desde que contem com vasta disponibilidade de termoelétricas alimentadas a lenha, carvão vegetal ou mesmo óleos vegetais “in” natura. Quanto ao seu número há necessidade de estudos mais detalhados para avaliar suas dimensões.
ÓLEOS VEGETAIS
Existem fundamentadas críticas ao programa de biodiesel. Ele resulta da alteração da composição dos óleos vegetais ao retirar-lhes a molécula de glicerina para satisfazer às exigências dos motores ciclo diesel de baixa temperatura, tecnologia inadequada para a queima dos óleos vegetais “in natura” devido à presença da glicerina nesses óleos. Este fato impede ao pequeno produtor o uso direto nesses motores dos óleos que produzem. Existem porém motores que queimam óleos vegetais “in natura”, são os motores Elsbett, ciclo diesel de altas temperaturas, aos quais podem ser convertidos a partir daqueles de baixa temperatura com o uso de “kits” já disponíveis. Portanto, convém o uso do “kit” ou do próprio motor Elsbett que teria desde já o mercado dos produtores de óleos vegetais e de pequenas e médias termelétricas onde não existem linhas de transmissão ou abaixadoras. A estratégia seria que todo produtor de óleo vegetal usasse motores com a tecnologia adequada que reduz custos em relação ao biodiesel.
Enquanto a formação do petróleo, a partir da energia solar, depende de centenas de milhões de anos de fossili-zação, sendo portanto não renovável, o óleo de girassol, tendo também como origem a energia solar, leva apenas cerca de dois meses para se formar desde o plantio. O mesmo tempo reduzido ocorre com os demais óleos. As energias líquidas vegetais, abundantes nos trópicos, representam portanto uma antecipação de centenas de milhões de anos de uso de combustíveis de origem solar em relação aos derivados do petróleo, garantindo sua continuidade, enquanto houver sol. O Sol levará ainda uma dezena de bilhões de anos fornecendo energia até alcançar o nível máximo de entropia quando se apagará. É esta base científica que fundamenta a natureza sustentável da energia da biomassa, conceito ainda pouco compreendido e que garante o entendimento da imensa dificuldade de existir sistemas energéticos sustentáveis abundantes fora das regiões tropicais. Seriam necessários a mudança dos princípios da termodinâmica e a possibilidade do deslocamento da radiação solar dos trópicos para as regiões temperadas e frias do planeta para que a afirmação acima perdesse consistência científica.
A incidência de energia solar por dia sobre o hemisfério da Terra, situado a 150 milhões de quilômetros do Sol, equivale à energia de todas as reservas de petróleo descobertas e inferidas. Ou à energia produzida em 24 horas por 360 mil usinas hidrelétrica de Itaipu. Essa energia concentra-se nas regiões tropicas e se tornam cada vez mais escassas a medida que se aproximam dos pólos. A civilização do petróleo equivale portanto a um dia da civilização possível nos trópicos.
Não basta porém a abundância de sol, é preciso também a água doce abundante para permitir a conversão da energia eletromagnética do sol em energia química de fácil produção e uso. Esta conversão é feita pela fotossíntese das plantas em reação química endotérmica natural, sem custos adicionais, com a captação do CO2 do ar e de água doce. Formam-se então os hidratos de carbono e os óleos vegetais, a biomassa, base dos combustíveis vegetais renováveis. Cada conversor- planta – tem o seu grau de eficiência que varia por espécie vegetal. A cana de açúcar é um excelente conversor. Ela somente cresce de modo adequado dentro de determinada faixa tropical de latitudes.
FOTOSSÍNTESE
Há grande dificuldade técnica e de custos energéticos no aproveitamento da energia diretamente do sol. Não existem tecnologias eficazes de captação e armazenamento da energia eletromagnética do sol. Esta situação ficou superada com o uso do processo de fotossíntese das plantas que converte essa energia solar em energia química de fácil produção e que resulta em combustíveis vantajosos substitutos dos derivados do petróleo. Na realidade, esses combustíveis antecipam em centenas de milhões de anos os combustíveis derivados do petróleo, tornando desnecessário o longo período de fossilização que transformam os hidratos de carbono em hidrocarbonetos pela perda do oxigênio e evita a contaminação química de fósforo, enxofre e outros ingredientes retirados dos meios em que o petróleo se forma. Entre outras inúmeras vantagens socioeconômicas e a não contribuição para o aumento de CO2 no ar, razão do efeito estufa, a ausência de produção da chuva ácida, a sua natureza essencialmente renovável, compõem um conjunto amplo de características que permitem pensar-se em um novo caminho para o processo de evolução da humanidade que depende sempre de energia superando a guerra por motivos energéticos e permitindo um longo período de crescente bem estar: “nada se move ou se transforma no universo físico sem energia”, diz o 1º Principio da termodinâmica. Este é um novo processo que permite a civilização avançar com energia “plantada”. Já recebeu a feliz designação de Civilização da Fotossíntese sustentável enquanto existir radiação solar.
BRASIL
O Sol é a estrela que compõe o sistema planetário da Terra. Seu núcleo está a dezenas de milhões de graus de temperatura o que permite reações de fusão nuclear, transformando matéria (H2) em energia pela fórmula de Einstein : E=m.c2, sendo c a velocidade da luz no vácuo (300.000 km/seg) e m a massa de hidrogênio do sol. Isto permite a produção de uma quantidade descomunal de energia eletromagnética tendo origem no sol, que se espalha pelo universo, como ocorre com as demais estrelas. Na realidade o sol é o único reator a fusão nuclear do sistema planetário da Terra, natural como em todas as estrelas.
A Civilização da Fotossíntese torna-se possível tendo por base o território tropical de parte importante da América Latina e permite construir um novo processo evolutivo auto-sustentado, sem colapsos econômicos, graves mudanças climáticas ou aquecimento global.
Os dirigentes que liderarem a criação dos instrumentos institucionais essenciais à execução desses objetivos na América Latina, especialmente no Brasil, conquistarão para sempre o respeito e a admiração dos povos. É uma promessa e uma esperança que depende da criação desse instrumento institucional que em termos práticos permite a ação para tornar efetivo os objetivos possíveis nos trópicos da América do Sul como a região do planeta capaz de abrigar a primeira civilização da fotossíntese. Seus dirigentes têm a perspectiva única de transformar em realidade esse extenso painel de benefícios para o seu povo.
O veículo deste novo modelo econômico são os pequenos produtores rurais e o suporte físico indiscutível são os excepcionais patrimônios naturais desta privilegiada região, aliados à operosidade e inteligência de seu povo e a uma natureza esplendorosa. O essencial para o uso dessas condições especiais é a existência de instrumento operativo eficaz, uma empresa de economia mista para promover as ações necessárias ao bom uso de nossa grande vocação de único continente tropical do planeta.
* Síntese de Curriculum
Engenheiro Civil pela UFBa com pós-graduação em física na Universidade de Stanford, EUA. Professor das Universidades Federais da Bahia e de Brasília e Estadual de Campinas (UNICAMP). Diretor do Instituto de Física e do Centro de Ensino de Ciências (CECIBA) da UFBa.
A – Por três vezes Secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio;
B – 1º Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do Brasil, na Bahia;
C – Fundador de 30 Instituições de Desenvolvimento Tecnológico;
D – criador do Programa Nacional do Álcool e Coordenador de vários programas de uso de Óleos Vegetais como combustíveis;
E – Presidente do Instituto do Sol;
F – Conselhos Nacionais: a – Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); b – Industrial (CDI), Recursos do Mar (CIRM), Atividades Espaciais (COBAE), Comunicações (CNC);
G – Conselhos de empresas: Acesita-Aços Especiais, Telergipe; Codetec;
H – Presidente dos Conselhos: CEPED; CONMETRO; FTI e da Fund. para o Des. da Ciência na Bahia;
I – Coordenador do Mestrado em Geofísica da UFBa para engenheiros da Petrobras e da pós-graduação em física da UFBa;
J – Assessor do Congresso Nacional e Consultor das Nações Unidas, BID, BNDES e OEA;
K –Autor de 14 livros publicados e de centenas de trabalhos nas área da energia, meio ambiente, tecnologia industrial e educação, publicados no país e no exterior;
L – Relator Geral da Conferência das Nações Unidas de Ministros da Ciência e Tecnologia da América Latina;
M – Coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Univ. de Brasília;
N – Conferencista da ESG, ECEME, Escola de Guerra Naval e ADESGs em 10 Estados do Brasil;
O – Negociador de Acordos de Tecnologia Industrial com os governos do Japão, França e Rep. Federal da Alemanha;
P – Prêmios e Comendas: a- Ordem do Rio Branco (Min. das Rel. Exteriores); b – Ordem do Mérito: Min. da Aeronáutica; República Fed. da Alemanha; Univ Fed. de Santa Maria; c – Prêmios: “Marechal Cordeiro de Farias” da ESG; “Casa Grande e Senzala de Interpretação da Cultura Brasileira 1987” da Fund. Joaquim Nabuco; “Personalidade da Tecnologia” do Sind. dos Engenheiros do Est. de SP ; “Mérito Civil” da Liga de Defesa Nacional; “Láurea do Mérito” do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA).
** Pres. do Instituto do Sol, Líder do Grupo do Tório da UFMG, Engenheiro de Furnas, Mestrado em Engenharia Nuclear, em Saclay, França, Subsecretario de Tecnologia Industrial do MIC, Chefe do Departamento de Energias Alternativas do MME.