O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, anunciou nesta terça, pela manhã, que o governo suspende o aumento de impostos sobre combustíveis que sublevou Paris, em uma rebelião comparada ao Maio de 68 e com uma repressão violenta que deixou mais de 130 feridos e houve 400 prisões.
Na segunda e início da terça as mobilizações prosseguiram com mais de 100 escolas fechadas e refinarias bloqueadas já geraram uma escassez e são contabilizados 175 postos em combustível.
Apesar da repressão e das barreiras espalhadas pela capital francesa, são computados 140 mil franceses que participaram dos protestos neste final de semana. No conjunto das manifestações que iniciaram no dia 17 de novembro, o cálculo do próprio Ministério do Interior ultrapassa o meio milhão de participantes.
O anúncio da suspensão vem depois de uma reunião emergencial na segunda-feira e contraria afirmações anteriores à reunião do próprio Macron de que manteria a elevação dos impostos.
O aumento destes impostos sobre os combustíveis, vem junto com a queda no poder aquisitivo dos franceses e o abandono de subsídios e estímulos a setores inteiros da economia, como o dos agricultores, além de cortes em programas sociais, educação, aposentadorias e serviços públicos, o que levou os atos a exigirem a renúncia de Macron.
Os Gilles Jaunes, Coletes Amarelos, como são denominados os organizadores e manifestantes contra a elevação dos impostos, mobilizaram a simpatia de 2 em cada 3 franceses, segundo informa o jornal Le Monde. A popularidade de Macron – que pretextou a aumento dos impostos com a desculpa de apoio aos esforços contra a mudança climática – continua despencando e ele conta apenas com 23% de apoio a seu governo.
Os franceses, ao contrário, através de manifesto que ultrapassa um milhão de assinaturas, exigem redução dos preços dos combustíveis.
A SUBLEVAÇÃO
Paris ficou coberta de fumaça negra, de focos de incêndio, e branca das bombas de gás lacrimogêneo que a polícia lançou na tentativa de parar a sublevação ocorrida na capital francesa no domingo, considerada a mais grave desde o levante de Maio de 1968.
Voltando do encontro do G20, o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou o Arco do Triunfo ainda com funcionários da prefeitura retirando detritos das barricadas, carros carbonizados e estilhaços das bombas lançadas pela polícia ou apagando pichações proclamando “Fora Macron” e “Os Gilles Jaunes triunfarão” (Gilles Jaunes – Coletes Amarcelos – como estão sendo denominados os manifestantes que desde 17 de novembro, tomam as ruas da capital e de milhares de cidades francesas contra o aumento dos combustíveis – que no diesel chegou a 23%, impulsionado por um abrupto aumento de impostos).
Durante todo o dia de domingo, além da avenida Champs Élyseés, a conflagração se estendeu por algumas das ruas mais importantes de Paris.
Desde a prestigiosa casa Opéra até a avenida Foch, onde estão as mais valiosas residências parisienses, passando pela rua de Rivoli, o boulevard Haussmann e a avenida Raymond-Poincaré (que ficou tomada pela fumaça negra por várias viaturas tomadas por fogo que carros de bombeiros lutavam para apagar), muitas quadras de Paris foram teatro de cenas de violentos confrontos durante uma mobilização que trouxe às ruas 75 mil franceses apesar do aparato de mais de 5.000 policiais, revistando e barrando manifestantes em barreiras espalhadas por todo o centro da cidade, o que foi elevando a temperatura em um clima já tenso pela revolta contra as medidas antipopulares do governo.
Viaturas atingidas por pedras e outras viradas e incendiadas, postes derrubados, troncos e galhos de árvores usados para erguer barricadas bloqueando ruas por todo lado, gerando uma situação que o jornal L´Humanité descreveu como “caos”.
Outro exemplo, foi o boulevard de la Madeleine que ficou coberto de paralelepípedos arrancados e teve a vitrine de um dos bancos pichada com dizeres contra Macron.
Bandeiras da França foram erguidas por manifestantes sobre o Arco do Triunfo enquanto por toda a cidade se sentia o cheiro de queimado e se ouvia sirenes de carros de polícia e bombeiros.
Dos poucos carros que atravessavam as ruas da capital, motoristas agitavam seus coletes amarelos (de uso obrigatório para os motoristas franceses) das janelas.
REUNIÃO DE CRISE
Macron convocou reunião de emergência para segunda-feira e, pouco antes da reunião de emergência convocada por Macron, o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, chegou a declarar que o presidente estaria “considerando impor um estado de emergência.”
Macron vacilava, disse estar “aberto ao diálogo” e designou o primeiro-ministro, Édouard Philippe, para conversar com os políticos que apóiam o movimento e líderes dos Coletes Amarelos, mas, em entrevista à rádio Europe 1, Macron declarou: “Não vamos mudar de rumo. Estamos certos disso”, mas agora anuncia o recuo.
Cerca de 10 mil bombas de gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral foram disparadas contra os manifestantes, além de canhões de água.